quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

PARA PONDERARMOS SOBRE OS ATUAIS ACONTECIMENTOS

Vamos permitir que a história nos condene? Vamos permitir que a história condene as crianças de Monte Santo?

15/07/2010 às 00:00:00 - Atualizado em 14/07/2010 às 21:11:25

Bruno e Bruna

“Esse pateta pôs tudo a perder”, desabafou um dirigente do Flamengo, ao lembrar que só bastava a assinatura para o goleiro Bruno ficar ainda mais rico na Itália. Quando encerrarem esse tétrico Caso Bruno, nos contem o resultado. Faço parte daqueles que não têm mais estômago para engolir os detalhes escabrosos que nos servem nos telejornais do almoço.

Um prato tão cheio para o sensacionalismo quanto o que nos serviram em 1988, com a diferença de que no masculino (Bruno) o caso é sanguinário. No feminino (Bruna) o caso se referia a uma menina de apenas quatro meses levada de Curitiba pelo tráfico internacional de bebês e adotada por uma família israelita.

Se hoje o Caso Bruno é praticamente “exclusivo” da Rede Globo, no Caso Bruna as notícias que paralisavam Curitiba vinham de Tel-Aviv pelas ondas médias e curtas da Bedois, a Rádio Clube Paranaense, na voz do repórter Olavo de Souza. Profundo conhecedor do Caso Bruna, Olavo seguiu para Israel num “esforço de reportagem”. Sem mordomias, com dinheiro contado para o sanduíche, ele passou 43 dias em terra estranha, defendendo-se com o seu precário inglês para reportar o milionário tráfico de bebês para o exterior, quando o governo de Israel reconhecia a existência de duas mil crianças brasileiras em seu território e admitia a média de chegada de 30 por mês, ou uma criança por dia. O Caso Bruna era apenas a ponta levantada do véu que encobria a questão, para a qual o governo brasileiro fechava os olhos, lavava as mãos.

E quem era a “bruxa malvada que levava as criancinhas para fazer mingau?”. Na época até o Esmaga, personagem folclórico da Boca Maldita, contava que a curitibana Arlete Hilu era a grande mãe do tráfico internacional de bebês, tendo sido recebida em Israel como “a cegonha de Tel-Aviv”. Segundo Olavo de Souza, para as mães israelenses que não podiam ter filhos, Arlete Hilu era a salvação do casamento. Mas, no final da triste carreira, ela acabou sendo presa em Israel ao vender uma criança que, de lá, viajou com um casal para os EUA. Esse casal foi detido nos EUA porque a criança não tinha passaporte e tinha sido roubada no Rio de Janeiro.

As “mercadorias” de Arlete Hilu eram disputadíssimas no exterior pela ascendência europeia do Brasil Meridional: crianças com olhos azuis tinham um preço, com olhos verdes outro. Olho castanho, preço já um pouco mais baixo, desvalorizava. Pelos olhos castanhos de Bruna foram pagos US$ 30 mil. Se tivesse olhos azuis, teria custado US$ 50 mil, por aí.

Dois anos depois de Arlete Hilu entregar a “mercadoria” ao casal Simha e Jacob Tourdjamne, o Caso Bruna ganhou o mundo. Em 1988, apoiados por uma equipe da televisão inglesa, os pais bilógicos foram a Israel reclamar a filha. Constatada a documentação irregular, a justiça israelense cumpriu a lei e devolveu Bruna aos pais Rosilda e Luiz Américo.

O retorno da pequena a Curitiba foi comparável à recepção de uma celebridade, quase como se fosse a conquista de um troféu esportivo no exterior. Desfilando na viatura do Corpo de Bombeiros, “chapeuzinho vermelho tinha sido salva do casal de lobos internacionais”.

Bruna, onde está você?

Em 2008, um jornalista de Israel veio ao Brasil saber do destino de Bruna. Descobriu que o pai era alcoólatra; aos 13 anos Bruna engravidou e parou de estudar; a vovó, em vez de amparar a filha e a neta, expulsou as duas de casa; sete anos depois, não tendo mais para onde ir, Bruna, já então com dois filhos, foi morar com os pais numa área muito pobre e o vovô passou a bater nos netos.

Ao jornalista israelense, Bruna reconheu o que muitos já pressentiam no retorno do Chapeuzinho Vermelho : “Infelizmente não pude escolher. Se pudesse, teria ficado em Israel”.

Bruna e Bruno, os meninos do Brasil são.

http://www.parana-online.com.br/colunistas/67/78397/

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