quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Pretendentes à adoção recebem orientação (Reprodução)


“A mão que balança o berço, governa o mundo”. Este provérbio inglês, que remete à importância do cuidado e da educação nos primeiros passos de uma criança, fez parte do encontro com os 80 pretendentes habilitados à adoção cadastrados pelo Poder Judiciário do Pará. Realizada pela Coordenadoria Estadual da Infância e Juventude (Ceij) e pela Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional do Pará do Tribunal de Justiça do Pará (TJPA), a atividade teve o objetivo de orientar os futuros pais e mães adotivos sobre a convivência familiar.

Atenta às falas dos palestrantes e com o caderno à mão, a professora Janete Sales disse que o encontro foi necessário para esclarecer algumas dúvidas. “Nós, que somos pretendentes, precisamos ficar atentos para poder adotar uma criança. Não é somente querer, determinando, por exemplo, cor dos olhos, cor da pele, mas estar de coração aberto, cheio de amor para acolher a criança”, observou Janete.

O professor universitário Márcio Raiol compartilhou com os pretendentes a experiência de pai adotivo de três crianças, nas idades de oito, seis e cinco anos, sendo que dois são irmão. Raiol ressaltou que a parte central do processo de adoção não é quem está adotando e, sim, a criança ou o adolescente disponível.

“São crianças com direito a ter uma família e os pretendentes se pré-dispõem a garantir esse direito. Nesse processo, é preciso manter coração aberto para perceber que cada criança é uma criança, cada uma tem a sua história e cada uma tem a sua demanda. Se o pretendente vai em busca dessa criança com uma ideia pré-determinada, com preconceito, conceito prévio, há um impedimento de olhar o que realmente as crianças são e, no fundo, você acaba se impedindo de ter o contato com uma pessoa maravilhosa”, explicou.

Marcio Raiol ressaltou que o pretendente, quando se dispõe a ter uma criança adotiva, restringe a sua possibilidade de felicidade ao criar um perfil específico para a adoção. “Quando o pretendente estiver de frente com a criança, é preciso que haja a reflexão, que ouça e que veja a mesma como um sujeito. Não jogue em cima dela a tua expectativa. Você tem vários conceitos de criança e acaba cobrando ou esperando o que não têm para dar. A criança tem a história de vida dela. É mais fácil você, enquanto adulto, entender a demanda da criança e não jogar em cima dela uma carga de cobrança. Se isso for pensado durante o processo, por experiência própria, fica mais leve e você efetivamente tem uma felicidade imensa”, afirmou o professor.

Desenvolver o sentimento do amor foi a mensagem que o desembargador José Maria Teixeira do Rosário, que atuou na Vara da Infância e Juventude por vários anos e, atualmente, à frente da Ceij, quis despertar nos pretendentes habilitados à adoção.

“Essas crianças precisam bastante de afeto e precisamos fortalecer essas relações humanas de afetividade entre elas e os pretendentes. As crianças e os adolescentes precisam do calor humano. Esse é o segredo da vida”, disse o magistrado. A vice-coordenadora da Ceij, juíza Daniele de Cássia Silveira Buhrnheim, realizou a abertura e o encerramento do encontro, destacando o papel importante que os candidatos habilitados possuem a partir de agora.

Espaço de acolhimento não é a família

Para que os pretendentes pudessem compreender um pouco sobre o cotidiano de crianças e adolescentes acolhidos, a assistente social do Espaço de Acolhimento Infantil de Ananindeua, Ana Miranda Cardoso, e o pedagogo do Espaço de Acolhimento Girassol de Marituba, Lucas Barros Corrêa, contaram como as atividades são desenvolvidas nos espaços.

