13/12/2012
A Internet modificou o processo de adoção de modo fundamental. Permitiu o reencontro entre adotados e seus pais biológicos, enquanto pais que adotam podem encontrar apoios de vários tipos de famílias em todo o mundo que enfrentam os mesmos problemas que eles.
Contudo, ao mesmo tempo em que a internet vem tornando o processo de adoção mais transparente, ela trouxe riscos. Levou à proliferação de agências fraudulentas de adoção, que em muitos casos se descobre serem pouco mais que sites na internet, e permitiu que pais abusivos cujos filhos foram tirados de sua guarda os reencontrem, ocasionalmente com consequências trágicas.
Esta paisagem em processo de mudança é o tema de um relatório a ser divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto de Adoção Evan B. Donaldson, organização sem fins lucrativos que tem por objetivo mudar as políticas e práticas de adoção.
Fruto de três anos de pesquisas, o relatório constatou que a internet pode ter efeitos tanto positivos quanto negativos sobre o processo de adoção e os milhões de envolvidos.
Como exemplo positivo, o relatório menciona uma mulher que reencontrou sua mãe biológica através do Facebook, depois de ter sido dada para adoção na década de 1940. Em outro caso, uma jovem mãe que queria entregar seu filho para adoção usou a Web para encontrar uma família com a qual ficou mais satisfeita que com os casais que uma agência de adoção lhe tinha proposto.
Os sites de mídia social ajudam a contornar um sistema que dificulta o reencontro entre adotados e seus pais biológicos: leis estaduais que impediram o acesso a registros de nascimento, para proteger as identidades das mães biológicas. Os registros foram fechados ao acesso também porque muitas famílias não queriam que seus filhos soubessem que eram adotivos.
O Instituto Donaldson há muito tempo vem fazendo campanha para que os Estados possibilitem o acesso de adotados aos registros de adoção. Isso poderia não apenas ajudar os adotados a encontrar outros membros de suas famílias biológicas como ser útil por razões médicas.
"A existência de regulamentos que impedem o acesso a registros não tem utilidade hoje, quando praticamente qualquer coisa ou pessoa pode ser encontrada na Web", disse Adam Pertman, diretor executivo do instituto. "Hoje em dia, posso encontrar meu colega de classe da terceira série na internet."
O relatório concluiu que o uso generalizado da internet contorna as proteções legais e procedurais. As agências tradicionais de adoção sempre ofereceram aconselhamento, informações e a triagem das pessoas que querem adotar. Mas muitos dos serviços de adoção baseados na web não apenas não oferecem esses serviços como podem até mesmo não ser legítimos.
Uma agência online de adoção arrancou centenas de milhares de dólares de pessoas que queriam adotar, prometendo organizar adoções no Cazaquistão. A fraude foi descoberta por pais que compartilharam informações, e o diretor da agência foi condenado.
O relatório constatou outros perigos. Sem o conhecimento de suas famílias, algumas crianças adotadas vêm usando o Facebook e outros sites para localizar e entrar em contato com seus pais biológicos. E alguns pais biológicos entraram em contato com seus filhos.
Em um caso, uma garota de 13 anos foi contatada por sua mãe biológica através da internet, e o episódio pegou a família adotiva de surpresa, provocando atritos.
Em outro caso, uma menina de 11 anos foi contatada por seu pai biológico, que tinha abusado dela e sido proibido por um tribunal de manter qualquer contato com ela. Segundo o relatório, depois do contato a menina precisou de psicoterapia.
Linda Spears, a vice-presidente de políticas e assuntos públicos da Liga de Bem-Estar Infantil da América, disse que ainda não viu o relatório, mas que "ele é condizente com conversas que temos tido com pessoas em todo o país".
"A internet pode ser uma ferramenta maravilhosa para ajudar pessoas a entrarem em contato outra vez", ela explicou. "Mas, como qualquer pessoa pode montar um site e dizer que é uma agência de adoção, os candidatos a pais podem ser explorados, e as crianças adotadas podem tornar-se vulneráveis a pais biológicos abusivos que tentam reencontrá-los. As pessoas precisam tomar cuidado."
Tradução de CLARA ALLAIN
http://www.jornalfloripa.com.br/mundo/index1.php?pg=verjornalfloripa&id=26691
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