quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Retorno das crianças é controverso

População de Monte Santo, na Bahia, se divide ao opinar sobre possível volta dos 5 menores

03/12/2012 - 08h02 | Felipe Tonon
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Foto: Felipe Tonon/AAN.
Felipe Tonon/AAN
Na paca Monte Santo (BA) crianças brincam com jegue nas ruas


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Há dois meses, a cidade de Monte Santo, no sertão baiano, acompanha atenta a história de cinco de seus pequenos moradores retirados dos pais biológicos e entregues a famílias de Indaiatuba e Campinas. Apesar de a Justiça ter admitido irregularidade no processo, e o juiz revisor Luiz Roberto Cappio, que revogou as guardas provisórias dos menores, ter afirmado que os estudos sociais do Conselho Tutelar de Monte Santo “apresentaram descrição sucinta e superficial de elementos sem que houvesse a necessária leitura da realidade social”, o retorno das crianças para a cidade gera polêmica, e é assunto controverso nas rodas de conversa no pacato município.
Sentado em um banco da praça da Matriz, o funcionário público Anicete Francisco da Silva, de 74 anos, afirmou que acompanha o impasse e que, apesar da seca e da pobreza daquele lugar, os irmãos devem retornar para casa. “Monte Santo é uma cidade muito boa para cuidar dos filhos”, fala como quem tem conhecimento de causa: criou cinco. “E naquela época não tinha Bolsa Família”, brincou.


Mas o tema é uma realidade preocupante pelo pacato município. “Aqui muita mulher tem filho porque sabe que vai ganhar dinheiro do governo e não vão precisar trabalhar”, disse o mototaxista Everaldo da Silva Cavalcante, de 35 anos, pai de quatro filhos. “Eu mesmo tenho um filho que a mãe não quer nem saber da criança, mas é ela quem recebe o Bolsa Família todo mês”, criticou.


Em sua decisão, o juiz Cappio afirmou que a condição financeira das famílias que detêm as guardas dos menores não determina a manutenção da guarda.


A comerciante Mariana Silva Santana, de 63 anos, ainda tem dúvidas sobre a melhor opção para o futuro das cinco crianças. “Eu acho que eles têm que voltar, mas, ao mesmo tempo, acredito que têm que ficar lá (Campinas e Indaiatuba) se estiverem sendo bem tratados.”


Porém, alguns moradores de Monte Santo afirmaram conhecer a família das crianças e criticaram o retorno dos pequenos. “Ela (Silvânia) é uma irresponsável, e acho que eles não devem voltar. Para mim, ela fez teatro. O financeiro não é tudo, mas se eles estivessem aqui estariam abandonados. Eu acredito que não será um futuro bom, não pelo fato de ela ser pobre, mas por não cuidar dos filhos”, disse Josy dos Santos, de 28 anos, mãe de uma menina.


A discussão também dividiu pai e filhos. “Na verdade a história não é boa. Tirar cinco crianças do jeito que fizeram não é fácil. Não se faz aquilo nem com animal”, disse o professor de Ensino Fundamental, Joseraldo Tolentino Moreira, de 47 anos. Apesar de não concordar com o episódio, ele acha que as crianças devem ficar em São Paulo.


“Não existe nada no mundo que substitui o amor de um pai e de uma mãe, mas a readaptação à vida aqui vai ser muito difícil. A família não vai dar condições e no futuro vai ser difícil”, avaliou.


Já o filho de Joseraldo, Everton Moreira, de 25 anos, que também é professor, não tem dúvida sobre o destino dos irmãos. “Sangue é sangue.” A opinião diverge do seu irmão, Ediraldo Moreira, de 32 anos. “Não foi à toa que a Justiça pegou as crianças. A gente via os meninos de pé descalço para cima e para baixo.”



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crianças, adoção, Bahia, Monte Santo

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