Abrigos na Capital acolhem adolescentes grávidas ou abandonadas

31/03/2012 07:44
Abrigos na Capital acolhem adolescentes grávidas ou abandonadas


Evelin Araujo

Nem só de carinho e atenção sobrevivem as crianças e adolescentes atendidas pela organização mundial “Meninas dos Olhos de Deus”, em Campo Grande. Desde dezembro, a Prefeitura Municipal auxilia com o custeio de 60% das duas casas do projeto, mas segundo o pastor Silvano Sena, responsável pela entidade na Capital, falta desde fraldas até uma van para o transporte médico e lazer das meninas atendidas.

A organização trabalha com duas casas de abrigo, uma para meninas vítimas de violência sexual e outra para adolescentes grávidas que não têm condições financeiras de custear uma criança, nem equilíbrio familiar para manter um bebê dentro de casa.

“Os abrigos têm o funcionamento de uma casa normal, de família. As meninas quando chegam não respeitam a gente, não possuem regras. Aqui nos recomeçamos do zero educando-as e dando um sentido novo pra a vida delas”, explica a coordenadora da casa das meninas, Zuleica Marques.

Violentadas na maior parte das vezes dentro da própria casa, pelos pais ou parentes próximos, a Justiça determina que essas crianças sejam retiradas do lar. Na casa abrigo, existem atualmente doze meninas entre 4 e 17 anos que sofreram violência. A mais velha é deficiente mental.

Carentes de atenção, as meninas sorridentes não carregam marcas visíveis da violência e, ao chegar na casa, é perceptível o esforço, a cada segundo, por uma vida normal. Elas conversam e riem entre si, estendem roupas e fazem tarefas. A equipe de reportagem chegou um pouco antes da hora das meninas irem para a escola.

“Todas elas estudam no mesmo local. Como sofreram violência, a casa é mantida em um lugar sigiloso e elas vão para o colégio sob supervisão e voltam também amparadas. Todo um trabalho de ressocialização é feito junto com a escola para que elas tenham rotina e vida saudável”, conta Zuleica.

Das doze meninas, quatro não têm mais condições de voltar para casa. “São casos extremos nos quais as mães acreditam que foram traídas pelas próprias filhas com o marido agressor e não as querem mais em casa”. Meninas de 12, 13, 14 e 17 anos precisam de um novo lar. “Mas, para elas, tudo é mais difícil. Nesta idade é complicado encontrar uma família que queira adotá-las, provavelmente vão ficar aqui até os 18 anos”, lamenta Zuleica.

Na casa de abrigo das adolescentes grávidas, meninas entre 14 e 16 anos moram com seus bebês ou a espera deles. A.M., de 14 anos, vai se casar na primeira semana de abril. Mais antiga na casa, a garota mora há sete meses no lugar. “Não vejo a hora de ter a oportunidade de sair e cuidar da minha vida, com o pai da minha filha”, conta feliz.

A.M. está com a mãe presa, o pai não tem como cuidar dela e do neto, a avó é alcoólatra e o irmão mais novo, com 12 anos, é dependente químico. O noivo dela, de 21 anos, sofreu um acidente na semana passada e quebrou os dentes da frente. “Ele está horrível, não vou casar assim”, brinca a menina.

O pastor Silvano conseguiu um tratamento dentário gratuito para o rapaz poder se casar. “Parece muito, mas é bem pouco para quem precisa de tanto. O que estiver ao nosso alcance fazer para abençoar este novo casal nós faremos”, comenta.

“É uma lição para a gente. Eu cheguei na casa e a minha vida não tinha regras, eu não tinha valores. Agora dou valor a atenção que eles têm comigo, sei a dificuldade que é pra gente poder levar nosso filho para o médico, falta carro, falta dinheiro. Para quem acha que ter filho é brincar de boneca, está muito enganado. Se eu pudesse, faria tudo diferente”, lamenta a mãe de L.V., de três meses de vida.

Na casa, as quatro meninas se revezam para lavar fraldas, cuidar das crianças e ainda encontram tempo para conversar. “Estou há seis meses aqui e tive todo o apoio que precisei para ter o meu bebê”, conta a nova mãe, M.S., de 14 anos, que teve seu bebê há dois dias.

Ela explica que teve muito medo no início, mas agora sabe das responsabilidades de ser mãe. “Ele acorda muito à noite, o leite não para de sair do meu seio e ele chora muito. Estou machucada de tanto dar leite para ele. De dia ele me dá descanso e dorme. À noite começa tudo e novo”.

Orgulhosa, ela conta que a mãe dela a visitou durante a semana. “Minha mãe já veio conhecer o neto e trouxe um monte de coisas pra gente. Daqui pra frente não sei como vai ser, mas conto com o apoio da casa para ver o meu filho crescer”, explica M.S.

Serviço

O Ministério “Meninas dos Olhos de Deus” recebe todos os tipos de doações. Para ajudar, é preciso entrar em contato pelos telefones (67) 3043 1410 ou no (67) 9252 2879, contato do Pastor Silvano.

A organização tem origem no Nepal e tem mais de 14 casas de abrigo no Brasil. O sonho da organização é montar uma casa para os meninos vítimas de violência em Campo Grande até o final de 2012.
Amparim Lakatos

Outra necessidade das casas é um novo carro para transportar as meninas e crianças para consultas médicas e passeios, uma das maiores dificuldades da organização.