domingo, 9 de dezembro de 2012

Polêmica das adoções ganha as redes sociais

Mãe adotiva faz manifesto na web contra perda da guarda

07/12/2012 - 08h58 | Felipe Tonon
felipe.tonon@rac.com.br

Foto: César Rodrigues/AAN
César Rodrigues/AAN
Letícia, mãe adotiva da menina de 2 anos e autora da página na web, em protesto em Indaiatuba



A médica Letícia Cristina Fernandes Silva, que detinha a guarda provisória da mais nova das cinco crianças da Bahia que moravam na região — de 2 anos —, criou uma página no Facebook para mostrar como viviam os menores de Monte Santo com as famílias substitutas. Os cinco irmãos foram entregues a quatro famílias de Campinas e Indaiatuba, em junho do ano passado, por decisão da Justiça baiana. Passado um ano e meio, o juiz Luiz Roberto Cappio revisou o processo e determinou o retorno dos menores aos pais biológicos, por causa de irregularidades identificadas no processo. Desde terça-feira, as crianças estão em um abrigo da Capital paulista, onde passam por um processo de readaptação com a mãe biológica.

A página Mães do Coração foi criada em maio deste ano. Segundo Letícia, a medida foi para se defender das acusações de tráfico de crianças que estava sofrendo juntamente com as outras famílias. “Estavam dizendo que roubamos as crianças, que pagamos por nossos filhos, o que não ocorreu. Sofremos muito com essas acusações que não são verdadeiras.”

Nas discussões da página, enquanto algumas pessoas querem que as crianças voltem à família biológica, outras criticam a decisão do juiz Cappio, que revogou as guardas provisórias. Fotos do momento em que as crianças foram entregues pelos pais adotivos estão correndo a internet. Em muitos comentários, as pessoas defendem a permanência dos irmãos em São Paulo. A página também tem ganhado apoio de pessoas que dizem morar em Monte Santo e conhecer a história passada dos irmãos. “Vocês, mães adotivas, que estão devolvendo estas crianças. Eu moro em Monte Santo e quero ajudar vocês a terem seus filho de volta. Sou vizinho da mãe biológica e sei que ela não tem nenhuma condição de criar nem um, quanto mais seis filhos”, disse uma internauta, na página da rede social.

“Sou de Monte Santo e estou aqui para demostrar minha solidariedade para com essas mães que cuidaram dessas crianças como se fossem suas. Nós, montessantenses, sabemos como era vida dessas crianças quando aqui: maus tratos, abandono. Hoje, elas desfrutam de alegria, educação, estabilidade, carinho, amor. Que Justiça é essa, que maquia a verdade? Eu sei que tirar uma criança de um seio de uma mãe, é triste, mas a realidade a qual elas vivam, não era só triste, era horrível, deprimente”, escreveu outro.
Após entregar a filha adotiva na última terça-feira, Letícia fez um desabafo. “Eu vou até o fim para ter a minha filha de volta”, declarou. Ela lançou a campanha “Queremos nossos filhos de volta. Sim às mães do coração” e organiza um protesto no próximo domingo, às 14h, na Lagoa do Taquaral, em Campinas.
Acusações
A advogada Isabella Costa Pinto, do Centro de Defesa à Criança e ao Adolescente (Cedeca) da Bahia, que acompanha a mãe biológica Silvânia Mota da Silva, em São Paulo, rebateu as acusações de que as crianças viviam em situação de risco. “O que posso garantir é que em momento algum no processo existe qualquer documento ou relatório que mostre abandono. O próprio Conselho Tutelar disse que nunca recomendou a retirada das crianças do lar”, afirmou. “Não há nada, desafiamos publicamente a representação judicial das famílias substitutas a apresentarem qualquer documento que comprove o que as crianças tinham”, declarou a advogada.

Segundo Isabella, o Cedeca vai entrar com representação na Justiça contra as famílias que estão divulgando fotos das crianças na internet. “Estão expondo as crianças, que têm o direito de ter sua privacidade resguardada”, defendeu. A defesa das famílias adotivas, no entanto, também acusa o Cedeca de ter revelado dados sigilosos do processo à Rede Globo e ter exposto as casas das famílias adotivas em São Paulo, que passaram a sofrer ameaças.

A advogada das famílias da região de Campinas, Lenora Panzetti, afirmou em entrevistas que pretende acionar a Justiça para saber quem autorizou a divulgação dos autos do processo de guarda provisória das crianças, que estavam sob sigilo. Esta semana, uma equipe que atua na defesa das famílias paulistas foi a Monte Santo para tentar acesso aos autos e entrar com recurso à decisão judicial. A defesa afirma que possui laudos médicos que apontam problemas de saúde nas crianças quando chegaram a São Paulo, e que serão anexados.


http://correio.rac.com.br/_conteudo/2012/12/capa/campinas_e_rmc/15685-polemica-das-adocoes-ganha-as-redes-sociais.html

Nenhum comentário: