quinta-feira, 10 de julho de 2014

CEVAM ACOLHE 45 VÍTIMAS DE ABUSOS


09/07/2014
Aparecida Andrade
Diário da Manhã
São 32 adolescentes, 22 vítimas de abuso sexual, oito da violência dos pais e dois por vulnerabilidade familiar. No grupo das crianças, a casa abriga três por abuso sexual, sete de violência dos pais e três por vulnerabilidade em família
Fundado em 1981, por um grupo de mulheres lideradas pela escritora, jornalista, advogada e feminista, Consuelo Nasser, o Centro de Valorização da Mulher Consuelo Nasser (Cevam), é um órgão de utilidade pública, sem fins lucrativos, reconhecido pela Assembleia Legislativa de Goiás. Que assiste e garante os direitos das mulheres em situação de violência.
Dentre os programas mantidos pelo Cevam, destaca-se a Casa Abrigo Nove Luas, mantida pela instituição em favor de mulheres, crianças e adolescentes que se encontram em situação de violência e risco de morte, assegurando abrigo e apoio psicossocial, jurídico e pedagógico e outros, afim de que possam reestruturar se.
Anualmente a Casa Abrigo Nove Luas chega acolher cerca de mil pessoas. Hoje só no grupo dos adolescentes e crianças , a unidade atende 45 vítimas. Sendo 32 adolescentes sendo 22 vítimas de abuso sexual, oito violência dos pais e dois por vulnerabilidade familiar. No grupo das crianças a casa abriga três vítimas de abuso sexual, sete violência dos pais e três por vulnerabilidade familiar.
MALDADE
Há quatro anos descreve a presidente do Cevam, Maria Cecília Machado, por meio do Conselho Tutelar foram encaminhadas a Casa Abrigo Nove Luas, três irmãs, F. F. 13 anos, D.F. 11 anos e G. F. nove anos, vítimas, de acordo com ela de uma atrocidade familiar. Conforme o relato da presidente, a mãe era cúmplice do companheiro, padrasto das crianças, que passou a ser um estuprador em potencial. “Ele colocava as três meninas em um quarto as despia, espancava e cometia os maiores abusos com as mesmas”, relata.
Cecília pontua que tudo que tem para contar sobre a história das três irmãs é de uma crueldade desmedida. “Ele as colocava para ver filmes pornográficos e reproduzir o que assistia, além de exigir que as três fizessem sexo entre si”, descreve que, A D. F. 11, chegou, ao abrigo, grávida de aproximadamente dois meses. A garota teve um abordo espontâneo, sendo necessário realizar o procedimento de curetagem. “O abordo se deu devido à idade, o corpo não suporta uma carga tão grande desse tipo”, explica.
Não menos dramático é o caso da pequena A T. G. 13 anos, na época, com nove anos foi encaminhada para o Cevam devido aos abusos cometidos pelo pai alcoólatra que vendia a menina para seus companheiros de farra. Tendo cada tipo de sexo um preço. “Era assim cada tipo de sexo tinha um preço variando de R$ 1,50 a R$ 3”, informa.
A adolescente, A T. G. diz que era obrigada, muitas vezes, a passar a noite, enjerindo bebidas alcoólicas para suportar a dor e humilhação que lhe era imposta. Após chegar ao abrigo, expressou o desejo de reencontrar a imã deficiente física. Que foi deixada pelo pai, abusador, em uma fazenda onde era obrigada realizar programas, mesmo deficiente, com os peões do local. “Ela foi deixada pelo pai que recebia por isso”, diz Cecília.
Após uma denuncia a garota foi resgatada, por meio de um conselheiro. “Foi emocionante o reencontro das duas depois de quatro anos”, lembra. Hoje declara a presidente do CEVAM, todas as adolescentes ainda permanecem no abrigo e fazem parte da família Cevam. “As meninas em abrigamento do Cevam, são a real superação conseguem enxergar uma luz no fim do túnel devido todos os amparos oferecidos pela instituição”, avalia. No caso das três irmãs reconhece Cecília ter havido um justiçamento através, inquérito, diligencias e muita cobrança. “Foi possível conseguir a prisão dos dois com a pena máxima.”
CRIANÇAS
A pobre B. S. 14, mãe de M. G de 11 meses, foi vítima de abuso sexual desde os oitos anos praticados pelo padrasto com a cumplicidade da mãe que a trocava por pequenos objetos. O bebê revela Cecília, é fruto de um estupro, não tendo ainda comprovado paternidade.
