FILHOS ADOTIVOS, PAIS ADOTADOS?
Muito se pergunta o
que leva certos pais a abandonarem seus filhos, onde está o sentimento dos
mesmos em relação àquele que colocaram no mundo e agora deixaram ao "deus
dará"?
E estas crianças, como ficam frente a si mesmas e ao
mundo? Assunto aparentemente delicado para se abordar, mas que na realidade tem
mais de desconhecimento, pois o constrangimento impede as pessoas de tratá-lo
com a transparência e objetividade que o mesmo precisa.
Muitos acham que adotar uma criança é assumir problemas
desnecessários. Outra afirmação também comum é de que os filhos que são
adotados serão sempre revoltados e não conseguirão se integrar à família que os
recebeu. São generalizações que não procedem. É verdade, sim, que um filho
adotivo carrega dentro de si, por certo tempo, um forte sentimento de rejeição,
pois por qualquer que tenha sido a razão, ele foi afastado, sem opção de
escolha, dos pais biológicos. O que era para ser uma fase natural na vida dessa
criança, pode fixar-se e permanecer por longo tempo de sua existência. Mas, se
os pais o tratarem naturalmente, sem demonstrações de sentimento de pena, esse
estágio será rapidamente superado.
Muitas adoções se devem à impossibilidade do casal ter
seu próprio filho. Nada de mais. Ao contrário, é louvável a iniciativa de
acolherem uma criança. Mas aqui deve existir um cuidado: o casal não pode ter
pena de si mesmo e nem tampouco daquele que acolheram com tanto amor, muito
menos transferirem para ele esse sentimento. Muitos pais em função disso passam
a superproteger o filho e a partir daí, os problemas que surgem não estão
relacionados à adoção, mas sim à forma de educar. Vale também para quando um
superprotege e o outro, para compensar, torna-se super enérgico e cobrador.
Há um cuidado a ser tomado e ao qual poucos ficam
atentos: que a maior parte dos problemas comportamentais não tem origem na
adoção em si, mas sim nos problemas que mesmo pais e filhos não adotivos têm
quando o relacionamento, por alguma razão, não é harmonioso.
A insegurança dos pais quanto a maneira de agir e
proceder diante de certos impasses é extremamente prejudicial à relação
(repito, não só com filhos adotivos), e os jovens então manifestam suas
revoltas das mais variadas formas. A autoestima de um filho adotivo só é prejudicada
quando seus pais mostram-se inseguros, sem saber o que fazer, como agir. Não só
as crianças necessitam de limites e percebem quando eles não existem.
Adolescentes também e principalmente, quando sabem que ultrapassaram um dos
limites e não foram barrados por seus pais, passam a se sentir não merecedores
de atenção e cuidados.
Na década de setenta, um adolescente de quinze anos
entrou em estado catatônico quando ao mostrar sua moto nova para um amiguinho,
ouviu dele que seu pai jamais lhe daria esse tipo de presente, pois não queria
vê-lo morto. O rapaz passou a interpretar o feito do pai, banqueiro abastado,
como falta de amor. Meses se passaram para que falasse uma palavra e trouxesse
o que lhe amargurava o peito. E ele era filho legítimo na descrição da lei.
Digo isso porque existencialmente, a partir do momento que se acolhe alguém em
seu lar para uma longa convivência, o acolhido também é legitimamente vinculado
aos que o recebem.
O sentimento de rejeição de um adotado é superado com
amor e tratamento natural e sem discriminação por parte dos pais. Lidar com
firmeza e energia sempre que necessário, assim como cultivar o relacionamento
com amorosidade é um dever dos pais, que devem agir assim com todos os seus
filhos, independente da origem.
Mas, também é comum identificar filhos adotivos, que
ainda não adotaram seus pais.
A pergunta que se deve fazer a eles é: "Você já
foi adotado como filho por eles há muito tempo. Quanto tempo mais vai levar
para que você os adote como seus pais?". Será que já não passou da hora de
retribuir, com amor, respeito e uma relação harmoniosa pelo tudo que já se
recebeu?
por Paulo Salvio Antolini - pauloantolini@terra.com.br
http://somostodosum.ig.com.br/clube/artigos.asp?id=32485
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