“Foi a vontade de fazer valer a minha existência em terra”. Foi com essas palavras que Heliton Aurélio explicou a motivação de adotar quatro filhos junto com a esposa. Essa não é uma daquelas histórias em que o casal decide adotar porque não consegue ter filhos. Na verdade, o médico já tinha outros três filhos quando passou a adotar as crianças.
O G1 descobriu a história desse super pai, que aos 56 anos de idade, ainda se divide entre as atividades da profissão e as de pai em uma família bem movimentada. Dos sete filhos, cinco ainda moram na casa dos pais, e o médico abriu mão do trabalho no período da tarde para passar o turno com eles.
A história começou cedo, assim que o casal de médicos teve o terceiro filho e surgiu a necessidade de fazer algo de mais concreto para ajudar as pessoas. “Eu sentia uma vontade de ajudar e além de fazer isto fui contemplado com a graça de ser pai de mais quatro filhos, que só me deram alegria”, disse Heliton.
Se a história não é nada convencional, o modo como eles foram levando um a um os filhos adotivos para dentro de casa foi menos tradicional ainda. Sem muita burocracia no início da década de 1990, Lúcia Souza Lima, esposa de Heliton, sugeriu que os dois adotassem um menino que tinha sido abandonado. A resposta positiva para a mulher era apenas o início de uma história bem maior.
“Na verdade o meu objetivo era construir uma instituição de caridade, mas a burocracia da época não permitiu. E entre oferecer um espaço para ajudar as crianças e trazê-las para dentro de casa há uma grande diferença. Não foi nada planejado e começou por ele”, disse o médico se referindo a adoção de Elid, hoje com 21 anos, que foi adotado com cinco dias de nascido.
A criação de Elid parecia preencher um vazio na família e estava tudo correndo muito bem. “Criança é apaixonante, os meninos já estavam crescidos e Elid veio para animar a turma”, disse. E viria pela frente uma missão mais difícil. Emanuel Felipe tinha sido abandonado na rua e estava em uma creche, onde Heliton prestava assistência. Por estar muito debilitado, o médico resolveu levá-lo para casa para tratar algumas doenças.
Felipe tem deficiência intelectual e, quando chegou na casa de Heliton, não conseguia andar. “Ele foi ficando, inicialmente para se tratar, ficando, ficando, e daqui não saiu mais”, contou. A esposa dele explicou que a criança foi levada a vários psiquiatras e psicólogos e todos disseram que não tinha nenhum tratamento. “Disseram que não tinha saída, mas o remédio encontrado por nós para educá-lo foi carinho e carão”, brincou Lúcia, usando carão que é uma gíria popular que significa bronca.
Felipe hoje tem 23 anos de idade e um comportamento exemplar. “É um orgulho, uma satisfação enorme poder cuidar e tomar para si como filho um semelhante nosso. Ele é o meu xodó”, admitiu Helinton abraçado com o filho especial.
Mas isso não é motivo de ciúme nos outros filhos. Aliás, ele conta que sempre tratou todos de forma igual e nunca houve regalia ou impedimentos para nenhum. “A gente dá um cascudo em um em outro quando precisa, não tem diferença não”, brincou. Uma das filhas de sangue do médico disse que foram os três primeiros que ajudaram a criar os demais. “A gente tinha que ajudar mesmo. Quando menos se esperava tinha um irmãozinho novo”, lembrou Luciellen.
Outros dois filhos também foram adotados sem muito planejamento. Heliton contou que estava de plantão em um hospital e a esposa dele foi visitá-lo para tratar de um assunto particular. No caminho, uma pessoa a parou e disse que tinha uma menina para ser adotada, pois a mãe, uma adolescente, não tinha condições de criá-la.
O desfecho da história é o próprio médico que conta. “Eu só sei que Lúcia esqueceu o que ia falar comigo. Ela entrou no centro cirúrgico e perguntou se podia adotar a menina, eu disse que era preciso pensar. Aí ela disse: ‘Já vou’. Eu perguntei ‘mas vai para onde?’ e ela respondeu ‘vou comprar fraldas’, e assim ganhamos mais uma criancinha”, relatou.
Com dois dias de nascida, Lizane foi levada para a casa dos Lima, de onde não saiu mais. Mais espetacular que a forma como ela foi adotada é saber como o quarto e último seria adotado pelos médicos. Um dia após ganhar Lizane, Heliton viajou para dar plantão em uma cidade do interior e, prestando assistência na zona rural de uma pequena cidade, encontrou um menino de 20 dias de vida entre a vida e a morte.
O coração de pai falou mais forte e os familiares da criança deram-na ao médico. Heliton, sem avisar, chegou em casa com Elisson, hoje com 20 anos. A recompensa ele recebeu em palavras. “Ele é o pai mais gente boa do mundo. Todo tempo está ao lado. Um pai presente em todos os momentos”, disse o jovem.
Ele disse que as situações foram aparecendo e ele não conseguiu negar ajuda às crianças, que logo se tornaram filhos muito bem amados. “As oportunidades dependiam de um sim, somente. A maioria diz não, mas eu disse sim à vida e não me arrependo de nenhuma noite de sono perdida para cuidar das crianças, porque construí uma família linda”, disse.
Do G1 PB
FONTE: http://www.agradecebrasil.com.br/?p=4343
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