segunda-feira, 15 de maio de 2017

Filhos do coração: Adoção é prova de amor sem barreiras em Queimados (Reprodução)

11 de maio de 2017

Leandro Machado - Rio. Cinco irmãos e duas famílias diferentes. Todos do mesmo sangue, mas com pais e mães distintos. O que parece aparentemente difícil de explicar, se torna compreensível quando descobrimos o sentimento que os unem: o amor. Joice (12), Thiago (8), Davi (6), Jéssica (4) e Bruno (2) tiveram um passado marcado pela dor da violência e do abandono vividos debaixo do mesmo teto, mas, felizmente, hoje desfrutam de paz e alegria, mesmo em casas distantes. E o caminho para essa mudança de vida foi a adoção. Desta forma eles encontraram pessoas dispostas a oferecer o carinho negado pelos pais biológicos.  E o próximo domingo (14) será ainda mais especial para eles, pois, pela primeira vez depois desta nova realidade, o Dia das Mães será comemorado com todos juntos, com um grande almoço de confraternização para celebrar esta nova fase.

Na comemoração, os irmãos estarão juntos mais uma vez ao lado de seus novos pais. Jéssica e Thiago, com a doméstica Ana Paula Ribeiro e autônomo Milton César Mendes, e Joice, Davi e Bruno, estarão nos braços do casal homoafetivo Dinha (32) e Jaqueline Amorim (42). A justiça já concedeu a adoção provisória para as duas famílias e, brevemente, seus nomes irão constar como verdadeiros pais, inclusive na certidão de nascimento das crianças.

A realidade de hoje se contrasta com o pesadelo vivido há pouco tempo. Entre brincadeiras e sorrisos, em meio a uma refeição e outra, as crianças frequentemente recebem apoio psicológico para tentar amenizar as marcas de uma vida muito sofrida. Antes, morando em uma casa com condições insalubres, os irmãos estavam doentes e desnutridos. O Conselho Tutelar de Queimados chegou a receber diversas denúncias que relatavam agressões do pai, quando ele estava sob efeito de drogas ou de álcool. Após a Pastoral da Criança e do Adolescente e os vizinhos da família denunciaram toda situação difícil enfrentada pelas crianças, e a justiça comprovar a veracidade das acusações, o casal perdeu a guarda dos filhos. 

E foi que, a partir daí, a vida começou a ter novas perspectivas para os cinco irmãos. Ao chegarem ao Abrigo Municipal de Queimados, administrado pela Prefeitura, por meio Secretaria Municipal de Assistência Social, as crianças receberam todo tipo de auxílio assistencial e encontraram o carinho que nunca tinham experimentado. Após se esgotarem todas as tentativas de reintegração dos irmãos à família de origem (pai e mãe) e também à extensiva (avós, tios, primos ou quaisquer pessoas com relação afetiva com as crianças) a justiça colocou as crianças livres para adoção. “Eles chegaram aqui numa situação muito complicada. Toda a equipe se mobilizou para prestar atendimento a eles. Felizmente deu tudo certo e é isso que nos motiva diariamente”, disse a coordenadora do Abrigo, Júlia Pessoa.

Tudo começou a mudar na vida das crianças quando Ana Paula e Milton César decidiram se habilitar para a adoção. Depois de 18 anos de casamento, eles tentaram diversos métodos para possibilitar a gravidez, mas não tiveram sucesso. Ela foi incentivada por uma amiga de trabalho a conhecer o processo em uma palestra e, desde então, decidiu entrar na fila de adoção. Quando começou a frequentar o abrigo, o casal se apaixonou por Jéssica e Thiago. “Quando pensei em adotar uma criança foi por amor. E este sentimento fez que na hora eu decidisse ter dois filhos, que eram irmãos de sangue. A vontade era adotar os cinco, mas, infelizmente, não dava”, disse Ana.

Dinha Amorim tinha outro relacionamento homoafetivo e  adotar um filho sempre fez parte dos seus planos. Com a antiga esposa decidiu entrar no processo de adoção e nas visitas constantes ao abrigo municipal, elas conheceram Joice, Davi e Bruno e foi amor à primeira vista. Após passarem por todos os trâmites para conseguirem a adoção definitiva, o casal ganhou a guarda provisória em março de 2015, mas pouco tempo depois o destino quase frustrou os planos de construir uma família.

“Estávamos muito felizes, pois fomos o primeiro casal homoafetivo a conseguir adotar crianças em Queimados, mas minha companheira faleceu sete meses após a adoção provisória e foi um momento difícil para todos nós.A dificuldade em criar os irmãos sozinhos seria muito grande e neste momento surgiu um anjo”, disse Dinha.

