sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Gazeta do Povo publica texto homofóbico de colunista contra adoção por casais homossexuais

Gazeta do Povo publica texto homofóbico de colunista contra adoção por casais homossexuais

Por Allan Johan

“Nada é mais cruel que crianças em bando, especialmente na escola”, inicia o autor do texto “Perversão da Adoção”, Carlos Ramalhete, fundador de "A Hora de São Jerônimo", um apostolado leigo católico, de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro. O texto foi publicado no site da Gazeta do Povo, principal veículo impresso do Paraná, nesta quinta-feira. Discordo dele. Nada é mais cruel do que os adultos, principalmente quando munidos da ignorância, ou, pior ainda, quando usam seus conhecimentos, para provocar o dolo. Nada é pior do que a maldade com intenção de machucar. Pior ainda é a maldade disfarçada, aquela que quer se convencer ou convencer o outro de que não há maldade em tal ato. E o texto do Sr. Ramalhete é perverso, é doloso, é de uma homofobia disfarçada tremenda. Utiliza do artifício vil e covarde da dissimulação para defender que seres humanos devem ter menos direitos, colocando suas crenças para justificar que o Estado (mais uma vez o texto é propositalmente dissimulado para não aparecer homofóbico ao atacar diretamente um casal homossexual) não deveria reconhecer dois homens como pais de uma criança adotada, de qual a mãe perdeu o poder pátrio.

Ele diz ainda: “O Estado reconhece a família porque é nela que a vida é gerada. Um homem e uma mulher se unem, geram filhos e os criam, e é do interesse de toda a sociedade que isso funcione bem. Quando falta uma família, o Estado pode entregar a criança a outra família, que a adota como nela houvesse nascido. Conventos, comunidades hippies e uniões de pessoas do mesmo sexo, contudo, podem ser modos de convívio agradáveis para quem neles toma parte, mas certamente não são famílias. Isso é abuso, não adoção”.

Já vimos esse filme: alguns acreditam que uma comunidade que tem menos direitos historicamente deve continuar assim. Uma afronta eles terem o mesmo direito do que “nós”. O Estado deveria defender aqueles que são a base desta sociedade e não os equiparar a “nós”. Eles não são como nós... Sim, eles eram judeus, ou negros, ou mulheres, ou ciganos, ou homossexuais, ou asiáticos, ou de outra religião, ou tantos outros. E todos sabemos o que a história conta. E sabemos que todos os inimigos das liberdades individuais evocam o direito de liberdade de expressão, ou religiosa, para justificarem os seus discursos de ódio. Desesperados, chegam a evocar o direito "da maioria", dizendo que democracia é a imposição do desejo da maioria, conceito altamente deturpado.
O Sr. Carlos Ramalhete conhece o tal garoto ao qual ele se refere em seu texto? Eu o conheço. E o Alyson é um menino maravilhoso de 12 anos, alegre e que ganhou na loteria, ao sair de um orfanato - onde sofria diversas violências - para ter a melhor educação possível. Também conheço seus pais e são pessoas fantásticas. Até mandei mensagem aos pais, Toni e David, pois o menino quer ser de religião africana e os pais querem impor a fé católica. Ora, ao final Sr. Ramalhete, os pais assim como você possuem valores cristãos. Pais são perversos, as crianças não!
E eu também sou cristão e acredito que todos os cristãos do mundo deveriam adotar todas as crianças abandonadas em lares, por pais cristãos ou não, e serem responsáveis por elas. E que todos os heterossexuais que geram tantas crianças abandonadas deveriam arcar com estudos e custos destes pequenos até a maioridade, dando as mesmas oportunidades dadas aos outros. Sabe o que é a coisa mais cruel do mundo, Sr. Ramalhete? É a hipocrisia. Então, o senhor desça do seu pedestal, onde se auto colocou, e vá praticar a caridade, uma vida cristã, o exemplo de Jesus, ao invés de apontar o dedo e querer julgar o que Deus acha melhor ou o que é certo ou errado.
Vivemos em uma sociedade laica, onde todos tem os mesmos direitos, ou ao menos caminhamos para isso. E pela paz e direitos de todos, deve ser assim.
http://revistaladoa.com.br/2012/08/artigos/gazeta-povo-publica-texto-homofobico-colunista-contra-adocao-por-casais-homossexuais

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