domingo, 13 de agosto de 2017

Pai adotivo escreve livro sobre a criação dos filhos: 'Muda a vida da gente' (Reprodução)

13/08/2017

Quando decidiu adotar uma criança, o analista de sistemas Nilson Ayala Queiroz justificou à assistente social. "Eu quero adotar porque existe tanta criança nesse mundo que precisa de alguém, que precisa ajuda". Ao ouvir, ela lhe respondeu: "É linda essa tua atitude. Mas o que essas crianças querem é um pai".

Nos últimos cinco anos, Nilson tornou-se pai, e a mulher, a arquiteta Karine Queiroz, tornou-se mãe, de dois meninos. Dois irmãos, que foram adotados juntos.

"O que muda mesmo pra valer a vida é ser pai ou ser mãe. Seja adotivo ou biológico. Isso sim é uma mudança total na vida da gente", afirma ele ao G1.

Para os dois, foi como "pegar o bonde andando", como diz oditado popular. Os meninos Wesley e Iuri já tinham 4 e 7 anos, respectivamente. Não houve fraldas, chupetas e mamadeiras, por exemplo. Mas houve outras histórias, como quando o caçula teve coragem para pedalar sem as rodinhas da bicicleta.

"Ele me contou que todas às vezes que andava, imaginava que a minha mão estava ali, segurando. E aí ele conseguiu andar", comenta o pai, emocionado.

Esse e outros episódios simbólicos do processo, Nilson reuniu em textos, que foram publicados no livro "Pais de Coração". "Quando comecei a escrever, a ideia era deixar para os meus filhos um pouco da história deles. Da história da nossa família", conta.

Mas mais do que eternizar a memória do encontro, a obra é uma forma de encorajar outras famílias a adotar e contribuir com a causa. Estima-se que, no Rio Grande do Sul, atualmente há 608 crianças e adolescentes à espera, contra 5.423 adultos habilitados para adoção.

"Eu não quero ganhar dinheiro nenhum com isso. Todo o valor da venda do livro vai para projetos e para as casas que acolhem esses meninos e meninas", afirma ele. Cada exemplar é vendido por R$ 35.

Por mais de uma década, ele e a mulher tentaram engravidar. "Eu sempre quis ser mãe. Desde pequena eu brincava de boneca, nanava as bonecas achando que eram filhos", lembra Karine.

"Quando nos mudamos para uma casa maior, eu comecei a tentar engravidar sem o conhecimento dele", ri ela.

O casal tentou até inseminação artificial. "A gente ficou super feliz. Nem esperamos três meses e chamamos toda a família, os amigos, no trabalho eu estourei uma garrafa champanhe", recorda ele. "Logo depois a Karine perdeu e aquilo foi uma tristeza enorme. Nós quase nos separamos, inclusive, mas não porque não existisse amor, mas porque ficou meio que vazio, uma tristeza", diz.

Eles decidiram se registrar no Cadastro Nacional da Adoção. A opção era por uma criança de até dois anos - perfil preferido de adoção no Brasil. A procura prioritária ainda é por meninos ou meninas de 0 a 3 anos, saudáveis e sem irmãos.

Antes que a fila andasse, porém, o destino se encarregou de encurtar o caminho. "Eu fui fazer um trabalho voluntário em um abrigo. Eles precisavam reformar o banheiro dos bebês e eu, como arquiteta, me dispus a fazer o projeto e conseguir toda a parte de materiais e mão de obra", conta.
"Lá eu conheci várias crianças e os meninos. E nunca imaginei que já me apaixonaria por duas crianças grandinhas. Eu olhei os dois sentadinhos no sofá e me apaixonei por eles e senti algo como: o que meus filhos estão fazendo aqui?", completa ela.
O pai, porém, não esperava dois filhos grandes. E de uma vez só.

"Ela me chamou: 'Amor, acho que encontrei nosso filho. Vamos lá conhecer os dois manos'. E eu: 'Dois irmãos?'. Aquela cabeça masculina, do cara de informática, de quanto vai custar isso, de como vai ser", comenta. "Quando saímos de carro dali, eu disse pra ela que os dois iam lá pra casa".

Como os irmãos já eram maiores, a relação precisou ser construída aos poucos. Hoje o Iuri, ou melhor, o Preto, tem 12 anos. E o Wesley, o Batatinha, está com 9.

"Um dia um deles me disse: 'Tu não é meu pai'. Aquilo me doeu na hora. E eu disse: 'Eu não sou teu pai sanguíneo, mas eu sou teu pai de coração, eu tenho muito amor por ti e quero que a nossa relação dê certo'. Não muda de um dia para o outro, é no dia-a-dia conversando, conquistando mesmo", explica.

Como adotar



Para adotar uma criança, é preciso cumprir uma série de exigências. O primeiro passo ir à Vara da Infância mais próxima e se inscrever como candidato. A idade mínima para se habilitar é 18 anos, independentemente do estado civil, desde que seja respeitada a diferença de 16 anos entre quem deseja adotar e a criança a ser acolhida.

Os documentos necessários são identidade, CPF, certidão de casamento ou nascimento, comprovante de residência, comprovante de rendimentos ou declaração equivalente, atestado ou declaração médica de sanidade física e mental, certidões cível e criminal.

Após dar entrada e ter o pedido aprovado, o nome será habilitado a constar dos cadastros local e nacional de pretendentes à adoção.

É feita uma análise da documentação e são realizadas entrevistas com uma equipe técnica formada por psicólogos e assistentes sociais. Durante a entrevista técnica, o pretendente descreverá o perfil da criança desejada.

É possível escolher o sexo, a faixa etária, o estado de saúde, os irmãos etc. Quando a criança tem irmãos, a lei prevê que o grupo não seja separado.

Com o certificado de habilitação em mãos, o pedido é oficialmente acolhido e o nome será inserido nos cadastros, válidos por dois anos em território nacional. Agora, basta esperar que apareça uma criança com o perfil compatível com o fixado pelo pretendente.


Reproduzido por: Lucas H.

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