Quando chegar ao abrigo B. S. não conseguia sequer escrever o próprio nome, era a analfabeta. “Ela apenas fazia o primeiro nome com letras de forma”, diz. Faz um ano que mãe menina está no abrigo já alfabetizada pelos voluntários da instituição e é uma excelente mãe. “Ela é uma excelente mãe e seu bebê é como se fosse sua boneca que ela nunca teve; de maneira desumana ela teve a oportunidade de ter uma boneca, afinal desde os oitos anos de idade ela levava uma vida de maus tratos”, lamenta.
I.B., OITO ANOS, E B. B., NOVE, FORAM ABUSADOS PELO TIO
Quando B.B tinha seis anos foi abusada pelo tio e depois, ela e o irmão, foram acolhidos pelo abrigo e posteriormente entregas para os avós. Passando um ano, destaca Cecília, a avó entregou as crianças para a mãe que morava em um mesmo barracão com o tio abusador, irmão do pai dos meninos. E para surpresa maior o pai passou a abusar também da filha e do filho, sempre embriagado.
Com a denúncia a mãe e as crianças foram encaminhadas para o Cevam, mas mãe não acreditou na história e preferiu abandonar os pequenos. “Ela não quis permanecer no abrigo, para proteger as crianças, preferiu abandoná-los, no brigo, indo morar com o pai das crianças um dos estupradores”, revela.
ALERTA
Para Maria Cecília a prostituição muitas vezes começa dentro do nosso lar. “Tudo que você troca por seu corpo é prostituição. Muitas vezes essas crianças fazem isso em troca de um objeto desejado não tendo noção do que está fazendo. Aquele estuprador da rua, desconhecidos, é muito difícil, o molestador, o estuprador, o agressor está dentro da nossa casa. A maioria são pessoas de conhecimento das crianças, que são avós, pais, tios dessas crianças e adolescente”, define.
MANUTENÇÃO
Para manter esta estrutura de atuação e de atendimento que é referência na Região Centro-Oeste, a instituição conta com o apoio da sociedade civil, de empresas privadas e instituições solidárias. “O Cevam não é só abrigamento, ele está engajado na luta pelos direitos humanos, há oito anos a Ong mudou seu estatuto e passou a fazer acolhimento de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual familiar e violência doméstica”, descreve a presidente do Cevam, Maria Cecília Machado.
Ela explica que essas crianças e adolescentes são encaminhadas para o Cevam pelo Conselho Tutelar, Ministério Público e Juizado da Infância e da Juventude de Goiânia. “O acolhimento é de acordo com Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e eles só poderão deixar o abrigo com autorização do juizado”, esclarece o processo amparo as vítimas.
Os quais têm tempo de permanência variável no abrigo. A liberação pontua Cecília Machado depende de estudos multidisciplinares. “Elas serão devolvidas caso haja um estudo que comprove que o acolhedor tem condições de recebê-los para a adoção ou um possível apadrinhamento através do projeto Anjo da Guarda, em parceria com o Juizado da Infância e da Juventude”, informa.
De acordo com Cecília o Programa Anjo da Guarda oportuniza para a sociedade apadrinhar uma criança do Cevamda forma que puder. Seja através de apoio financeiro à criança, incentivando a mesma nos passos escolares, comprando roupas ou brinquedos, apoio profissional, oferecendo serviços como médicos e dentistas a esta criança, ou até mesmo o apoio emocional , quando o “anjo da guarda” fica incumbido de passear com a criança nos finais de semana, férias ou qualquer outro momento, integralizando a mesma na sociedade e oferecendo um pouco de amor e carinho para ela.
Maria Cecília assegura que os resultados deste programa são muito positivos, tanto para a criança quanto para quem apadrinha.
DIFICULDADES
Mas, nem tudo são flores a presidente do Cevam, Maria Cecília Machado pontua que o maior problema enfrentado pela instituição é o financeiro. “Estamos há dois anos sem receber recursos das instâncias municipais, estaduais ou federais, com a ausência de recursos fomos acumulando dívidas que nos deixa em uma situação delicada para manter a instituição”, revela.
Ressalta que o que tem mantido o lugar são as parcerias formalizadas ou não com entidades, pessoas jurídicas, físicas (voluntárias) a fim de garantir a manutenção e a execução dos programas e projetos da entidade. “A sociedade é presente fazendo com que o abrigo se mantenha com alimentação, vestuários e serviços prestados voluntariamente”, define.