Ana Miranda trabalha com crianças que chegaram ao espaço por meio de decisão judicial por medida de proteção. “São crianças que tiveram a sua infância violada em algum direitos, como maus tratos, negligência, abandono, vários tipos de violência”, completou. O perfil de acolhidos no espaço é de 7 a 12 anos. Alguns com a possibilidade de retorno à família de origem e outros disponíveis à adoção, no entanto, segundo Ana, esta faixa etária ainda é um entrave, “porque ainda temos uma cultura de querer adotar crianças pequenas de três para baixo. Geralmente, as crianças com mais idade vão encontrar dificuldade na adoção”, afirmou.

Ana ressaltou a importância de crianças constituírem uma família, condição que o espaço de acolhimento não proporciona de fato a elas. “Embora tenhamos falando de toda a organização do espaço no dia a dia das crianças, ir à escola, prática de lazer, esporte, médico, tudo isso a instituição promove, porque é seu dever, acessando a cidadania e seus direitos. Ao mesmo tempo que tudo isso é garantido, outras a instituição não consegue, que é dar conta de ser família. Tentamos colocar essas crianças em um ambiente mais próximo familiar, de convivência de uma rotina com pessoas próximas de uma família, mas ainda somos figuras transitórias na vida delas, somos figuras que podemos estar hoje, mas amanhã não. A ideia é promover a ideia de família com os pretendentes”, destacou a assistente social.

O pedagogo Lucas Barros Corrêa, do Espaço Girassol, contou que a casa abriga crianças e adolescentes na faixa etária de 6 a 17 anos, com o objetivo de protegê-los, de acordo com o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA). A prioridade diária da casa é fazer com que as famílias possam ter famílias.

Contato antes da adoção

No dia 2 de dezembro, os pretendentes poderão ter contato com as crianças e os adolescentes candidatos à adoção durante uma manhã recreativa. Fabíola Brandão, psicóloga da Ceij, e Ildilene Leal, da 1ª Vara da Infância e Juventude, passaram as orientações aos habilitados no processo de como será realizada a atividade festiva entre eles.

“Os pretendentes poderão ter um pouco dessa noção de quem são os candidatos, com um olhar mais sensível, mais humano. É uma criança que tem um histórico de violação, por isso ela foi para uma medida protetiva e que anseia por um lar saudável, com pessoas que possam tocar e sentir afeto e carinho, coisas que a instituição (de acolhimento) melhor possa oferecer ou ser, nunca substituirá as figuras materna e paterna”, constatou o pedagogo Lucas Corrêa.

Titular da 1ª Vara da Infância e Juventude de Belém, o juiz João Augusto de Oliveira Junior frisou aos pretendentes que não é uma família que procura uma criança, mas é a criança que está atrás de uma família. “Esta frase é o resumo do direito da convivência, porque não é uma família que tem direito a um filho. A Constituição (Federal de 1988) diz que a criança e o adolescente têm prioridade absoluta, têm direito subjetivo, direito fundamental à convivência familiar e comunitária. A partir deste momento, todo o pretendente à adoção não deve estar pretendendo ter uma criança para a sua família e, sim, garantir aquele direito fundamental de ter uma família, sua pretensão à adoção em si não é completar a sua família, mas dar o complemento do direito daquela criança em ter uma família”, explicou.

Com o provérbio inglês “A mão que balança o berço, governa o mundo”, a professara Lilia Iêda Chaves Cavalcante, do Programa de Pós-graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento da Universidade Federal do Pará (UFPA), ressaltou aos pretendentes à adoção a importância da convivência familiar e comunitário para o desenvolvimento infanto-juvenil.

“Como candidatos à adoção, eles estão pretendendo adotar crianças e embalar o berço dessas crianças. Quem cuida, quem embala o berço, também precisa ser atendido, apoiado nesta iniciativa e orientado como fazer isso da melhor maneira para a criança, que sejam resguardos os interesses delas, inclusive ser respeitada com a sua história, com as necessidades especiais em função da história de vulnerabilidade”, finalizou.


Fonte: Coordenadoria de Imprensa
Texto: Will Montenegro
        

Reproduzido por: Lucas H.

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