04/10/2014
Maria Célia Silva Machado, 38, e Luísa Maria Belchior, 43 se acharam em uma rede social
A ansiedade se transformou em lágrimas e a emoção tomou conta num longo abraço. A saudade que dominava os corações das irmãs Maria Célia Silva Machado, 38, e Luísa Maria Belchior, 43, não era só pela distância física. Se passaram 35 anos desde o último olhar, em uma sala de um orfanato na pequena cidade de Lavras do Sul, no interior do Rio Grande do Sul. Adotadas por famílias diferentes, as duas cresceram afastadas sem qualquer notícia uma da outra.
Há cerca de um mês, Luísa, que permaneceu na cidade onde nasceu, encontrou Maria por uma rede social e descobriu que a irmã estava morando em Florianópolis. Começaram a ter longas conversas por telefone, e resolveram marcar o reencontro que aconteceu esta semana.
O ônibus em que Luísa vinha estava previsto para chegar às 5h30min no Terminal Rita Maria, mas atrasou mais de uma hora. A cada minuto de espera e sem notícias, a ansiedade de Maria Célia aumentava. Acompanhada do marido, dos filhos e de uma amiga, a produtora de eventos não conseguia se conter: caminhava de um lado para o outro, olhava o celular para ver se alguma mensagem tinha chegado, pegava a bebê de sete meses no colo.
— Tenho hipertensão e estou há dois dias sem dormir, pois já era para ela ter chegado ontem, mas perdeu os documentos em Santa Maria e teve que ficar um dia lá — explicou.
UM ROSTO FAMILIAR
Na área de desembarque dos passageiros, Maria Célia procurava o rosto da irmã entre cada mulher que saía pela porta. Quando finalmente recebeu da amiga a notícia que já era possível avistar na ponte o ônibus da empresa certa, passou pela área proibida e foi esperar do lado de fora: — Acho que é ela — disse ao ver uma mulher descendo as escadas.
No primeiro olhar as duas se reconheceram. E como se o tempo não tivesse passado, se abraçaram e choraram juntas, mas desta vez de alegria. Enquanto Maria Celia aguardava com expectativa a chegada da irmã de um lado, Luísa relata que foi a viagem mais longa de sua vida:
— Saí de Lavras do Sul faz três dias, e em Santa Maria acabei perdendo minha carteira de identidade e a passagem. Tive que ir até a Polícia Federal para conseguir autorização para viajar, mas finalmente cheguei — disse.
LEMBRANÇAS RUINS DA SEPARAÇÃO
Por problemas familiares — a mãe se prostituía — os quatro filhos foram parar em um orfanato ainda crianças. Do pouco que lembra, Maria (tinha apenas três anos na época) relata momentos tristes: — Naquela época a adoção não era regularizada, então lembro que as famílias iam até lá e nós ficávamos todos enfileirados esperando para ver quem seria escolhido, como se fossemos mercadoria. Lembro que primeiro foi meu irmão, depois uma irmã, até que chegou a minha vez, é só ficou a Luísa no abrigo. A gente sofria muito a cada separação — conta.
MAIS RECORDAÇÕES
Luísa também recorda dos momentos tristes vividos no passado:
— Nós éramos muito unidas. Como eu era um pouco maior, a mana (Maria) usava o meu dedo como chupeta, pois não tinha isso lá. Quando ela foi embora eu fiquei com raiva da senhora que a adotou, pois fiquei sozinha, mas hoje entendo que foi para o bem dela. Ela se tornou uma grande mulher — disse emocionada.
Pouco tempo depois Luísa também foi adotada. Nos 35 anos que passaram separadas, as duas irmãs tiveram vida tranquilas proporcionadas pelas famílias adotivas. As duas estudaram, se casaram e tiveram filhos. Maria Célia viveu em Porto Alegre até se mudar para Florianópolis em 2006. Luísa sabe que os outros irmãos estão bem, e que a mãe biológica hoje vive doente em uma cadeira de rodas com os outros filhos que teve.
O futuro das duas agora vai ser junto. Luísa veio conhecer a cidade e na próxima semana volta para o Rio Grande do Sul para buscar as filhas e se mudar definitivamente para Florianópolis. Com a ajuda do cunhado já conseguiu emprego, escola para as filhas de 15 e 7 anos e uma casa para viver: — Quando ela me chamou para vir para cá, senti que é a hora de ficarmos juntas novamente. Acredito muito em Deus, e que devemos aproveitar as oportunidades que ele nos dá. Agora não nos separamos mais — disse Luísa em meio as lágrimas.
Maria Celia e Luisa se reencontraram após 35 anos separadas - Foto: Betina Humeres / Agencia RBS
http://www.oestemania.net/index-site2.php?pg=desc_noticia&id=12579&nome=Irmas-se-reencontram-35-anos-depois-de-terem-sido-adotadas-por-familias-diferentes
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