terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

ADOÇÃO Esperança de um lar para os mais velhos

ADOÇÃO
Esperança de um lar para os mais velhos
Francisco Dutra
francisco. dutra@ jornaldebrasilia. com. br
Edmar e Katallini hoje têm a casa cheia, com três filhos biológicos e dois adotados
O sonho de ganhar um abraço de pais adotivos começou a se transformar em realidade para muitas crianças mais velhas, que estão à espera de novos lares em abrigos do Distrito Federal.
Há uma década, as adoções tardias, em que os pequenos têm mais de dois anos de vida, mal chegavam a dez a cada ano, pois as famílias só tinham olhos para recém- nascidos. Hoje, números da 1ª Vara da Infância e Juventude do DF (1ª VIJ-DF) apontam para outra trilha. Nos últimos três anos, metade das famílias habilitadas para adoção acolheu meninos e meninas com idade acima de dois anos.
A fase de acolhimento é um passo importante no processo de adoção. Após a apresentação, famílias e crianças passam a viver juntas, em um período de adaptação e avaliação conhecido como estágio de convivência. Em 2009, 46 crianças foram acolhidas. Deste total, 23 eram menores de dois anos e 23 acima dessa idade. No ano seguinte, 42 crianças entraram na fase de acolhimento. Delas, 20 estavam na etapa de adoção tardia.
Na análise do ano passado, 51 crianças foram acolhidas. Neste grupo, 26 tinham mais de dois anos de idade.
“Tem aumentado o número de adoções tardias. Com a diminuição do número de bebês para adoção, a sociedade brasileira vem se abrindo para a possibilidade de acolher crianças maiores”, pontuou a supervisora substituta da Sessão de Colocação em Famílias para Adoção da 1ª VIJ-DF, Miva Campos. De acordo com ela, o exemplo de celebridades e artistas famosos adotando crianças de idade mais avançada e com perfis diferentes dos pais também abre a mente dos candidatos à adoção.
Outro fator foi a mudança da Lei de Adoção, em 2009. Além de mais rigorosa, a nova legislação permitiu que a ideia da adoção tardia fosse melhor trabalhada junto aos pais, principalmente, nos cursos obrigatórios de formação para a habilitação para adoção. Pais que abriram seus horizontes contam suas experiências para desmistificar e desconstruir tabus sobre o tema. “Mas ainda há um interesse muito grande por crianças menores”, frisou Miva.
Levantamento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), no entanto, mostra que a dificuldade continua para crianças e jovens com idade bem mais avançada, entre oito e 17 anos. Apenas 3% dos candidato à adoção aceitaram ou optam por meninos e meninas nesta faixa etária.
Nos últimos três anos, metade das famílias acolheu crianças maiores
Legislação rigorosa
O número de processos de adoção, porém, está em queda no DF. Conforme a VIJ, em 2009 foram abertos 298 processos.
Um ano depois, o número de famílias caiu para 158. A tendência de redução se confirmou em 2011, quando apenas 143 famílias iniciaram a busca por crianças. No primeiro olhar, a tendência é preocupante, considerando que existem 147 crianças cadastradas para adoção. Mas na visão de especialistas da VIJ o número é um sinal do aumento da qualidade no processo de adoção, decorrente das mudanças estabelecidas há três anos pela nova Lei da Adoção.
Para explicar essa matemática peculiar, Miva Campos, da VIJ, argumenta que antes da nova lei o processo de adoção corria sem rédeas firmes. Isso abria espaço para que famílias desestruturadas ou com intenções danosas conseguissem a adoção. Como resultado, os pequenos encontravam e viviam pesadelos fora dos abrigos. Não raras vezes acabavam sendo abandonados pelos pais adotivos.
Acompanhando as famílias formadas após a mudança da Lei de Adoção, Miva observa que o aumento do rigor tem afastado aventureiros e oportunistas.
A nova lei favorece que a adoção de recém-nascidos ocorra em território nacional.
A secretária-executiva da Comissão Distrital Judiciária de Adoção (CDJA), Thaís Botelho, lembra, por outro lado, que a adoção tardia, assim, encontra força nos processos internacionais.
BRAÇOS ABERTOS
Para a fundadora e presidente do Lar da Criança Padre Cícero, Maria da Glória Nascimento, em Taguatinga, quem busca a adoção deve estar de braços abertos para qualquer criança, com qualquer idade e até mesmo para aquelas com problemas de saúde. “Ser pai e mãe independe das condições. Você deixa de amar a família porque as pessoas ficam mais velhas?”, questiona a responsável pelo abrigo para pequenos em vias de adoção. Dona Glorinha lembra que a satisfação de ver a criança superando desafios e crescendo gera uma experiência única para os pais adotivos.
No abrigo, vários bebês aguardam por um novo lar. Até que isso ocorra, são tratados com muito cuidado e carinho pela equipe de Dona Glorinha.
Família abre horizontes Eles tinham três filhos do matrimônio, mas faltava algo. Poderiam ter adotado crianças de colo, mas decidiram abrir os braços para um casal de irmãos que há muito tempo havia abandonado as fraldas. Edmar Cabral e a esposa Katallini Alves foram pela contramão das preferências e preconceitos e encontraram nesta trilha uma família.
Abrindo mão de confortos, eles buscaram deixar a casa cheia com a adoção em 2007. O casal viveu a transição da Lei de Adoção em 2009 e, com isso, aumentou a família com a chegada de Mateus, sete, e Vanessa, dez anos. O processo foi concluído em dezembro do ano passado. “No Natal, nós colocamos a certidão de nascimento deles com nossos nomes na árvore. E foi emocionante”, lembrou Edmar.
Na família, que conta também com Eduarda, 15 anos, Lana, seis anos, e Letícia, três, Katallini se emociona com a forte relação de parceria nascida após a adoção de Mateus e Vanessa. “Tem muito altruísmo e pensamento no próximo”, sorri.

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