ATITUDE ADOTIVA
Pães e Mais
Publicado em 17.08.2012, às 16h11
Foto: Internet
Por Guilherme Lima Moura
A adoção está no ar. Por todo canto, estruturam-se configurações familiares efetivamente a partir dos laços afetivos. Famílias que são reconstruídas através de novos casamentos. Avós que criam seus netos como filhos porque os pais e mães trabalham o dia todo, às vezes em cidades distantes. Padrastos e madrastas que se convertem em pais e mães porque no espaço do afeto só cabe afeto. O sangue só tem utilidade se estiver nas veias e artérias, onde cumpre o belo papel de permitir a vida orgânica. Mas filho e filha não precisam de sangue porque, como seres vivos, já o possuem. Filhos e filhas precisam de amor. De um tipo especial de amor que os permite existir como filhos e filhas e não apenas como seres vivos.
Aqui e ali, falando com um e com outro, tenho escutado inúmeros relatos sobre as muitas expressões da adoção. Dia desses um rapaz me disse: “Fui criado pelo meu tio porque meu pai nunca quis saber de mim”. Também uma senhora desabafou-me, com certa discrição, embora tenha me parado em plena rua. Puxando-me pelo braço para que um de meus ouvidos lhe chegasse mais próximo à boca, sentenciou: “Tive três filhos, mas só fui adotada pela minha filha adotiva. Os outros dois não estão nem aí pra mim! O que importa é quem a gente ama, meu filho!”. No seu comentário pretendia confirmar e estimular minhas convicções, como quem já viveu a intensidade da presença e da ausência do amor filial.
Numa outra situação, ouvi de uma pessoa próxima: “Minha mãe morreu muito jovem e minha madrinha me criou”. E quando lhe disse “Pois é. Você é também um filho adotivo”, ele parou e fez cara de quem tinha compreendido algo muito importante. De quem tinha elaborado sua própria história a partir daquela nova perspectiva. De quem tinha entendido, afinal, que na sua vida não havia uma “mãe que morreu e uma madrinha que criou”, mas uma mãe que não pode continuar mãe e uma mãe que se fez mãe e assim permaneceu até hoje. Ouvi dizer depois que naquele dia ele lhe deu um beijo especial.
A expressão “criar um filho” é realmente rica de significado. É a partir do criar que surge a existência do que quer que seja. É, portanto, no criar os filhos que os fazemos existir enquanto filhos. Essa criação, como sabemos pela simples vivência, é também naturalmente entendida numa perspectiva de longo prazo. Dizemos frequentemente: “Estou criando meus filhos; tenho meus filhos pra criar”.
A criação dos filhos é ato contínuo, de longo prazo. Surge na convivência e na aceitação. É relacional, afetiva e de uma profunda amorosidade. A criação dos filhos é, enfim, a essência do que temos chamado de atitude adotiva. Filhos nascem da criação; filhos nascem na adoção.
Nessa época de celebrações à figura paterna, tive oportunidade de participar de momentos especiais, em que nós - os papais - ocupamos o centro de todas as homenagens. Tais eventos são sempre para mim cheios de muita alegria e emoção, que priorizo sobre qualquer outro. Mas, em meio às situações em que estive, pude sempre vislumbrar ao meu redor a presença de pessoas que, não tendo ao alcance das mãos aquela figura masculina, pode encontrar nos braços amorosos de alguém a condição especial do pai-mãe. Daquele ou daquela que, em algum ponto do caminho, escolheu o tornar-se pai-E-mãe.
Esses que se decidiram como “pais e filhos”, às vezes a partir de episódios dolorosos, têm sempre alguém para encontrar na multidão dos homenageados. Têm sempre alguém para chamar de pai ou mãe.
Sim, porque há pais que são “pães”; e mães que são “mais”.
Aqui e ali, falando com um e com outro, tenho escutado inúmeros relatos sobre as muitas expressões da adoção. Dia desses um rapaz me disse: “Fui criado pelo meu tio porque meu pai nunca quis saber de mim”. Também uma senhora desabafou-me, com certa discrição, embora tenha me parado em plena rua. Puxando-me pelo braço para que um de meus ouvidos lhe chegasse mais próximo à boca, sentenciou: “Tive três filhos, mas só fui adotada pela minha filha adotiva. Os outros dois não estão nem aí pra mim! O que importa é quem a gente ama, meu filho!”. No seu comentário pretendia confirmar e estimular minhas convicções, como quem já viveu a intensidade da presença e da ausência do amor filial.
Numa outra situação, ouvi de uma pessoa próxima: “Minha mãe morreu muito jovem e minha madrinha me criou”. E quando lhe disse “Pois é. Você é também um filho adotivo”, ele parou e fez cara de quem tinha compreendido algo muito importante. De quem tinha elaborado sua própria história a partir daquela nova perspectiva. De quem tinha entendido, afinal, que na sua vida não havia uma “mãe que morreu e uma madrinha que criou”, mas uma mãe que não pode continuar mãe e uma mãe que se fez mãe e assim permaneceu até hoje. Ouvi dizer depois que naquele dia ele lhe deu um beijo especial.
A expressão “criar um filho” é realmente rica de significado. É a partir do criar que surge a existência do que quer que seja. É, portanto, no criar os filhos que os fazemos existir enquanto filhos. Essa criação, como sabemos pela simples vivência, é também naturalmente entendida numa perspectiva de longo prazo. Dizemos frequentemente: “Estou criando meus filhos; tenho meus filhos pra criar”.
A criação dos filhos é ato contínuo, de longo prazo. Surge na convivência e na aceitação. É relacional, afetiva e de uma profunda amorosidade. A criação dos filhos é, enfim, a essência do que temos chamado de atitude adotiva. Filhos nascem da criação; filhos nascem na adoção.
Nessa época de celebrações à figura paterna, tive oportunidade de participar de momentos especiais, em que nós - os papais - ocupamos o centro de todas as homenagens. Tais eventos são sempre para mim cheios de muita alegria e emoção, que priorizo sobre qualquer outro. Mas, em meio às situações em que estive, pude sempre vislumbrar ao meu redor a presença de pessoas que, não tendo ao alcance das mãos aquela figura masculina, pode encontrar nos braços amorosos de alguém a condição especial do pai-mãe. Daquele ou daquela que, em algum ponto do caminho, escolheu o tornar-se pai-E-mãe.
Esses que se decidiram como “pais e filhos”, às vezes a partir de episódios dolorosos, têm sempre alguém para encontrar na multidão dos homenageados. Têm sempre alguém para chamar de pai ou mãe.
Sim, porque há pais que são “pães”; e mães que são “mais”.
*As colunas assinadas não refletem, necessariamente, a opinião do NE10
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