quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Perfil deixa a adoção mais lenta

Perfil deixa a adoção mais lenta
Casais preferem crianças de até três anos, do sexo feminino e que tenham traços físicos mais parecidos com os deles
Mariana Cerigatto
Adoção: um ato, simplesmente, de amor? Nem sempre. Adotar uma criança não é um processo fácil, ainda mais quando as exigências e preferências por certas características físicas, faixa etária e sexo falam mais alto.

Em Bauru, segundo dados do Fórum da cidade, a média na fila de espera é de 4 anos, mas este tempo pode ser estendido dependendo das exigências dos interessados pela adoção.

Até agosto de 2011, eram 172 casais cadastrados na cidade. Destes 172 futuros pais adotivos, as preferências voltam-se a crianças que tenham, no máximo, até três anos de idade. Apenas 30% aceitam crianças entre 3 a 5 anos e somente 10% querem adotar as que estão na faixa etária de 5 a 7 anos. “Quando se fala em adolescente, então, fica ainda mais difícil”, afirmou a assistente social responsável pela área de adoção do Fórum de Bauru, Sônia Leme.

O desejo em adotar uma menina é também muito maior do que crianças do sexo masculino. Em relação à cor de pele, a maioria, 45%, quer crianças brancas; 35% aceitam pardos e para 20% a cor de pele é indiferente. “Muitos casais optam por não indicar qual cor de pele preferem para serem chamados mais rapidamente”, salienta Sônia. “A futura família que deseja adotar, geralmente, quer uma criança que apresente os mesmos traços físicos dos pais. Contudo, nem sempre isso é possível. É muito difícil um casal branco querer adotar uma criança negra, por exemplo. E grande parte das crianças que vem para nós é parda e negra”, frisa a assistente social.

Segundo Sonia, essa ausência de flexibilidade na hora de escolher a criança dificulta o processo de adoção. “Um casal que apresenta certa flexibilidade na hora de adotar pode conseguir a criança de forma muito mais rápida do que um casal que quer uma criança mais nova, por exemplo”, admite Sônia. “Pelo que observo, alguns pais querem esconder a adoção. Por este motivo, preferem uma criança que tenha uma aparência física, que tenha traços iguais aos deles”, revela.

“Quando você quer ter filhos, não importa o tipo de filho que você terá, o que vai importar é o amor que você dispensará a ele. Filhos podem vir por adoção ou de maneira biológica”, frisou a dentista Ivone Maria de Lima Jaime, que preside o Grupo de Incentivo e Apoio à Adoção da Região de Ourinhos (Giaaro). Ela, inclusive tem uma filha adotiva, Laura, que está prestes a completar 18 anos.


Destituição

A adoção pode se tornar mais lenta ainda quando se esbarra no processo de destituição do poder familiar. “Nem todas as crianças que estão nos abrigos estão prontas para adoção. Geralmente, essas crianças foram vítimas de abandono ou foram retiradas de suas famílias por maus-tratos, por negligência, por abuso sexual ou físico, entre outros motivos”, explica Sônia Leme.

Mesmo nessas situações, as crianças têm direito de serem criadas junto a sua família de origem. Esta é uma medida prevista no próprio Estatuto da Criança e Adolescente (ECA). “Então a Justiça, para atender a este direito, precisa esgotar todas as possibilidades dessa criança ser reinserida em sua família, junto a seu pai e mãe biológicos, ou outros parentes. A adoção é a última possibilidade para esta criança, depois das tentativas de reinserção terem sido esgotadas”, discorre. “Se for o caso de encaminhar para adoção, o juiz vai determinar a destituição do poder familiar para que essa criança ou adolescente seja recebido por famílias substitutas”, alega.

“A Justiça demora para fazer a destituição pois as varas estão acumulando muito serviço, os juizes têm que julgar muitos processo e esta situação é um dos fatores que atrapalha o processo de adoção”, aponta a dentista Ivone Maria de Lima Jaime.

Para Ivone, a demora é algo preocupante, pois a criança fica muito tempo longe de uma família. “As tentativas de reintegração familiar podem demorar muito até que as autoridades percebam que aquela criança não é aceitável mas em sua família de origem. Só que com isso o tempo passa e a criança cresce. E fica no abrigo enquanto isso. A situação é muito triste”, ressalta Ivone.



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Mulher é pega com certidão de
nascimento supostamente falsa


Um caso ocorrido na semana passada deixou intrigada a polícia de Bauru. Uma mulher foi “pega” com uma cópia de certidão de nascimento supostamente falsa. Apesar das investigações estarem em andamento, a dúvida que vem à tona é: seria uma estratégia para “burlar” a fila de adoção?

Na ocasião, que foi alvo de boletim de ocorrência, essa mulher, que tem sua identidade preservada, teria levado um bebê de dois meses no Poupatempo de Bauru, na semana passada, para que se emitisse a primeira via de RG, segundo informou a delegada Flávia Regina dos Santos Ueda, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).

“Ela teria apresentado uma cópia autenticada da certidão de nascimento de um bebê de dois meses. A intenção era pedir a emissão da primeira via do RG. Contudo, na hora em que foram fazer uma pesquisa, verificaram que o documento aparentemente seria falso”, revelou a delegada.

De acordo com ela, o registro do bebê indicado no documento não batia com o que havia sido registrado pelo cartório. “O documento era de Cuiabá (MT) e foi preciso entrar em contato com o cartório de lá”, detalhou.

Logo após a constatação, o Poupatempo teria entrado em contato com o 2º Distrito Policial (DP), que elaborou boletim de ocorrência e encaminhou para a DDM. “Tudo indica que, aparentemente, esta certidão pode ser falsa. Foi instaurado inquérito para apurar a suspeita de uso de documento falso”, alegou a delegada. “A informação extraoficial que temos é de que existiria uma mãe biológica sem condições financeiras e por isso este bebê estaria com esta mulher”, informou Flávia.

A mulher e seu marido, que moram em Bauru, foram procurados pelo Conselho Tutelar, que fez notificações e convocações para que o casal comparecesse na entidade. Porém, ambos não foram localizados. “Como a família não compareceu, foi solicitada investigação no 2º DP e também foi encaminhado ofício para Vara da Infância e Juventude”, disse a conselheira Isabel Dias Moita, que acompanha o caso.

Segundo a DDM, até o final da semana esta mulher deve comparecer na delegacia para prestar depoimentos. “O advogado da família já se apresentou”.

Segundo a delegada, registrar um filho que não seja biológico fora dos procedimentos previstos pelo processo legal de adoção é crime. “Vamos apurar se ela mesma falsificou esta certidão ou se outra pessoa falsificou.”


Não é legal

Ivone Maria de Lima Jaime, que preside o Grupo de Incentivo e Apoio à Adoção da Região de Ourinhos (Giaaro), aponta que tentativas de registrar um filho não-biológico são freqüentes.

“O risco que corre a pessoa que faz uma ‘adoção ilegal’ é muito grande. Não somente de ser descoberta. Corre-se também o risco de deixar esta criança circulando com um documento falso”, enfatiza.

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