Terça - 18 de Novembro de 2014
Por Denise Paciornick
A adoção traz muitas responsabilidades para aqueles que optam por esta atitude. Vale lembrar que adotar é para sempre e vem com todos os direitos e deveres que os filhos legítimos têm.
Tomar a decisão de adotar ou não uma criança traz diferentes dúvidas e questionamentos ao casal. O principal motivo por optar pela adoção é quando existe a dificuldade de gerar os próprios filhos. Entretanto, é importante sempre lembrar que este ato deve ser realizado por meios legais, a partir dos deveres e responsabilidades morais.
Os motivos que levam os indivíduos a adotarem uma criança devem ser bem analisados, especialmente porque eles serão avaliados durante o processo. No Brasil, a adoção leva, em média, um ano para ser concretizada. Em alguns casos, pode levar um tempo maior, dependendo das exigências feitas na hora de preencher o cadastro, como por exemplo, crianças recém-nascidas, o sexo, a cor da pele e a saúde.
Depois de tomada a decisão, para dar início ao processo de adoção, é preciso ir à Vara de Infância e Juventude da sua cidade para saber quais os documentos necessários. Independente do estado civil, a idade mínima para adotar é de 18 anos, respeitando sempre a diferença de, no mínimo, 16 anos entre o adotante e a criança. Um advogado ou a defensoria pública deverão fazer uma petição para dar entrada nos papéis.
Passada a parte burocrática e, a partir do momento que o juiz concede a guarda de uma criança para uma pessoa ou para o casal, muitas coisas mudam, é preciso lembrar que em boa parte dos casos, as crianças passaram por problemas emocionais e precisam de muito amor e carinho. Fica a critério dos pais contarem ou não sobre a adoção, em determinado momento da vida.
FILHOS DE CORAÇÃO
Ana* é filha adotiva de uma família de cinco filhos. Os três mais velhos são biológicos. Quando chegou à casa, o irmão mais novo já tinha 12 anos. Desde muito nova, ela sempre soube de sua adoção. “Minha mãe costumava explicar que três filhos vieram da barriga dela e dois do coração. Lembro-me que até meus cinco anos, eu ainda ficava confusa tentando entender como poderia caber um bebê dentro do coração de alguém e porque eu nunca teria visto alguém gestando um bebê desta maneira. Cabecinha de criança é uma coisa espetacular! Com o tempo, não sei exatamente quando, passei a entender. Minha mãe explicava que os três da barriga, Deus mandou de surpresa, e os outros dois Ele permitiu que minha mãe escolhesse”, recorda.
A recepção dos irmãos de Ana foi a melhor possível. De acordo com ela, todos ficaram felizes com a notícia de sua chegada e a receberam muito bem. “Sou amada por eles desde sempre, e nunca houve entre nós diferença alguma. Meu nome foi escolhido pela minha irmã mais velha”, orgulha-se.
Hoje, Ana tem 35 anos, é casada e tem dois filhos. Na sua visão, antigamente a adoção era um tabu e relembra que era comum ver pessoas adotadas sendo tratadas como empregadas da casa e não como filhos. “Isso não se vê mais atualmente, pelo menos não no ocidente. Acredito que algumas campanhas divulgadas pela mídia e mesmo a postura de algumas celebridades em adotar quebrou um pouco do tabu que, antigamente, existia em relação ao tema. Só espero que as pessoas entendam que adoção não é modinha, mas uma escolha de vida. Assim como é com os filhos biológicos. Até porque, não há diferença entre eles, a não ser pela forma como cada um chegou à família”, destaca.
Ela também comenta que, por ser mãe, entende ainda melhor a dor e a confusão na cabeça de mulheres que, de alguma forma, abrem mão dos filhos. “As pessoas deveriam pensar muito antes de gerarem uma vida. Apoio e respeito mulheres/casais que optam por não terem filhos. Acho digno e honesto. Alguns, principalmente os mais jovens, que não pensam nas consequências e depois abrem mão, independente dos motivos, não imaginam o risco a que estão expondo seus filhos. Eu tive o privilégio de ser amada e cuidada por uma família que é um enorme presente na minha vida, mas quantas não têm a mesma sorte? Converso com meus filhos sobre isso, e muito. Tanto com relação a mim e à minha adoção, como sobre casos diferentes de mim. Eles ainda sonham com o dia em que adotaremos uma menina. Quem sabe? Sempre quis adotar um filho. Não sei se vou de fato, só acredito que ainda não seja o momento”.
A adoção é um ato muito bonito e também de bastante responsabilidade. É preciso planejar com antecedência, bem como se faz antes de gerar uma criança. “Ter um filho é muito mais do que simplesmente ter. É preciso se doar profundamente. Eles não são como rascunhos que podem ser apagados, tudo o que se escreve na vida das crianças, fica marcado para sempre. Ser responsável por criar uma criança, adotada ou biológica, é como fazer parte da construção do futuro. Aquele ser humano que está sob sua responsabilidade não é apenas seu, para seus caprichos e realizações pessoais, ele é para a vida. Vai conviver e se relacionar com o mundo, não apenas com você. Então, a meu ver, é muito mais profundo e sério do que 'fofo', como talvez possa parecer”, analisa Ana.
Quem está passando ou já passou pela situação de descobrir sobre ser adotado, muitas vezes passa por diversos sentimentos, como o de raiva, de questionamento ou simplesmente aceita, sem buscar entender muito os motivos e razões para ser deixado e adotado. “Talvez, o que mais confunda a cabeça de alguém que descobre ser adotivo é, por que nunca me disseram isso antes? Por que me esconderam isso? Enfim, seja como for, cada um tem os seus motivos, e é muito difícil julgar as atitudes e escolhas de outras pessoas. Mas acredito que aquele que descobriu ser adotivo deveria focar no privilégio de ter sido escolhido por uma família, seja ela como for. Com todos os seus defeitos, falhas e fraquezas. Muitas crianças, que hoje já estão na idade adulta, certamente cresceram em abrigos, sem uma família, um sobrenome, e pensam que gostariam muito de ter tido uma mãe, um pai, um irmão, uma tia, mesmo que imperfeitos, como toda família, como todo ser humano. Acho que olhar pelo lado positivo e pensar que por mais que esteja ruim, poderia ter sido pior, ajuda muito a ter gratidão pelo que se tem”, finaliza.
*O nome da personagem foi alterado para preservar sua identidade.
SOBRE O AUTOR: DENISE PACIORNICK
Formada em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Universidade Positivo, iniciou a carreira como redatora em uma agência de publicidade. Em seguida foi assistente de assessoria de imprensa na Lide Multimídia e foi redatora, assessora de imprensa e editora de vídeos da startup Já Entendi. É pos graduanda em Comunicação em Mídias Digitais e possui um blog sobre o tema.
http://revistanovafamilia.com.br/…
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