quinta-feira, 23 de outubro de 2014

JUIZ SURPREENDE CASAL GAY AO AUTORIZAR ADOÇÃO DE MENINO DE 10 ANOS


23/10/2014
Elverson Cardozo


“Hoje eu acordei, fiz café da manhã, levei ele para fazer atividade física.... Ele me chama de tio ainda. Entendo que ele precisa desse tempo para sentir que sou o pai dele, mas quando alguém pergunta o que ele é do Gil, ele fala: 'sou filho'. Até ele me chamar de pai vai demorar um pouco, mas ele sabe que o amor é de pai”.
O relato é do educador físico Gil Alessandro Xavier, morador de Campo Grande, que se tornou pai esta semana, aos 31 anos, ao lado do marido, o administrador Rogério Souza Sarat, da mesma idade. O casal está junto desde 2006.
O filho em questão é um garoto de 10 anos, fruto de uma adoção concedida pelo juiz da 2ª Vara Civil Criminal, da Infância e Juventude de Sidrolândia, Fernando Moreira Freitas da Silva. A decisão, inédita no município, que fica a 71 quilômetros da Capital, foi proferida, em uma leitura emocionada, ao final de um curso de adoção realizado pelo Fórum da cidade na segunda (20) e na terça-feira (21).
No último dia, Gil e Rogério foram convidados para dar depoimentos já que, semanas antes, os dois haviam participado da mesma ação e saíram bastante satisfeitos, com uma nova visão acerca do assunto, especialmente sobre adoção tardia. O que eles não sabiam é que, desta vez, deixaram o Fórum como pais.
“Fui crente de que daria só o depoimento para estimular outros casais, só que, ao final do discurso, o juiz chamou eu e o meu companheiro no palco para dizer que estava entregando a guarda e que a gente poderia passar no abrigo e voltar com ele para casa”, conta.
Foi um sonho realizado e uma verdadeira surpresa porque o processo, pelo menos para eles, foi super-rápido. Demorou cerca de duas semanas. Gil e Rogério caíram no choro e, claro, emocionaram a plateia.
Nem Fernando Moreira, o juiz, conseguiu segurar as lágrimas. “Não teve como. Nós, juízes da infância, fazemos um trabalho muito mais braçal que intelectual, que é de correr atrás, buscar, ficar na torcida, na expectativa. Então, quando aparece uma situação dessa, que era um problema que eu esperava resolver, mas não agora, só depois de muitas tentativas, a gente fica realmente emocionado”.
Ele fala em problema porque a situação, de fato, era um problema, e dos grandes. Na fila da adoção, o garoto, com 10 anos, era considerado uma “criança idosa”. Desde o início do ano, Fernando estava procurando casais interessados, mas nenhum quis adotar o menino. A grande maioria prefere os “novinhos”.
De repente, o juiz se deparou com o pedido de Gil e Rogério, que queriam ser pais, não importava a idade e nem o sexo do futuro filho. Foi aí que ele decidiu fazer a surpresa e conceder, de forma pública, a adoção aos dois.
Hoje, a criança, afirma Gil, está feliz e fazendo a felicidade da casa. Tem uma lar para chamar de seu e pais que o amam. A relação de afeto é uma novidade para ele porque o passado, ao lado da família biológica, foi um terror.
“Ele é o último em um grupo de quatro irmãos. Foi vítima de negligência. Foi abandonado pela mãe e pelo pai, que são usuários de drogas. Foi morar com a vó, mas ela não quis mais ele depois de um certo tempo. Desde então, ele estava em um abrigo”, conta o juiz.
Em Sidrolândia, a decisão é inédita, porque nunca ocorreu algo assim na cidade, mas isso, pontua o magistrado, sinaliza uma mudança positiva em todo o país.
“Atualmente o judiciário tem se mostrado, quebrado tabus e preconceitos. O próprio Supremo [Tribunal Federal] dizia que não era possível casamento de pessoas do mesmo sexo e, de repente, mudou o pensamento. Todas as consequências disso vão sendo possibilitadas”, argumenta. “O amor é a chave. […] O que nos une é o amor”, finaliza.
Os novos papais, Gil e Rogério, tem certeza disso. “Quando foi perguntado se ele se importava em ter dois pais, ele falou: posso ter dois, três... O que quero é ser amado. Eu posso, e o Rogério também, dar amor para essa criança e fazer ela feliz”, declara o educador físico.
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