VIDAS MUTILADAS
Ela era apenas uma menininha inocente, indefesa. Aos três anos se apoiava em outros elementos para desenvolver-se; as sensações ligadas aos sentidos, o pensamento era mais global, no sentido de imaginar mentalmente cada experiência, apreendendo, assim, as imagens, os cheiros, os gostos, as sensações, assim define a psicologia educacional como uma criança pensa. Cada experiência vivida, cada ideia, cada objeto novo conhecido foi ganhando uma imagem mental, na cabeça da pequena E. L. R. abusada pelo pai dos três aos seis anos de idade.
Sem que pudesse fazer nada, ela apenas apreendia as imagens, o cheiro e sensações ruins da brutal ação praticada pelo pai que, na época, morava com os quatro filhos e a avó das crianças, no Estado do Maranhão. “Ele abusava de mim; dizia que iria me dar presentes e todas às vezes que eu ia tomar a benção, ele me puxava e tocava minhas partes íntimas”, descreve a garota hoje com doze anos de idade.
Depois de uma série de abusos contra a pequena E. L. R., de olhar acanhado, tímido e meigo. Agora com seis anos, a mortificação parecia ter chegado ao fim, quando o pai foi descoberto, em sua complacência doentia, pelo o irmão da menina que, presenciou o ataque e contou para a avó. “Um dia meu irmão viu e contou para minha vó que denunciou meu pai”, lembra.
Cabisbaixa, segurando as pequenas mãos com unhas pintadas de branco com desenhos de pequenas flores. Conta como o pai praticava os abusos que, na época, por ela ter apenas seis anos, o agressor se deteve apenas ao toque e manipulação.
Com a denúncia da avó e posterior comprovação dos abusos, por meio do exame de corpo de delito, o pai de E. L. R. foi preso. E em seguida ela os e três irmãos, todos meninos, devolvidos para a mãe, em Goiânia. A qual já estava em outro relacionamento, com aquele que ocuparia o lugar do pai. A mãe da pequena E. havia se separado do pai das crianças, por conta das agressões cometidas por ele. “Minha mãe separou do meu pai porque ele batia nela”, justifica.
AINDA NÃO ERA O FIM
O pior ainda estava por vir, E. L. R. conta que quando chegou em Goiânia, com seis anos, tudo parecia ter voltado a plena normalidade de uma família feliz. Até ela completar 11 anos e descobrir que o padrasto não a via como uma criança que precisava apenas de amor, compreensão, respeito e proteção de um pai. “Quando fiz 11 anos meu padrasto começou abusar de mim ele inventava desculpas para ficar perto e me assediar”, diz.
O padrasto tornou-se sucessor do pai da pré-adolescente, em sua crueldade, tornando-se obcecado por ela ao ponto de inventar mentiras para pressioná-la psicologicamente. “Ele inventava que eu havia feito feiuras e para provar que eu não havia feito pedia para eu ficar nua, na frente dele”. Depois de passar por sérios abusos e traumas psicológicos, antes mesmo de compreender tudo o que se passara E. se via mais uma vez, sob uma subjugação desigual.
Não satisfeito o mesmo usava de outras artimanhas para manter a menor por perto. “Ele pedia para eu pegar a pinça para tirar pelos do rosto dele, enquanto eu tirava ele ficava tocando partes do meu corpo tentava sair, mas ele pedia para eu voltar, fazia isso várias vezes durante o dia”, descrevem os abusos continuados, cometidos pelo padrasto.
DO ASSÉDIO À CONSUMAÇÃO
Depois que a mãe foi trabalhar e os irmãos para a escola a pequena E. L. R. se viu sozinha em casa com seu opressor que não perdeu tempo em materializar seus desejos obscuros. “Quando ele terminou eu estava sangrando então ele pediu para eu tomar banho”, relata a barbárie de ter que fazer algo que não pertencia ao seu mundo enquanto criança.
“Até que um dia perguntei para meu irmão, com os olhos cheios de lágrima, se ele iria para a escola, ele disse que não, e saiu para a porta da nossa casa para tocar violão. Então criei coragem e fui até ele e disse – Sabe por que eu perguntei se você iria para a escola? Ele disse, por quê? Respondi, porque o Eduardo (padrasto) está fazendo a mesma coisa que nosso pai fazia; aí meu irmão começou a chorar”, descreve emocionada.
