quinta-feira, 27 de setembro de 2012

ATITUDE ADOTIVA



(Im)Possibilidades
Publicado em 27.09.2012, às 08h18


Por Guilherme Lima Moura
“Benditas sejam as mulheres por cujos ventres meus filhos chegaram ao mundo!” É com esse pensamento emocionado que eu me acordo nos dias mais especiais da minha vida: os aniversários dos meus filhos, os dias dos pais e das mães.

Não fosse a coragem daquelas mulheres, mesmo nos seus contextos de tantas adversidades, e certamente meus meninos e minhas meninas não estariam vivos. Chego a me arrepiar ante tal cogitação. Como poderia eu ser o que sou sem que ao meu lado estivessem os amores da minha vida?! Seríamos, minha esposa e eu, tão somente um casal. Graças aos meus filhos, somos mais: somos uma família. Graças também àquelas mulheres.

Uma das mais belas aprendizagens que temos vivido na nossa história com a adoção é a de compreender as impossibilidades das mulheres que doaram as crianças que gestaram. É essa verdade, inclusive, que temos sempre narrado aos nossos filhos. Dizemos a eles: “A mulher que lhe teve na barriga não pôde ser sua mãe”.

E por que podemos afirmar que isso é uma verdade? Simplesmente porque, sejam quais forem as circunstâncias, será sempre certo considerar que o tornar-se mãe não lhes foi possível. A falta das condições materiais, da saúde física ou emocional, da própria vida ou da capacidade de amar são todas impossibilidades. Até a crueldade e o abandono são impossibilidades. Impossibilidades de amar. Portanto, impossibilidades de tornar-se mãe.

É assim que, como não podemos dar senão aquilo de que somos portadores, algumas genitoras não se tornam mães porque não podem. Ir além disso, ou seja, apreciar suas motivações, é correr o risco de falar do que não vivemos; é nos apropriar do que não nos pertence.

É um equívoco supor que demonizar as mães biológicas tornar-nos-á mais amados por nossos filhos. Ao contrário, é preciso também adotá-las no simbolismo que constitui uma biografia que não é apenas deles. Somos todos, afinal, parte de uma mesma história.

Mães biológicas são mulheres que, diante de tantas impossibilidades, tinham no aborto uma possibilidade. São mulheres que, mesmo ante uma maternidade impossível, escolheram gestar os filhos de outrem e, ao fazê-lo, criaram um mundo de possibilidades. Possibilidades que se convertem em felicidade real todos os dias.

Entre o possível e o impossível, mães biológicas são mulheres que escolheram permitir a existência não apenas de vidas, mas de pais, mães e filhos. De famílias como a minha e como tantas outras. Escolheram permitir a existência de uma felicidade que se desdobra na esteira do tempo e, desse modo, multiplica ao infinito as possibilidades para tantos e tantos.

Naqueles meus dias mais especiais, penso que minha felicidade é fruto das impossibilidades daquelas mulheres. E também de suas possibilidades. De suas escolhas. Penso que, embora o amor tenha no abandono o seu contrário, quando a vida vence a morte até mesmo o abandono pode ser a possibilidade do amor.

*As colunas assinadas não refletem, necessariamente, a opinião do NE10
http://ne10.uol.com.br/coluna/atitude-adotiva/noticia/2012/09/27/impossibilidades-370342.php


Nenhum comentário: