domingo, 4 de novembro de 2012

IDADE É EMPECILHO À ADOÇÃO



Edição de 04/11/2012
Segundo pesquisa, norte é a região que reúne mais crianças na faixa etária preferida por quem quer adotar

A região Norte reúne mais crianças na faixa etária mais procurada entre aqueles que querem adotar no país. A constatação é do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que elaborou pesquisa inédita, na qual detalha o perfil dos pais que desejam adotar e das crianças disponíveis por região brasileira. As regiões Norte e Nordeste concentram proporcionalmente a maior quantidade de crianças com até cinco anos aptas à adoção, a faixa etária requerida por nove em cada dez pretendentes. No Norte 26,5% das crianças inscritas no Cadastro Nacional de Adoção estão nessa faixa de idade e no Nordeste são 16,9%, nas demais regiões esse índice não chega a 10%. A preferência dos inscritos é o principal empecilho à adoção no País, pois somente 9 em cada 100 crianças no cadastro de adoção têm menos de cinco anos.
O total de pessoas inscritas à espera de uma criança no país é de 28.151, um número cinco vezes maior que a totalidade de crianças e adolescentes que aguardam uma família em instituições de acolhimento. Segundo o estudo realizado em agosto deste ano, são 5.281 crianças disponíveis para a adoção no país. O Norte é a região que menos possui adultos no Cadastro Nacional de Adoção, com apenas 2,3%. O Sudeste e Sul juntos concentram 85% dos interessados.
Apesar da pequena fração, o Norte possui a maior proporção de pessoas entre 18 e 39 anos que querem se tornar pais adotivos (38,2%), sendo, proporcionalmente, a região com pretendentes mais jovens. Quando se relaciona o estado civil, o percentual de casados (64,1%) é o menor quando comparado às demais regiões brasileiras. Por outro lado, os pretendentes solteiros (16,1%) e em união estável (15,3%) apresentam os números mais expressivos em relação ao resto do país. No Brasil, as estatísticas mostram que quatro em cada dez inscritos possuem entre 40 e 49 anos e a maior parte deles (79,1%) está casada. Entre os solteiros, divorciados, separados judicialmente e viúvos, as mulheres são a grande maioria (80%).
Além da idade da criança, outro empecilho é a preferência por crianças brancas. Segundo o estudo, os pais que procuram exclusivamente esse perfil racial, em geral, não aceitam crianças que têm mais de três anos. Já os que aceitam unicamente crianças negras, pardas ou indígenas costumam ser mais flexíveis e, em geral, não fazem outros tipos de restrição como idade ou sexo. O Norte é a região com o percentual de pretendentes que mais buscam crianças entre essas raças (58% negros; 55,8% indígenas; e 58,5% pardas), enquanto a média nacional é de aproximadamente 35%. Aqueles que buscam crianças mais velhas, com mais de seis anos, tampouco costumam fazer restrições quanto às demais características do futuro filho.

DEMORA NOS PROCESSOS É ALVO DE CRÍTICA
A presidente da Comissão da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Pará (OAB/PA) e professora de Direito da Universidade Federal do Pará (UFPA), Luana Tomaz, critica a demora durante o processo de adoção das crianças brasileiras. 'O processo ainda é muito burocrático, ainda são muito demorados. Até a destituição do poder familiar ainda há uma grande demora', afirma.
Luana Tomaz explica que há vários estágios na adoção. Segundo ela, a lei nº12.010, de agosto de 2009, conhecida como a Nova Lei de Adoção, melhorou o sistema, com alterações no Estatuto da Criança e do Adolescente, estipulando prazos para os devidos encaminhamentos. Um dos avanços foi a criação do Cadastro Nacional de Adoção, onde constam os dados dos pretendentes e das crianças e adolescentes à espera.
Apesar da lei, a advogada diz que muitas vezes a norma não é cumprida. Dentre os exemplos, há o desrespeito ao prazo de dois anos de permanência para que crianças ou adolescentes em abrigo sejam postos à adoção, e também no tempo máximo, de 48h, para inscrição no Cadastro Nacional de Adoção, após aprovada pelo juizado, tanto para as crianças sem família, quanto para os adultos pretendentes.
'Esse processo demora um pouco, nem todas as crianças que chegam estão aptas, muitas ainda estão nesse processo, porque é preciso entrar em contato com os outros familiares, o que a gente chama de família extensa. E quando vão entrar no cadastro, elas já estão com uma certa idade ou tem irmãos. O que dificulta a adoção', relata.
A professora argumenta que os pretendentes precisam abrir o coração para crianças que não se encaixam no perfil desejado. 'Até se fazer toda a pesquisa para a pessoa entrar no cadastro, exige muita paciência. As pessoas têm que abrir o coração, pensar em outras possibilidades como crianças um pouco mais velhas, crianças que têm irmãos, adolescentes, ou crianças com deficiência. Isso é muito importante', pede.

