segunda-feira, 23 de novembro de 2015

LUÍS, JARL E A FILHA PERDEM DIREITO A SER FAMÍLIA QUANDO ENTRAM EM PORTUGAL (reprodução)

20.11.2015
Por Lusa
Luís é casado com Jarl, vivem na Bélgica e têm uma filha, mas quando atravessam as fronteiras e entram em Portugal a criança perde um pai e perde direitos, uma situação que a família considera absurda e hipócrita.
Hoje o Parlamento discute uma série de projetos de lei com vista a acabar com a proibição de adoção por casais do mesmo sexo, mas esta é uma discussão que Luís acompanha à distância, afirmando-se "feliz" por viver num país onde esse passo já foi dado.
Luís Amorim, português, e Jarl Mattsson, sueco, vivem em Bruxelas, estão juntos há mais de 18 anos e são pais, por adoção, de Georgina, com 10 anos, desde que a menina tinha dois meses.
Uma realidade que, no entanto, se altera de cada vez que a família vem a Portugal, já que o Estado português não reconhece a adoção conjunta por casais homossexuais.
"A ironia é que ao passar a fronteira da Bélgica para França tudo bem, continuamos uma família. Da França para Espanha, tudo bem. Quando passamos a fronteira de Espanha para Portugal deixamos de ser uma família legal e a minha filha não tem nenhum estatuto", disse Luís Amorim à Lusa, acrescentando que isso mesmo lhe foi explicado pelas autoridades consulares portuguesas na Bélgica.
Lembrou, a propósito, um episódio em que foi necessário irem com a filha à urgência de um hospital em Portugal e o marido de Luís optou por não entrar, para "não levantar nenhuma celeuma", o que Luís considera ter sido uma forma de autocensura para "evitar situações de risco".
"Isto é absurdo porque significa, nomeadamente no âmbito da União Europeia, que nós temos uma situação, que eu acho que é dramática, de crianças que, dependendo da sua residência legal, estão mais ou menos protegidas", apontou.
Acrescentou que o mesmo acontece com as famílias, já que dependendo do país de residência, há famílias de casais do mesmo sexo que são reconhecidas legalmente e têm iguais direitos e outras que existem apenas na prática.
"É mais fácil, hoje em dia, passar a fronteira e ter o estatuto legal reconhecido para um frigorífico do que é para uma família e isto com consequências sobretudo para as crianças", criticou.
Apontou que uma coisa que o angustia é quando ouve falar no superior interesse das crianças e sublinhou que o interesse das crianças é estarem com quem as ama e cuida deles.
Para Luís Amorim, "as crianças não se importam nada se os pais são dois homens ou duas mulheres" porque aquilo a que as crianças dão importância é o conteúdo da relação que os adultos estabelecem com elas.
"Estamos a menosprezar completamente o melhor interesse das crianças, que é estarem protegidas devidamente, por questões de ordem ideológica porque há pessoas, há governos, partidos que não querem aceitar que as pessoas homossexuais têm as mesmas capacidades parentais que as pessoas heterossexuais", acusou.
Uma realidade que leva este português de 45 anos a dizer que Portugal vive numa "enorme hipocrisia", já que muitas destas crianças vivem com duas mães ou dois pais apesar de só um deles ser reconhecido legalmente.
"É uma enorme incoerência, uma enorme hipocrisia e sobretudo uma grande falta de respeito pelas crianças porque elas são as que, no fim do dia, saem prejudicadas", apontou.



Reproduzido por: Lucas H.

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