CORRETOR AJUDA A DESVENDAR MISTÉRIO
26/02/2013
Homem se recorda da época em que menina que procura família passou por entidade antes de ser adotada
Aline Pagnan - aline.pagnan@bomdiajundiai.com.br
O ex-diretor financeiro da Casa Transitória Nossa Senhora Aparecida de
Jundiaí, Nelson Dinazio, 75 anos, se emocionou ao ver as fotos dos
irmãos Raquel e Marcelo, agora com 34 e 35 anos, respectivamente, na
edição de domingo do BOM DIA.
Surdos-mudos, eles moram nos Estados
Unidos - foram adotados quando ainda eram crianças - e se lançaram em
uma campanha para tentar descobrir suas histórias de vida, agora mais
perto de ser revelada.
Um único papel os ligava a Jundiaí e a Casa
Transitória informou não ter documentos da época sobre uma “Raquel de
tal”. Com a ajuda de Dinazio, agora, até o número do processo no Fórum
do encaminhamento deles para o abrigo foi revelado. Ou seja, só uma
pequena barreira burocrática os separam de informações confidenciais.
Pode ser que realizem o sonho de 27 anos por notícias sobre quem
realmente são. “Na hora em que abri o jornal domingo, me veio na cabeça a
pequena Raquel, que era uma criança bastante ativa e alegre, mas com
problemas de comunicação”, conta. “Ela vivia brincando, correndo e a
gente tinha que ter uma atenção maior com ela para não machucar as
outras crianças menores, tamanha era a sua agitação”, prossegue.
Nelson e sua primeira mulher, Maristela Wechesler Dinazio, então
vice-presidente da entidade, cuidaram de Raquel por quase dois anos.
Ela deu entrada na Casa Transitória no dia 17 de junho de 1985 e foi
adotada em 11 de abril de 1987, segundo mostrou no verso de uma foto da
menina. “A Maristela anotava tudo de todas as crianças”, lembrou ele.
Falecida há 14 anos, Maristela era considerada uma mãe por Raquel,
segundo Nelson. “Ela não desgrudava da Maristela. Aos fins de semana
promovíamos visita junto a casais de apoio, onde as crianças passavam o
sábado e o domingo com algumas famílias, e a Raquel sempre ia na nossa
casa.”
Na época, a Casa Transitória ainda funcionava em uma
residência na Ponte São João. “Não havia a sede ainda. A entidade
recebia crianças de 0 a 7 anos, e na época em que foram encontrados, a
Raquel tinha cerca de 7, já o Marcelo eu não me lembro. Como ele é um
ano mais velho do que a irmã, pode ser que tenha ido para outra
entidade, no Caxambu, que ficava com meninos de 8 a 13 anos”.
LEMBRANÇAS
Nelson se lembra de ter acompanhado o processo de adoção dos irmãos.
“Naquela época as famílias estrangeiras vinham para cá e faziam um
cadastro de intenção de adoção. O juiz Carlos Alberto Giarusso Lopes
Santos procurava todas as informações de parentes mesmo que em cidades
distantes antes de ceder a adoção de crianças para qualquer família”,
atesta.
No caso de Raquel e Marcelo, Nelson diz que não houve nenhum
parente à procura de informações sobre os dois por mais de dois anos.
SEGREDO DE JUSTIÇA
O processo está arquivado no Fórum de Jundiaí, mas a reportagem não
pôde ter acesso ontem, porque ele correu em segredo de Justiça. O juiz
da Vara da Infância e Juventude, Jeferson Barbin Torelli, explicou, no
entanto, que os irmãos podem ter acesso aos dados, desde que encarem
alguns trâmites.“Eles precisam procurar o Consulado do Brasil nos
Estados Unidos para outorgar poderes em uma procuração em nome de algum
advogado ou até mesmo uma pessoa física proclamando poderes para esta
pessoa”, ensina.
Com este documento, o representante dos irmãos
poderia pedir o desarquivamento. A reportagem entrou em contato com
eles, por intermédio da ONG Desaparecidos do Brasil, que divulgou a
história deles. Eles adiantaram que vão encarar a burocracia´.
MARCELO LEMBRA DA ESTAÇÃO DE TREM E DE RIO EM SUA INFÂNCIA
Tanto Raquel quanto Marcelo sabiam desde pequenos que eram adotados.
“Eles já tinham idade e têm lembrança de quando foram morar ’longe’, mas
o entendimento dessa mudança na vida deles só veio mais tarde, quando
cresceram e foram alfabetizados na linguagem dos sinais”, explicou
Amanda Boldeke, que foi a primeira a ser contactada pelos irmãos no
Brasil.
Por e-mail ontem, eles informaram as razões de terem
resolvido procurar os pais agora: “É uma necessidade do próprio ser
humano. É uma parte da vida que precisa ser colocada a limpo”.
Amanda informou que Marcelo está mais angustiado para encontrar os pais
biológicos. “A vontade deles é comum a quase 90% dos filhos adotivos.”
Segundo os irmãos, os pais adotivos negam informações, tanto que só
recentemente eles conseguiram o acesso a alguns papéis com avaliação do
psicólogo que os atendeu quando foram adotados.
Um dos objetivos de
Marcelo é poder vir ao Brasil e tentar reconhecer onde ele viveu. “Tenho
olhado o Google Earth e reconheço a estação de trem, com um rio
próximo”, afirmou Marcelo em um dos contatos.
POUCAS INFORMAÇÕES
Após 27 anos morando longe do Brasil, os irmãos Marcelo (rebatizado de
Marcel Lee Paul), 35, e Raquel (Juliann Paul), 34, buscam por
informações de seus pais biológicos. Deficientes auditivos, eles foram
encontrados pela polícia andando sozinhos em Cajamar, em 1985, e
acabaram abrigados na Casa Transitória Nossa Senhora Aparecida de
Jundiaí. Mas essa informação veio ao conhecimento dos irmãos só há
poucas semanas. Eles encontraram um documento no final do ano passado,
datado de 30 de janeiro de 1986, que os identifica como Marcelo e Raquel
“de tal” e com o nome da Casa Transitória. Desde então passaram a
pesquisar dados da cidade e região na busca por algum parente.
Eles não sabem nada de sua origem e escreveram para o site www.desaparecidosdobrasil.org
.
“Nem os nomes verdadeiros eles sabem. Em um outro documento, constam os
nomes de Fábio e Fabiana. Esses podem ser os nomes originais deles, há
muitas dúvidas”, comenta Amanda.
INFORMAÇÕES
Quem tiver mais alguma informação sobre a possível família dos irmãos pode enviar e-mail para contato@desaparecidosdobrasil.org ou ligar para o telefone (48) 8461-8802. Ou pode procurar o jornal através do e-mail jornalismo@bomdiajundiai.com.br ou (11) 4523-3400.
http://www.redebomdia.com.br/noticia/detalhe/45065/Corretor+ajuda+a+desvendar+misterio undefined
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