ESTATÍSTICAS DA ADOÇÃO NO BRASIL
Total de crianças aptas para adoção - 5.281
Total de adultos no Cadastro Nacional de Adoção - 28.151 - Divididos por região Norte: 2,3%; Nordeste: 6,7%; Centro-Oeste: 5,9%; Sul: 36,5% e Sudeste: 48,5%
Perfil do pretendente do Norte: Casados - 64,1%; faixa etária entre 30 e 49 anos 73,7%; não possuem filhos biológicos - 66%
O que os pretendentes do Norte procuram - Querem crianças entre 0 e 5 anos 90,1%; uma menina - 44%; crianças pardas - 85,9%; crianças brancas – 85,6%
Fonte: Conselho Nacional de Justiça (CNJ)

MÃES ADOTIVAS FALAM COM ORGULHO DOS SEUS FILHOS DO CORAÇÃO
O telefone toca da sala da gerente comercial Marta Azevedo, de 45 anos. Ela transparece a afeição e o carinho pelas palavras. 'Pode deixar, meu bem. Eu levo para você quando sair do trabalho. Beijos, tchau', e desliga o telefone. 'Era o meu filho Thiago falando para levar Super Bonder, quando eu voltar para casa', diz Marta que em seguida solta uma risada junto com a sua amiga assistente de marketing Márcia Maneschy, de 47 anos. Marta explica que seus filhos, Thiago com sete anos e Júlia com oito, quebraram uma caneca, que o garoto ganhou e querem consertar.
É possível perceber que as amigas Marta e Márcia têm muito mais coisas em comum do que a profissão, gostos ou hábitos. O que as une acima de tudo é o amor incondicional por seus filhos. Ambas são mães adotivas, e falam com orgulho das crianças. 'Os dois participaram da corridinha do Círio. Olha só como eles estão. A Júlia ganhou pela segunda vez a corridinha na categoria dela. O Thiago vai ganhar na próxima', fala Marta mostrando uma foto com as suas duas crianças juntas. 'Olha essa foto do Gabriel. Se você não disser que ele é adotado, as pessoas não sabem', conta Márcia sobre seu filho Gabriel de cinco anos.
Para Márcia, um dos momentos mais emocionantes de sua vida, foi quando retirou seu filho do abrigo e o segurou pela primeira vez no colo, na época o pequeno Gabriel era um recém-nascido, com apenas dois dias de vida. 'Em menos de 24h você tem um sentimento por aquele pequeno ser que é algo indescritível. Você ali na frente dele é tomada por um amor incondicional. O teu filho está ali', relembra.
As amigas contam as suas experiências e criticam a burocracia do sistema brasileiro de adoção. 'Eu sou muito radical com relação a essa burocracia. Quando dei entrada no processo não consegui adotar uma criança. Fiquei frustrada', afirma Marta. 'Quando pensei que seria uma coisa rápida, desde a minha primeira entrevista demorou dois anos para eu ser chamada', reclama. A amiga concorda e diz que para ser mãe não há uma receita pronta. 'Não tem curso para isso, quando você quer não importa de onde seu filho vem', complementa Márcia. 'Hoje, meu filho escuta que não nasceu da barriga, mas do coração'.
As duas tiram uma conclusão. 'Quando eles crescem você pensa: agora que estou viajando vou comprar algumas coisas para mim. Mas, não adianta você sempre traz alguma coisa para eles', se diverte Marta. 'É verdade, você sempre pensa neles', complementa a mãe Márcia.
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