PAI IDENTIFICA FILHA ENTREGUE À ADOÇÃO EM ISRAEL EM MATÉRIA DO DIÁRIO CATARINENSE
18/08/2012
Mônica Foltran, enviada especial/Israel
monica.foltran@horasc.com.br
A vida de Yael Stein, 24 anos, deu um giro em menos de duas semanas. Personagem da série Órfãos do Brasil, ela foi uma das crianças vítimas das quadrilhas que traficavam bebês para Israel nos anos 1980. No domingo, dia 5 de agosto, a foto dela de recém-nascida foi reconhecida na capa do DC pela família da mãe, Zuleide Aparecida Vieira, 43 anos, que mora em Joinville.
Agora, apresenta-se o pai, Eliomar Borba, 40 anos, morador de Itapema. Ele reconheceu a menina como sua filha, fruto de uma gravidez indesejada após um romance entre adolescentes. Assim, fecha-se o primeiro círculo pai, mãe e filha.
A notícia veio no último domingo, Dia dos Pais. Para Eliomar, que também tem três filhos homens, Yael chegou como um presente divino. Estava em casa e seu filho mais velho, Diego, reconheceu a menina ligou. Ansioso disse:
– Você viu a TV, pai?
– Não, estava dormindo.
– Estão mostrando sua filha na TV.
Por alguns segundos, Eliomar ficou em choque. Em minutos, todo passado começou a rodar em sua cabeça. Lembrou quando a namorada Zuleide, ainda na adolescência, o procurou para contar que estava grávida. Ele tinha 15 anos, ela 18. A gravidez o deixou assustado. Com medo, escolheu recuar, não contou aos pais e deixou que Zuleide decidisse o que fazer.
Foi Bruno quem tomou a iniciativa de informar o DC de que Eliomar seria o pai de Yael. Ao receber o telefonema da reportagem, Eliomar foi solícito e falou sobre o passado.
– Zuleide conheceu um advogado, um senhor simpático, que conversou comigo rapidamente. Ele disse que a criança tinha um problema genético e teria que ser feita uma cesariana. Ele se dispôs a pagar. Acabei aceitando. Hoje me arrependo – lembra.
Depois disso, Eliomar não soube mais o que aconteceu com a criança. Um ano depois, em tom de brincadeira, contou para sua mãe sobre a filha que ele nem chegou a ver na maternidade. Anos mais tarde, soube por um parente de Zuleide, que a criança foi doada a família de um Policial Militar. Eliomar, não procurou pela menina, mas ao andar pelas ruas de Joinville pensava em encontrá-la na cidade.
– Tinha esperanças, mas não tinha coragem de ir atrás. Não culpo ela (Zuleide), os pais dela não queriam a criança. Eu e ela éramos muito jovens, caímos nas mãos de pessoas erradas – lamenta.
Ao ler a matéria do DC, reconheceu pela foto da capa a antiga namorada e, ao olhar mais detalhadamente para a foto nas mãos da mulher, viu Yael e não teve dúvidas.
– Ela tem toda a feição da minha irmã caçula. Essa menina é minha filha, não tenho dúvidas.
Morando há 4 anos em Itapema, Eliomar está em seu segundo casamento. Para os filhos, sempre contou sobre a irmã. É nos olhos azuis de Eliomar que brilha a esperança de um dia falar com Yael. Ele já não consegue mais segurar a ansiedade.
– Não sei o que falar. Ela vai preencher um vazio dentro de mim. Não consigo segurar tanta felicidade, sempre quis ser pai de uma menina, diz com os olhos fixos na foto de Yael e completa:
– Ela tem a covinha no queixo igual a minha.
Em Joinville, após o reencontro que aconteceu a partir repercussão da série do DC, Zuleide e Yael conversam pela internet com a ajuda de parentes. Yael quer vir ao Brasil em março, e Zuleide planeja um grande almoço em família para a chegada dela ao Brasil. A família de Eliomar também deve participar do encontro.
De Israel, com o coração apertado, Yael acompanha as novidades no Brasil. Há poucos meses, quando a equipe do DC conversou com a jovem em Jerusalém, ela vivia um momento bem diferente. Triste, falava do seu sonho em conhecer a família biológica, encontrar pessoas parecidas com ela e saber se tem irmãos.
Agora, ansiosa e animada, conversa com as irmãs de Zuleide e até trocou algumas palavras com Diego Borba, filho mais velho de Eliomar. Em relação ao pai, ela preferiu ser mais reservada. Ainda não conversou com ele e pensa na possibilidade de fazer um exame de DNA.
– Estou muito feliz – resume a jovem.
Em Israel, a equipe do DC conversou com 12 jovens que vivem situação semelhante. O reencontro dos familiares de Yael reacendeu a esperança destes jovens de também encontrarem as famílias biológicas no Brasil. Um serviço trilíngue (português, inglês e hebraico), criado pelo DC, auxilia esses encontros. Sensibilizada pelos apelos deste brasileiros vítimas de quadrilhas, a ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, uniu esforços de sua pasta e e acionou os ministérios da Justiça e das Relações Exteriores para auxiliar na identificação dos pais biológicos e recuperar a documentação original das crianças. O Ministério da Justiça estuda uma saída jurídica para os jovens recuperarem sua verdadeira identidade.
ASSISTA AO DEPOIMENTO DE ELIOMAR
Foto: Zuleide entre as irmãs Sheila Vieira e Tatiane Deavila, que segura a fotinho de Yael, publicada na edição do DC de domingo passado, e que serviu para o reconhecimento feito pela família
Foto: Guto Kuerten/Agência RBS
Foto: Eliomar Borba disse que Yael chegou como um presente divino
Foto: Guto Kuerten / Agencia
http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2012/08/pai-identifica-filha-entregue-a-adocao-em-israel-em-materia-do-diario-catarinense-3858183.html
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