quarta-feira, 9 de julho de 2014

ADOLESCENTES SÃO MAIORIA NA FILA POR UM NOVO LAR


08/07/2014
Jornal A Cidade - Daniela Penha
Região de Ribeirão Preto tem 51 abrigados aguardando adoção e 82,3% deles têm mais de 11 anos de idade
Na região de Ribeirão Preto, há apenas uma criança entre 0 e 5 anos esperando ser adotada.
Em contrapartida, a cada cinco que aguardam um lar, quatro são adolescentes ou estão na pré-adolescência. De 51 abrigados em 13 cidades, 42 têm mais de 11 anos de idade.
No município de Ribeirão, dos sete que aguardam adoção, seis têm mais de 11 anos.
Os números reforçam uma preferência que se mantêm ano a ano: os bebês são os mais queridos por quem busca adotar.
Em âmbito nacional, pesquisas do Conselho Nacional de Justiça mostram ainda que a maioria dos pretendentes querem crianças brancas.
O juiz Alexandre Gonzaga Batista dos Santos, da Infância e Juventude de Jaboticabal, confirma que a maioria dos que aguardam adoção no município são pardos ou negros. A cidade, junto a Monte Alto, possuiu o maior número de abrigados aguardando adoção na região – 12.
Paulo Gentile, juiz da Infância e Juventude de Ribeirão - cidade em terceiro lugar no número de abrigados na região - pontua que nove a cada dez pretendentes querem recém-nascidos. Por aqui, ele diz, há cerca de 70 na lista por um filho.
“A grande maioria dos que querem adotar são jovens. O sonho é se realizar como família, vivendo a paternidade desde o início.”
Ele acredita, porém, que essa realidade tem se modificado. “Estamos com vários casos de adoção de adolescentes. Há 10 anos, fazíamos muita adoção internacional. Hoje, não é necessário.”
Alexandre acredita que, nos últimos cinco anos, depois que a Justiça tornou obrigatório cursos preparatórios para quem pretende adotar, a mentalidade dos futuros pais mudou.
“Os cursos esclarecem sobre a realidade. As crianças são reais. Não sonhos imaginados pelas pessoas.”
CRITÉRIOS
Quando decidiram pela adoção, Mônica e Amaury Ferreira tentaram algo considerado difícil para quem enfrenta a fila de espera: a adoção de um recém-nascido. “Mas, só conseguimos adotar quando mudamos alguns critérios, como sexo e idade”, disse a dona de casa Mônica, 37.
Com a mudança de critério, o caminho para a adoção ficou mais fácil e logo a família conheceu a pequena Raíssa, de 1 ano e 2 meses. A adoção aconteceu em 2010, quatro anos depois do pedido feito pelo casal. Hoje, a criança tem 6 anos. Mesmo enfrentando a fila de espera por alguns anos, Mônica diz que participaria de outro processo de adoção. (Colaborou Eliel Almeida)
EMPECILHOS
Para o juiz Alexandre Gonzaga Batista dos Santos, da Infância e Juventude de Jaboticabal, os mitos e preconceitos enraizados na sociedade atrapalham o processo de adoção.
“As pessoas chegam com a ideia de que a criança maior vai ter mais dificuldades do que o bebê, perfil da família anterior. Há também o mito de que meninas são mais fáceis de cuidar”, pontua.
Por isso, Alexandre acredita na importância da conscientização, que já começou a acontecer pelos cursos preparatórios.
“Quanto mais esclarecida é a pessoa, menores são as exigências. É necessário entender que a adoção não é a satisfação de uma necessidade pessoal. É a busca de um filho, seja como ele for.”
SISTEMA DE BUSCA
Processo desenvolvido por grupos de apoio à adoção, o busca ativa consiste na divulgação do perfil atualizado da criança disponível para adoção em vários desses grupos.
Mas a divulgação só é possível com a autorização do Juizado da Infância e Juventude. Em Ribeirão, a ONG Crescendo em Família atua há dez anos no processo de preparação de pretendentes para adoção.
E o próximo passo da entidade é tentar implantar o busca ativa na cidade.
“Este procedimento é interessante, pois, quando surge o interesse de algum pretendente, o pedido é encaminhado ao Judiciário”, diz Anamaria Caviola, presidente da ONG Crescendo em Família. (Eliel Almeida)
LEGISLAÇÃO
A lei 12.010, de 3 de agosto de 2009, tornou obrigatória a participação dos casais e demais pessoas que pretendem adotar uma criança ou adolescente em cursos “de preparação psicossocial e jurídica” oferecidos pela Justiça. Caso o pretendente não cumpra a legislação, ele é retirado do cadastro de adoção.
ANÁLISE
É preciso conscientizar
"Em Ribeirão Preto, não temos dificuldades em encontrar família para crianças de até seis anos, independentemente da raça, sexo e até mesmo de problemas de saúde. A partir dos 7 anos, há dificuldade. É uma questão de conscientização. Quando pensamos em filho, pensamos em bebê, crianças pequenas, é cultural. É necessário, assim, campanhas de conscientização. Quem adota uma criança maior, um adolescente, tem ótimas experiências. Não encontra as dificuldades que imaginou. Há a crença de que a criança terá experiências anteriores difíceis, mas eu não acho que isso seja o determinante. Para mim, é mesmo cultural. Não vai ser com novas leis que essa realidade vai mudar. É necessário conscientizar."
Luis Henrique Paccagnella
Promotor da Infância e Juventude em Ribeirão
http://www.jornalacidade.com.br/noticias/cidades/NOT,0,0,968175,Adolescentes+sao+maioria+na+fila+por+um+novo+lar.aspx

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