Publicado em 04/09/2012 | Toni Reis, David Harrad e
Alyson Harrad Reis
Somos uma família curitibana, paranaense e brasileira. Somos uma família homoparental e adotiva. Na opinião unânime do Supremo Tribunal Federal, a união homoafetiva é, sim, uma entidade familiar e tem os mesmos direitos que um casal heterossexual que vive em união estável.
Ganhamos o direito de adotar. Para isso, tivemos de passar por todas as instâncias do sistema jurídico, num processo que levou sete anos. Adotamos por decisão consciente, seguindo todos os trâmites legais e de avaliação psicológica e socioeconômica previstos na lei. Não adotamos “à brasileira”, embora não tenham faltado oportunidades. Estamos bem. Como em toda família, surgem alguns desentendimentos. Para resolvê-los, discutimos e chegamos a consensos. Convivemos harmonicamente.
Ninguém perdeu nada com isso. Perde-se, talvez, com os preconceitos, mal-entendidos e incapacidade de raciocínio de quem parece ainda estar na Idade Média e provavelmente ainda acredite que a Terra é quadrada. O mundo mudou. Como afirmou o juiz em sua sentença: “A sociedade atual tem concebido novas formas parentais, quebrando paradigmas antigos que reconheciam apenas na união entre homem e mulher a composição legítima da família”. Posição esta corroborada por Zambrano et al.: “Colocar a família como uma entidade única e constante no tempo pode ser mais um préjulgamento (...) do que uma realidade.”
Reportagem do jornal O Globo analisou os dados do Censo Demográfico de 2010 e apontou para a diversidade nos arranjos familiares: 66,2% são famílias “nucleares” (definidas como um casal com ou sem filhos, ou uma mulher ou um homem com filhos); 19% são estendidas (mesmo arranjo anterior, mas inclui convivência com parente(s)); 2,5% são compostas (inclui convivência com quem não é parente) e os demais 12,3% são pessoas que moram sozinhas. Assim, ao refletir sobre o que é família, há de se pensar além da família tradicional. Este conceito tem sido utilizado repetidamente na história brasileira como argumento contra as evoluções que ocorrem na sociedade. Por exemplo, em 1891, quando da proposta de uma emenda constitucional sobre o direito das mulheres ao voto, alguns congressistas consideraram-na “anárquica”. Entre seus argumentos estava o “perigo de dissolução da família”. O sufrágio das mulheres não levou ao fim da família tradicional. Também não serão a união homoafetiva e a adoção de crianças por casais ou solteiros homossexuais que acabarão com ela.
Perversão é ter ainda crianças vivendo na rua ou nos sinais de trânsito pedindo esmola. Perversão é utilizar-se dos meios de comunicação para aviltar e incentivar o ódio, a discriminação e a violência contra pessoas que estão buscando a felicidade.
Nas palavras do nosso filho Alyson, “a nossa vida é um oceano; estão querendo fazer dela um aquário”. Para chegar aonde chegamos, superamos muitas situações de discriminação. Superaremos também eventual bullying e homofobia na escola e na sociedade.
Respeito é bom e todos nós gostamos. Se a pessoa não gosta de gay ou lésbica, que procure alguém do sexo oposto. É o seu livre arbítrio. Quem desdenha quer comprar. Num caso desses, é recomendável recorrer a um bom apoio psicológico para refletir sobre a possibilidade da homofobia internalizada.
Não queremos nem pretendemos destruir a família de ninguém. Queremos construir a nossa família da nossa forma. Como disse o escritor uruguaio Mário Benedetti, “sejamos felizes mesmo sem permissão”.
Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), e David Harrad são pais adotivos de Alyson Harrad Reis.
http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=1293667&tit=Familia-mesmo-amor-mesmos-direitos
Somos uma família curitibana, paranaense e brasileira. Somos uma família homoparental e adotiva. Na opinião unânime do Supremo Tribunal Federal, a união homoafetiva é, sim, uma entidade familiar e tem os mesmos direitos que um casal heterossexual que vive em união estável.
Ganhamos o direito de adotar. Para isso, tivemos de passar por todas as instâncias do sistema jurídico, num processo que levou sete anos. Adotamos por decisão consciente, seguindo todos os trâmites legais e de avaliação psicológica e socioeconômica previstos na lei. Não adotamos “à brasileira”, embora não tenham faltado oportunidades. Estamos bem. Como em toda família, surgem alguns desentendimentos. Para resolvê-los, discutimos e chegamos a consensos. Convivemos harmonicamente.
Ninguém perdeu nada com isso. Perde-se, talvez, com os preconceitos, mal-entendidos e incapacidade de raciocínio de quem parece ainda estar na Idade Média e provavelmente ainda acredite que a Terra é quadrada. O mundo mudou. Como afirmou o juiz em sua sentença: “A sociedade atual tem concebido novas formas parentais, quebrando paradigmas antigos que reconheciam apenas na união entre homem e mulher a composição legítima da família”. Posição esta corroborada por Zambrano et al.: “Colocar a família como uma entidade única e constante no tempo pode ser mais um préjulgamento (...) do que uma realidade.”
Reportagem do jornal O Globo analisou os dados do Censo Demográfico de 2010 e apontou para a diversidade nos arranjos familiares: 66,2% são famílias “nucleares” (definidas como um casal com ou sem filhos, ou uma mulher ou um homem com filhos); 19% são estendidas (mesmo arranjo anterior, mas inclui convivência com parente(s)); 2,5% são compostas (inclui convivência com quem não é parente) e os demais 12,3% são pessoas que moram sozinhas. Assim, ao refletir sobre o que é família, há de se pensar além da família tradicional. Este conceito tem sido utilizado repetidamente na história brasileira como argumento contra as evoluções que ocorrem na sociedade. Por exemplo, em 1891, quando da proposta de uma emenda constitucional sobre o direito das mulheres ao voto, alguns congressistas consideraram-na “anárquica”. Entre seus argumentos estava o “perigo de dissolução da família”. O sufrágio das mulheres não levou ao fim da família tradicional. Também não serão a união homoafetiva e a adoção de crianças por casais ou solteiros homossexuais que acabarão com ela.
Perversão é ter ainda crianças vivendo na rua ou nos sinais de trânsito pedindo esmola. Perversão é utilizar-se dos meios de comunicação para aviltar e incentivar o ódio, a discriminação e a violência contra pessoas que estão buscando a felicidade.
Nas palavras do nosso filho Alyson, “a nossa vida é um oceano; estão querendo fazer dela um aquário”. Para chegar aonde chegamos, superamos muitas situações de discriminação. Superaremos também eventual bullying e homofobia na escola e na sociedade.
Respeito é bom e todos nós gostamos. Se a pessoa não gosta de gay ou lésbica, que procure alguém do sexo oposto. É o seu livre arbítrio. Quem desdenha quer comprar. Num caso desses, é recomendável recorrer a um bom apoio psicológico para refletir sobre a possibilidade da homofobia internalizada.
Não queremos nem pretendemos destruir a família de ninguém. Queremos construir a nossa família da nossa forma. Como disse o escritor uruguaio Mário Benedetti, “sejamos felizes mesmo sem permissão”.
Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), e David Harrad são pais adotivos de Alyson Harrad Reis.
http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=1293667&tit=Familia-mesmo-amor-mesmos-direitos
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