07/02/2013
Correio Braziliense
THAÍS PARANHOS
Apesar de muitas pessoas inscritas no cadastro nacional ainda
manifestarem preferência por bebês brancos, o DF registra aumento de
famílias interessadas em receber as crianças que antes eram rejeitadas.
Em dois anos, esse percentual quase dobrou
O número de crianças e
adolescentes na fila de adoção é menor do que a quantidade de pessoas
habilitadas pela justiça no Distrito Federal. A matemática é simples
para que todos os meninos e meninas encontrem um lar. Mas essa conta não
fecha porque o perfil dos pequenos nem sempre coincide com o desejo dos
candidatos a pais. A maioria ainda prefere bebês brancos com até 3
anos. Apesar disso, essa realidade começou a mudar nos últimos anos.
Dados da Vara da Infância e da Juventude (VIJ) e do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) apontam que o número de adoção de crianças negras
aumentou, assim como o número de famílias que não têm preferência pela
cor do filho.
No DF há, atualmente, 133 crianças e adolescentes
cadastrados e 416 pessoas habilitadas para adoção. Um terço é de negros e
a maioria, 62%, têm mais de 12 anos. Perfis que vão de encontro ao
buscado pelos candidatos a pais. Mesmo assim, o número de crianças
brancas adotadas caiu de 67,7%, em 2011, para 61% em 2012. Já a
quantidade de meninos e meninas negros que encontraram um lar subiu de
29,2% para 36,8% no mesmo período. Esse crescimento vem sendo observado
desde 2009, mesmo com a pequena queda registrada de 2010 para 2011. Já
os pais, segundo os dados da VIJ, 85% são brancos.
Apesar de o
número de adultos que preferem crianças brancas ou morenas claras ter
crescido de 47,8%, em 2011, para 50% no ano passado, aqueles que optaram
por ter um filho negro também aumentou. Saiu de 7,8%, há dois anos,
para 12,8% em 2012. Desde 2010, o número de famílias que declararam não
ter preferência de cor na hora de adotar uma criança também se destaca.
Em 2012, ficou em 37,2% do total. Mas a supervisora substituta da área
de adoção da VIJ, Niva Maria Vasques Campos, lembra que essa mudança
ainda é sutil. “Os candidatos à adoção buscam uma semelhança física, e
as pessoas que se declaram brancas ainda são maioria. Essa é uma
característica do DF”, explica.
“SABIA QUE SERIA ELA”
Mas
Niva reconhece que o perfil dos filhos pretendidos apresenta mudança ao
longo dos anos. “O curso de preparação dos pais, a adoção de crianças
negras por casais famosos, a dificuldade de encontrar um bebê com
determinadas características e a realidade dos abrigos contribuem para
isso. Quando o vínculo é estabelecido, as diferenças somem”, completa. A
supervisora lembra que quem busca um recém-nascido pode esperar de
quatro a cinco anos. Quando se trata da idade, a situação fica mais
difícil.
A servidora pública Luzimar Costa Rezende, 59 anos,
moradora de Águas Claras, adotou uma garota fora do perfil escolhido
pela maioria das pessoas. Amanda Sophia Costa Rezende, 13, deixou o
abrigo aos 9 para se juntar à família. “Nos inscrevemos no cadastro em
2006 e pedimos uma menina entre 2 e 4 anos. Depois mudamos para 6 a 8. O
processo é muito demorado e, se não fosse assim, não a teria
encontrado”, diz. Ela tem outros quatro filhos, duas mulheres e dois
homens.
Luzimar nunca havia cogitado a possibilidade de adotar uma
criança. Mas o desejo do marido de ter uma filha e os pedidos do caçula
para ganhar uma irmã fizeram a servidora pública pensar no assunto.
