quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Adoção tardia: quando a vida em família fica ainda melhor


Adoção tardia: quando a vida em família fica ainda melhor “Quando olhei para o Silvano tive uma emoção, comecei a suar frio, a chorar. Até hoje, não consigo entender o que foi aquilo”. Essa foi a reação da empresária Olívia Marchi, 52 anos, ao ver, pela primeira vez, Silvano, o filho adotivo. O menino de 11 anos arrebatou o coração da blumenauense que não vislumbrou outra possibilidade a não ser trazê-lo para sua família. Olívia e o esposo, Mauro, 53, adotaram Silvano em agosto do ano passado, com o apoio das duas filhas biológicas: Elisa, 26, e Ana Júlia, 24. O menino já havia sido adotado por outra família, mas não se adaptou. Voltou para o abrigo onde vivia, em Biguaçu, na Grande Florianópolis. Lá, em junho de 2011, encontrou Olivia, que tinha sido convidada por uma amiga de Florianópolis para conhecer a instituição. “Eu sempre tive planos de ter três filhos, mas tive câncer de útero e não pude mais engravidar. Soube da Campanha Adoção – Laços de Amor, e me chamou atenção a adoção tardia. Eu tinha vontade de adotar, mas a gente nunca sabe como proceder. Quando fui ao abrigo com minha amiga e vi que existe a possibilidade de conhecer uma criança, principalmente mais velha, que podemos adotar, encontrei um caminho”, relata Olívia. Ao voltar para casa, em Blumenau, a empresária não conseguia parar de pensar no menino. “Minha amiga conversava comigo durante o caminho e eu não respondia, porque nem escutava o que ela falava. Cheguei em casa e contei para o meu marido. A emoção voltou e comecei a chorar novamente. Foi amor à primeira vista”, confessa. A reação da família Mauro, também empresário, sensibilizou-se com a emoção da esposa e a aconselhou a voltar à Casa Lar na companhia das filhas para que elas conhecessem o garoto. Algumas semanas depois, foi a vez dele conhecer Silvano e se apaixonar. Na ocasião, Olívia antecipou-se e foi à visita munida de todos os documentos necessários para a adoção. “Eu já estava decidida a adotar. Liguei para o Fórum e me informei sobre os procedimentos. Estava com os documentos necessários para a adoção, mas ele não estava destituído da guarda. Tinha sido adotado por outra família e fugiu”. Nada seria empecilho para a determinada Olívia. Ela logo contratou um advogado, entrou com o processo de guarda e de adoção, e teve consentimento para levá-lo aos fins de semana e nas férias de julho. “Foi a melhor e a pior coisa que já fiz a de trazê-lo para passar férias sem ter sua guarda. Quando tive que levá-lo de volta, parecia que estavam arrancando um pedaço de mim. Acho que meu desespero levou à agilização do processo e, em agosto, ele já estava morando conosco”, conta a mãe. Temores com a adoção tardia Uma das preocupações de Ana Júlia, até então a caçula, era que os pais não tivessem pique para acompanhar o crescimento do menino, que ainda vai viver a adolescência. “Alertei para o fato de eu e Elisa já estarmos adultas. Estou casada e eles teriam que passar, novamente, depois de algum tempo, pelas fases por que nós duas já passamos. Apontei que eles precisariam ter pique, como acordar no meio da madrugada para buscá-lo em uma festa”. Mas Olívia e Mauro demonstram estar com energia de sobra para passeios, viagens, cinema, para os jogos do Metropolitano (time blumenauense), do Avaí (time do coração de Silvano) e do Fluminense (time do pai) nos estádios, além da atenção às lições de casa. O boletim escolar de Silvano, aliás, é exemplar. A nota mais alta é na disciplina Alemão. Para Mauro, a experiência está sendo maravilhosa. Poder fazer alguns programas de menino, que não teve a oportunidade de fazer com as filhas mulheres, é compensador. “Talvez não tivéssemos tanta energia se ele ainda fosse bebê. Ainda estamos em forma, mas um bebê exigiria mais esforço”. A rotina da casa e da família mudou e para melhor. Silvano ganhou um quarto, roupas, brinquedos e viagens, mas o mais importante foi a atenção e a oportunidade de trocar sentimentos positivos que o farão evoluir como ser humano. Educação, respeito, cuidado, carinho e amor não faltam para ele. Hoje, só tem um desejo: “Eu queria que outras crianças tivessem a oportunidade que eu tive”. Saiba mais A Campanha “Adoção – Laços de Amor” é uma parceria entre a Assembleia Legislativa, o Ministério Público, a Ordem dos Advogados do Brasil e o Tribunal de Justiça. O objetivo é estimular a adoção tardia, múltipla (grupos de irmãos) e também de crianças deficientes. A sensibilização ocorre por meio da divulgação de histórias reais, com o objetivo de reduzir o número de crianças e adolescentes acolhidos em instituições do Estado. Para isso, Poder Judiciário e Ministério Público estaduais estão engajados para garantir maior agilidade nos processos. Mais informações no site www.portaldaadocao.com.br. (Michelle Dias) Amor de irmãos “Eu não sabia como era ser irmã mais velha e estou adorando. É muito divertido. Está sendo maravilhoso para mim e para a Elisa. Acho que meus pais estão curtindo o Silvano, hoje, muito mais do que eles se permitiram aproveitar comigo e com minha irmã. Agora eles têm uma situação financeira e de vida mais estabilizada. Isso é bom para todos. A vinda dele reacendeu a alegria da família toda”. Ana Júlia Marchi Monteiro “A experiência de ter um irmão menor é maravilhosa. Desde que ele chegou, foi muito natural. Não conseguimos mais imaginar a casa sem ele. Foi como se sempre tivesse feito parte da família. Ele tem uma personalidade forte e isso é legal. Nós estamos nos adaptando à personalidade dele e ajudando em sua formação. Hoje estamos muito mais felizes. Como minha mãe fala, parece que faltava algo para a família estar completa. Hoje está. Todos somos muito apaixonados por ele e o mimamos muito. Não existe ciúme. Ele é incrível”. Elisa Marchi

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