quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Confira entrevista com a psicóloga Suzana Sofia Moeller Schettini

Confira entrevista com a psicóloga Suzana Sofia Moeller Schettini
Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR
29/02/2012 | 11h56 | Adoção

Imagem de Ricardo Fernandes/DP/D.A.Press


Filhos são simplesmente filhos, independentemente de como chegaram à família, seja por meios jurídicos ou biológicos. São pessoas que precisam ser adotadas afetivamente. A tese é defendida pela psicóloga Suzana Sofia Moeller Schettini, presidente do Grupo de Estudo e Apoio à Adoção no Recife e ela própria mãe de cinco filhos, sendo três adotados juridicamente e dois biológicos, “mas todos adotados afetivamente”, costuma dizer.

Para Suzana, é preocupante como a sociedade costuma fazer relações entre pessoas adotadas e episódios negativos, principalmente que envolvem violência. Esse comportamento, ela explica, provoca danos graves às milhares de crianças adotadas país afora. “Já pensou como os coleguinhas de escola vão abusar delas, achando que são criminosos pelo fato de não serem filhos biológicos de suas famílias?”, raciocina, referindo-se ao caso do jovem que matou o pai, o bispo Edward Robinson de Barros Cavalcanti, e a mãe, a professora Miriam Nunes Machado.

Por que o termo “filho adotivo” incomoda?
Quando se faz uma associação entre o termo e fatos negativos, o dano é muito grande, principalmente para as crianças. Ao longo do tempo, a sociedade sempre foi muito preconceituosa com relação à adoção. Para entender isso, basta nos colocarmos no lugar das crianças adotivas, que na escola vão ser xingadas pelos coleguinhas, consideradas assassinas em potencial. Quando surge um caso como o da morte do bispo, as famílias olham para nossos filhos como se fossem serial killers.

A repercussão em torno do caso pode atrapalhar adoções futuras?
O fantasma do medo pode assombrar o imaginário dos pretendentes à adoção e os filhos adotivos serão apontados com desconfiança e temor. Entretanto, serão as crianças institucionalizadas que pagarão o ônus maior, pois este cenário apenas contribui para adiar mais e mais as suas oportunidades de nova inserção familiar.

O que a senhora sugere em substituição ao termo?
Filho é filho. Simplesmente isso. Por que quando há casos de crimes praticados por filhos biológicos não usam o termo filho biológico, só usam filho adotivo? Por que não perguntam se o primeiro lugar no vestibular da Universidade Federal de Pernambuco é filho adotivo? Há mais de 20 anos, grupos de adoção do país inteiro trabalham o preconceito em relação à adoção, por uma nova cultura.

Algo mudou no cenário de adoção no país?
O movimento nacional trabalha por uma nova cultura de adoção, livre de preconceitos e discriminações e pelo direito de toda a criança a ter uma família. Os esforços conjuntos convergem para uma mudança de paradigmas na adoção: ao invés de se procurarem crianças para famílias que não podem tê-las, se devem procurar famílias para crianças que já existem. Temos cerca de cinco mil crianças institucionalizadas que precisam de uma família e não a conseguem por se encontrarem fora do perfil desejado pela maioria dos pretendentes à adoção: não são bebês nem brancos nem meninas nem saudáveis. Como disse Einstein, é mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito.

Na sua opinião, por que as pessoas ainda insistem nessa preferência de perfil?
É como se as pessoas pensassem que não dá para mudar mais a pessoa quando já está crescida. Os candidatos a pais precisam ter paciência e flexibilidade, além de amor para dar à criança o tempo necessário dela fazer a transferência para outra realidade. Ela precisa aprender uma cultura familiar nova, reaprender um mundo novo. Além disso, todos os filhos da gente precisam ser adotados afetivamente. A família verdadeira é aquela que adota amorosamente suas crianças.

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