E. L. R. esclarece que esse irmão, hoje com 15 anos, para quem contou sempre se mostrou mais cuidadoso com ela. “Meu irmão começou a chorar e ligou para minha mãe e contou tudo, ela chegou em casa e perguntou para meu padrasto se era verdade ele negou tudo”, para desespero da menina que agora cultivava o ódio do tirano e a dúvida da mãe.
No depoimento dado a reportagem do Diário da Manhã, E. L. R. revela que foram três as vezes em que o padrasto a violentou sem se preocupar sequer em usar preservativo. “Eu dizia para ele parar, mas ele não parava e ameaçava me bater, caso eu reagisse”, narra. Passara-se um mês e nada foi feito por parte da mãe. Até que o mesmo irmão, querido por E. L. R., contou para a pastora da igreja onde frequentava. “Meu irmão contou para uma pastora que denunciou para o Conselho Tutelar”, menciona.
Passou-se um mês e talvez, por medo, o opressor não manteve mais relações com a vítima, não sendo, assim, possível comprovar com o exame de corpo de delito que ela sofrera o abuso. Resultado, o mundo de E. L. R. estava desabando, o padrasto não pôde ser preso e a mãe preferiu acreditar no marido agressor que na filha. “Estou muito magoada com minha mãe, ela e meus irmãos são tudo para mim. Mas ela preferiu acreditar nele (padrasto)”, conta com os olhos cheios de lágrimas o vazio.
Com o abusador livre E. L. R. não pôde voltar para casa, sendo encaminhada, em agosto de 2013, pelo Conselho Tutelar de Goiânia, para Centro de Valorização da Mulher Consuelo Nasser (Cevam). Com os olhos lacrimejando E. L. R. descreve onde gostaria de está hoje. “Meu sonho é voltar morar com minha família e ser feliz”, declara.
Menina de pele morena, cabelos longos, lisos, olhos tímidos, pequena, frágil e meiga, mas entre ela e estar junto da família existe um enorme abismo, que a impede de estar com os irmãos e a mãe. Em poucas palavras ela define o significado de família. “Família para mim é sempre ter união, mas minha mãe preferiu acreditar no meu agressor que em mim e agora não posso ficar com eles”, define.
NEGLIGÊNCIA
E. L. R. diz que, o que a faz sofrer é se sentir abandonada, principalmente, nas dadas festivas Natal, ano novo e férias quando muitos recebem visitas de familiares e ela fica na expectativa, mas quase sempre ninguém aparece. “Lembro muito dos meus irmãos e sinto a falta deles, mas eles não vêm me visitar, minha mãe disse que meu padrasto fala mal de mim para eles”, destaca.
Perder a família marcou drasticamente a vida de E. L. R. que hoje faz o ensino fundamental e conta com apoio de profissionais, voluntários, em diversas áreas no Cevam. Mas nada disso preenche o vazio que a garotinha sente. “Aqui é bom, mas estou sem minha família, ninguém vem me visitar, fico esperando, mas ela não vem”,
“Se for para um dia eu perdoá-los, perdoarei, minha mãe eu perdoou, mas ainda não consigo perdoar nem meu pai e nem meu padrasto”. A pequena sonha ser atriz e tradutora e confessa, “agora só quero é esquecer tudo isso”, conclui.
ABREVIATURA DO NOME E IDADE DOS MENORES ATUALMENTE ACOLHIDOS
R. M. 17 anos
N. V. 13 anos
B. S. 17 anos
J. S. 14 anos
A. C. 12 anos
C. R. 11 anos
D.F. 11 anos
G. F. 9 anos
F. F. 13 anos
A. C. 12 anos
A. F. 12 anos
R. M. 16 anos
D. R. 12 anos
A D. F 13 anos
A T. G. 13 anos
M. G 11 anos
E. L. R 12 anos
A. G. S. 15 anos
M. S. 12 anos
D. M. 16 anos
L. N. 15 anos
H. R. 12 anos
D. G. 16 anos
V. C. 14 anos
Crianças vítimas
de abuso sexual
I.B. 8 anos (menino)
B.B 9 anos
G. F. 7 anos
Foto: Reprodução
http://www.dm.com.br/texto/183374-cevam-acolhe-45-vitimas-de-abusos

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