“Quando vi a ficha da Amanda, sem conhecê-la, sabia que seria ela. Tem a
mesma data de nascimento do pai, esse foi o sinal que eu buscava”,
completou. Em nenhum momento, passou pela cabeça de Luzimar adotar um
bebê. “Não tínhamos espaço em casa. Sentia que precisava escolher uma
criança mais velha para chegar até a Amanda”, acredita.
https:// conteudoclippingmp.planejamento .gov.br/cadastros/noticias/ 2013/2/7/ cresce-o-numero-de-adocoes-de-n egros
07/02/2013
Correio Braziliense
THAÍS PARANHOS
Apesar de muitas pessoas inscritas no cadastro nacional ainda manifestarem preferência por bebês brancos, o DF registra aumento de famílias interessadas em receber as crianças que antes eram rejeitadas. Em dois anos, esse percentual quase dobrou
O número de crianças e adolescentes na fila de adoção é menor do que a quantidade de pessoas habilitadas pela justiça no Distrito Federal. A matemática é simples para que todos os meninos e meninas encontrem um lar. Mas essa conta não fecha porque o perfil dos pequenos nem sempre coincide com o desejo dos candidatos a pais. A maioria ainda prefere bebês brancos com até 3 anos. Apesar disso, essa realidade começou a mudar nos últimos anos. Dados da Vara da Infância e da Juventude (VIJ) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontam que o número de adoção de crianças negras aumentou, assim como o número de famílias que não têm preferência pela cor do filho.
No DF há, atualmente, 133 crianças e adolescentes cadastrados e 416 pessoas habilitadas para adoção. Um terço é de negros e a maioria, 62%, têm mais de 12 anos. Perfis que vão de encontro ao buscado pelos candidatos a pais. Mesmo assim, o número de crianças brancas adotadas caiu de 67,7%, em 2011, para 61% em 2012. Já a quantidade de meninos e meninas negros que encontraram um lar subiu de 29,2% para 36,8% no mesmo período. Esse crescimento vem sendo observado desde 2009, mesmo com a pequena queda registrada de 2010 para 2011. Já os pais, segundo os dados da VIJ, 85% são brancos.
Apesar de o número de adultos que preferem crianças brancas ou morenas claras ter crescido de 47,8%, em 2011, para 50% no ano passado, aqueles que optaram por ter um filho negro também aumentou. Saiu de 7,8%, há dois anos, para 12,8% em 2012. Desde 2010, o número de famílias que declararam não ter preferência de cor na hora de adotar uma criança também se destaca. Em 2012, ficou em 37,2% do total. Mas a supervisora substituta da área de adoção da VIJ, Niva Maria Vasques Campos, lembra que essa mudança ainda é sutil. “Os candidatos à adoção buscam uma semelhança física, e as pessoas que se declaram brancas ainda são maioria. Essa é uma característica do DF”, explica.
“SABIA QUE SERIA ELA”
Mas Niva reconhece que o perfil dos filhos pretendidos apresenta mudança ao longo dos anos. “O curso de preparação dos pais, a adoção de crianças negras por casais famosos, a dificuldade de encontrar um bebê com determinadas características e a realidade dos abrigos contribuem para isso. Quando o vínculo é estabelecido, as diferenças somem”, completa. A supervisora lembra que quem busca um recém-nascido pode esperar de quatro a cinco anos. Quando se trata da idade, a situação fica mais difícil.
A servidora pública Luzimar Costa Rezende, 59 anos, moradora de Águas Claras, adotou uma garota fora do perfil escolhido pela maioria das pessoas. Amanda Sophia Costa Rezende, 13, deixou o abrigo aos 9 para se juntar à família. “Nos inscrevemos no cadastro em 2006 e pedimos uma menina entre 2 e 4 anos. Depois mudamos para 6 a 8. O processo é muito demorado e, se não fosse assim, não a teria encontrado”, diz. Ela tem outros quatro filhos, duas mulheres e dois homens.
Luzimar nunca havia cogitado a possibilidade de adotar uma criança. Mas o desejo do marido de ter uma filha e os pedidos do caçula para ganhar uma irmã fizeram a servidora pública pensar no assunto. “Quando vi a ficha da Amanda, sem conhecê-la, sabia que seria ela. Tem a mesma data de nascimento do pai, esse foi o sinal que eu buscava”, completou. Em nenhum momento, passou pela cabeça de Luzimar adotar um bebê. “Não tínhamos espaço em casa. Sentia que precisava escolher uma criança mais velha para chegar até a Amanda”, acredita.
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