12/11/2012
Sabrina Alves
É comum, nos dias de hoje, a divulgação de casais homoafetivos que conseguem a guarda de crianças e, muitas vezes, até a confirmação da união entre o casal, através do casamento, assim como acontece com casais heterossexuais.
Em Uberaba, no ano passado, o casal Cecília de Ávila (53), e Ana Claudia Santos (45), companheiras há 10 anos, registrou sua presença na história de adoções na cidade, por ser o primeiro casal homoafetivo a concretizar a adoção de uma criança, o pequeno André, na época com apenas dois meses.
O fato aconteceu em 15 de setembro de 2011 e a sentença foi proferida pelo promotor da Vara da Infância e da Juventude em Uberaba, André Tuma. “Dr. André Tuma acompanhou de perto o nosso processo e acreditou na gente, na nossa capacidade de amar e de formar uma família. Por tudo isso, seremos sempre gratas a ele; pela confiança depositada, pela competência profissional e pelo carinho. Por isso, fazemos questão de falar sobre o assunto em todas as oportunidades que temos”, declararam as mães do pequeno André.
Além de André, Cecília e Ana Claudia são mães de mais 3 crianças, sendo que uma ainda está sob guarda provisória para fins de adoção em outra comarca.
Com tudo isso e toda a história do casal, a escritora Ana Brusolo Gerbase escreveu o livro recém-publicado “Relações Homoafetivas – Direitos e Conquistas”, que teve como objetivo orientar sobre os direitos das relações homoafetivas, sendo que o casal uberabense participou mostrando um pouco de sua história. “Nesse livro, cujo objetivo é orientar sobre os direitos das relações homoafetivas, a Dra. Silvana do Monte Moreira, da ANGAAD - Associação Nacional dos Grupos de Apoio a Adoção, nos convidou para escrever nossa história no capítulo intitulado ‘Histórias de Adoção’. Foi com muito prazer e emoção que lembramos do começo do nosso sonho, a nossa luta, a nossa conquista e as pessoas que foram tão importantes para nós nesse processo”, expressa.
Em uma relato emocionado, Ana Claudia e Cecília homenagearam todos aqueles que participaram dos processos das adoções, inclusive do André, do qual o procurador André Tuma fez parte. “Foi muito emocionante lembrarmos do começo do nosso sonho e das pessoas que foram tão importantes para nós, como o nosso amigo Antônio Pinto de Souza Júnior (do GRAAU- Grupo de Apoio a Adoção de Uberaba), que muito nos ajudou nas três adoções; a Dra. Natália Ribeiro Lopes De Paulo, advogada, que nos representou sem receber honorários; e o nosso querido Dr. André. Aliás, a escolha do nome do nosso filho, André, não foi somente por tudo que ele, Dr. André, fez por nós; não foi somente por ele fazer parte da nossa história, mas, quem o conhece sabe que ele representa a luta pelo direito de todas as crianças terem uma família, um lar, seja família biológica ou adotiva”, relataram.
Em agradecimento, o promotor de Justiça André Tuma expressou sua felicidade e satisfação em fazer parte do primeiro processo homoafetivo em Uberaba. “No caso em questão, a próxima pessoa na fila seria a Ana Claudia. Então, pedimos ao setor psicossocial do juízo para fazer os estudos, e eles apontaram uma família extremamente estruturada, que já possuía outros filhos adotados de outras comarcas, como da vizinha Conceição das Alagoas. Isso foi feito para nos cercar de todas as prudências justamente para oferecer um direcionamento correto, proporcionando segurança não em relação ao relacionamento homoafetivo, mas com a intenção de proporcionar um lar para aquela criança, um lar que fosse harmônico, com uma convivência respeitosa. Ao final, constatamos que André seria bem atendido em suas necessidades básicas, e, quando falo dessa forma, me refiro não só às necessidades materiais, mas principalmente às afetivas”, declarou.
André Tuma ressaltou ainda sua emoção. “As duas sempre se posicionaram de uma maneira muito corajosa, enfrentando todo o preconceito que pudesse existir, o que, da nossa parte, não houve, mas sabemos que na sociedade existem alguns ranços de preconceito relacionados aos casais homoafetivos. Agora, enquanto pessoa, foi uma realização muito importante quando conseguimos proporcionar um destino para uma criança que estava numa situação de vulnerabilidade. Pra mim, foi um orgulho imenso ter participado dessa conquista. Eu acho que, indiferente da opção sexual, todo o relacionamento deve ser respeitado”, afirmou.
As duas citaram no livro um momento de dificuldade durante o processo de adoção. “Lembramos também do período de angústia e ansiedade, pois o processo de adoção é, sim, um pouco demorado. É preciso, primeiro, se habilitar e depois entrar na fila dos pretendentes à adoção”, ressaltaram.
“Mas vale a pena! É maravilhoso quando o sonho da gente se torna realidade! E é por isso que torcemos muito por outros casais (hetero ou homoafetivos) ou por solteiros que desejam adotar. Torcemos para que, no caminho deles, surjam pessoas tão especiais quanto as que surgiram no nosso. Desejamos que as pessoas consigam diminuir seus medos, seus receios e possam ir à busca da própria felicidade. Pois, para nós, mais importante que transmitir características biológicas, a família deve transmitir a felicidade e o amor”, finalizaram.
Foto: Além de André, Cecília e Ana Claudia são mães de mais três crianças, sendo que uma ainda está sob guarda provisória para fins de adoção
http://www.jornaldeuberaba.com.br/?MENU=CadernoA&SUBMENU=Geral&CODIGO=47228
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