O destino fez a função de unir o que parecia o fim da família e a volta das crianças para a fila da adoção. Neste tempo, Jaqueline já tinha dois filhos biológicos de um antigo casamento e estava em uma relação homoafetiva e seu desejo de ter mais filhos era grande. Sua companheira não queria e isso gerava um desgaste muito grande na relação do casal. Após muita discussão e até agressão, elas resolveram se separar. “Quando vi que ela não aceitava participar do processo de adoção, percebi que realmente não era a pessoa certa para estar ao meu lado”, destacou Jaqueline.

Sozinha, sem casa e sem nenhum conhecido em Queimados, Jaqueline só tinha uma amiga na cidade: Neia. As duas passavam por momentos difíceis e uma começava a dar forças para a outra, até surgir um sentimento diferente. A ideia das crianças saírem de casa causava muita tristeza e, após muita conversa, o amor às crianças uniu as amigas e as duas resolveram formar uma só família: “Foi interessante, pois eu havia acabado de me separar e ela de ficar viúva, mas nós já amávamos as crianças. Resolvemos então unir o útil ao agradável. Estamos juntos hoje e somos muitos felizes”, disse Jaqueline.

Famílias distintas, mas convívio é permanente

Atualmente as crianças vivem em casas diferentes, mas o convívio entre eles é muito bom. A justiça determinou que os irmãos tivessem um relacionamento e isso uniu as duas famílias. Hoje, eles fazem todo tipo de programa de lazer juntos. Ir à praia, ao shopping, visitar uns aos outros. Atividades normais que todas as famílias fazem normalmente. A nova rotina mudou a vida das crianças para melhor. A Diretora de Proteção Especial, Maria das Dores Lima (Dorinha), acompanhou de perto o caso e destaca a sensibilidade das duas famílias em prol do bem-estar das crianças: “São partes diferentes, sem afinidade alguma no início e resolveram dar as mãos para o bem dos irmãos. Eles tiveram a consciência que o amor é maior que as fronteiras. Nesta história há quebras de preconceitos e paradigmas em nome da felicidade”, disse.

O amor ao próximo não tem tamanho e nem fronteiras. As duas participavam de um grupo de adoção em uma rede social e viram em Minas Gerais uma menina de 13 anos que estava disponível para adoção. Após muitas conversas com a nova família, todos foram favoráveis a chegada de um novo membro e, hoje, a menina Josiele também já é parte da família Amorim. “Um amor que não tem tamanho. Adotar é amar, é ter filhos de verdade, mesmo não tendo nascidos de seu ventre”, ressaltou Jaqueline.

Trabalho diferenciado

Atualmente o abrigo municipal tem apenas três crianças já em processo de convivência familiar para a adoção. O local representa muitas vezes refúgio para os pequenos em estado de vulnerabilidade. Existem casos de abandono, violência, estupro, entre outros crimes cometidos contra crianças e adolescentes.  Para mudar o rumo destas vidas marcadas pela dor e pelo medo, o abrigo realiza um trabalho especial que conta com acompanhamento médico, psicológico e direito à educação e à saúde. Lá, as vítimas encontram muito mais que apenas um lar. Elas recebem carinho, apoio e uma nova perspectiva de futuro melhor.

O trabalho realizado pela equipe é diferenciado. A comunicação direta e a boa relação com o juizado da criança e do adolescente fazem o trabalho ser mais eficaz e rápido. Na maioria das vezes, a burocracia é o fator principal para que o processo de adoção se arraste por muito tempo. “Em Queimados todos os órgãos competentes estão em sintonia. Aqui nós visamos o bem-estar das crianças e os resultados têm sido excelentes”, disse o secretário municipal de Assistência Social, Elton Teixeira.

O abrigo conta com assistentes sociais, psicóloga, pedagoga, cuidadores, auxiliares de cuidador, cozinheiras, auxiliares de enfermagem, motorista e vigias, além do administrativo.

O trabalho da secretaria de Assistência Social não termina quando a adoção é concretizada. Equipes do CREAS (Centro de Referência Especializado em Assistência Social) acompanham as crianças e as famílias durante os seis primeiros meses da adoção ou enquanto houver necessidade. Após, a família é encaminhada para o serviço de atenção básica como o CRAS (Centro de Referência em Assistência Social), por exemplo.


Reproduzido por: Lucas H.

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