CRIANÇA DE 5 ANOS ESTÁ ENTRE DUAS MÃES
16/07/2012
Joyce de 26 anos está longe, na casa de parentes, no ABCD e não quer entregar o filho a mãe biológica
Evandro Enoshita
O que você seria capaz de fazer para proteger seu filho? Há mais de um mês, a promotora de vendas Joyce Souto Luiz Martins, 26 anos, está abrigada na casa de parentes no ABCD, bem longe do seu lar na cidade de Suzano. Ela quer evitar que o seu filho de criação, de cinco anos, seja levado para o Paraná pela mãe biológica.
INÍCIO
A história teve início na cidade de Terra Rica (PR), localizada a 556 quilômetros de Curitiba. O menino, N.E.R.P., foi fruto de um relacionamento amoroso de um primo do marido de Joyce. “A mãe não queria a criança. Quem criava era a bisavó paterna. Foi então que eu e meu marido conversamos com a mãe e conseguimos a guarda provisória do menino. Ele tinha um ano e nove meses de idade”, disse.
A partir daí, foram três anos de convivência feliz. Joyce mostrou diversos álbuns de fotos. Imagens das festas de aniversário, viagens e vários momentos em família. Tudo até setembro do ano passado.
“Foi quando a mãe veio à São Paulo para buscar o menino. Ele foi só com a roupa do corpo. O quarto dele ficou do jeito que ele deixou”.
Foi um momento difícil, mas Joyce até se conformou com a decisão. Afinal, era a mãe biológica da criança que se mostrava interessada em cuidar do filho. E havia ainda a promessa de poder visitá-lo de tempos em tempos. Mas não foi bem assim. Demorou oito meses para que Joyce e N. voltassem a se ver.
AGRESSÕES
Nesse meio tempo, Joyce recebeu o contato de uma tia da mãe da criança. Ela disse que o menino fora agredido diversas vezes pela mãe. Inclusive mandou um e-mail com fotos das marcas.
Nas imagens, hematomas nos braços e costas. No rosto de N., um olho roxo. “Me disseram que o Conselho Tutelar já tinha recebido várias denúncias de maus tratos”.
Em maio, Joyce e o marido decidiram então viajar ao Paraná. Com autorização do pai da criança, trouxeram o menino de volta para São Paulo.
FUGA
No último dia 8 de junho, porém, a mãe biológica bateu no portão da casa. Acompanhada de uma conselheira tutelar de Suzano, pedia que Joyce entregasse N..
“Me disseram que o conselho estava do meu lado, mas que o menino teria que ir para um abrigo, até que ficasse decidida com quem ficaria a guarda definitiva da criança”.
Mas Joyce não entregou o menino. Grávida de oito meses, desde aquele dia ela não dorme mais em casa. Enquanto isso, ela busca na Justiça bloquear as tentativas da mãe biológica de recuperar N..
“Eles só podem levá-lo se eu for notificada oficialmente sobre a busca e apreensão”, afirma.
Hoje, a promotora de vendas sonha em conseguir a adoção de N.. “Tudo o que eu puder fazer, eu vou fazer. Eu acho que se ele for embora, vai acontecer coisa pior com ele”.
“Ele me conta tantas coisas ruins, me pergunta por que eu demorei tanto tempo para buscar ele, repete que não quer ir embora. Diz que tem dois pais, mas que a mãe sou só eu”, completa Joyce, às lágrimas.
MEDO
“O conselho tutelar de Curitiba disse para eu entregar o N., pois vai haver acompanhamento. Mas não consigo confiar”
Joyce Martins - 26 anos - mãe de criação de N.
DESPREZO
“Ele me fala que a mãe biológica dele não é a mãe de verdade”
Joyce Martins - 26 anos - mãe de criação de N.
‘Nunca abri mão do meu filho’
Mãe biológica de N. diz que relação com o filho é boa e nega agressões físicas
Mãe biológica de N., a dona de casa Katiane Melissa Pereira Ramires, 22 anos, diz que nunca quis abrir mão da guarda do filho.
“A Justiça é que foi muito lenta. Na época que dei a guarda provisória porque era muito nova, não tinha condições de me manter. Eles me ofereceram uma ajuda, e eu concordei”, disse.
Hoje, Katiane está casada. Vive em Curitiba, e tem um filho de três anos. Diz que hoje tem condições de cuidar do menino.
Questionada a respeito das denúncias de agressão a N., a mãe conta que teria sido uma vingança de pessoas que não estariam interessadas em vê-la recuperar a guarda do menino.
“As fotos das marcas nas costas e nos braços foram montagens. A com o machucado no rosto foi o resultado de uma briga dele com o irmão”, justifica.
Já em relação à denúncia de Joyce de que ela teria impedido o encontro dela com N., Katiane afirma que a decisão foi para evitar uma ligação afetiva maior com a mãe de criação. “Foi uma orientação da psicóloga, para evitar que ele ficasse com mais traumas por casa dessa mudança”, destaca a dona de casa, que disse ter uma boa relação com N.. “É uma criança muito carinhosa”.
Presidente da Fundação Criança de São Bernardo e vice-presidente da Comissão Especial da Criança, Adolescente e do Idoso da OAB, Ariel de Castro Alves, destaca que, nesses casos, a vontade da criança deve ser levada em consideração.
“Casos como esse não são incomuns, e a decisão judicial não costuma demorar. A decisão sobre a guarda definitiva vai levar em consideração vários aspectos. Serão realizadas entrevistas com as partes interessadas, e o menino também será ouvido nesse sentido. Caso a mãe de criação tenha informações de que a criança sofreu agressões, ela deve demonstrar isso durante o processo judicial”, explica.
FRASES
Para Katiane, fotos de agressões foram montagem para prejudicá-la
Segundo especialista, Justiça irá levar em consideração vontade da criança
Conselho Tutelar confirma denúncias de agressão
Conselheira tutelar do Conselho Boa Vista, de Curitiba, Cecília Mayeves confirma que o órgão recebeu denúncias de suspeitas de agressão física contra N.
“A escola pediu para que fosse feita a apuração desse caso. Na ocasião, chamamos a mãe da criança, que informou que andava muito nervosa, que enfrentava dificuldades emocionais. Disse que o filho mais novo havia mordido o mais velho, o que motivou as marcas”, disse.
Segundo Cecília, após esse depoimento, a família teria sido encaminhada para sessões terapêuticas. “Explicamos que não era batendo em uma criança que se dava educação, e ela aceitou o encaminhamento”.
Katiane confirma que houve essa reunião com o conselho tutelar, mas diz que não foi atrás da terapia, pois N. teria sido levado para São Paulo pouco tempo após a reunião no conselho tutelar.
Após denúncias, mãe e criança teriam sido encaminhadas para um psicólogo
http://diariosp.com.br/noticia/detalhe/27793/
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