terça-feira, 9 de dezembro de 2014

ANJOS PERVERSOS: EXISTE CRIANÇA DO MAL?


8/12/2014
Diagnóstico de psicopatia só pode ser feito na vida adulta
Do R7*
Os psicopatas começam a dar sinais de sua personalidade problemática desde muito cedo, afirma a psiquiatra e escritora Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do best-seller Mentes Perigosas – O Psicopata Mora ao Lado. Por isso, é preciso estar atento, pois nem toda travessura de criança é tão inocente assim.
Alguns problemas comportamentais como mentiras recorrentes, trapaças e falta de empatia com o sofrimento dos colegas ou dos animais podem ser maus sinais. Entretanto, não quer dizer que a criança seja uma psicopata e nem que ela vá se tornar uma.
Ana Beatriz explica que a psicopatia é considerada um transtorno de personalidade porque a pessoa já nasce com ele. Ela explica que os psicopatas têm uma espécie de disfuncionalidade do cérebro que impede o funcionamento correto do sistema límbico, responsável pelas emoções. Os psicopatas já nascem com o transtorno e, com o tempo, sua personalidade se manifesta.
— Desde muito cedo, você vê crianças com esse tipo de funcionamento cerebral com indiferença em relação a outras crianças, maltratando animais, tendo uma curiosidade mórbida em matar ou abrir e ver um animal por dentro ou ver um animal sofrendo.
Em seu livro, a psiquiatra relaciona a psicopatia com o bullying. Ela diz que crianças e adolescentes com perfil psicopático costumam intimidar os colegas. Quando isso ocorre no ambiente escolar, pode ser considerado bullying. É importante ressaltar, no entanto, que não é porque um jovem pratica bullying que ele é ou vai se tornar um psicopata.
CRIANÇA NÃO PODE SER PSICOPATA
O psicólogo Christian Costa, do Ceccrim (Centro de Estudos de Comportamento Criminal) afirma que o filho de um psicopata não deve necessariamente desenvolver o transtorno, mas as chances existem.
— Os estudos de criminologia mostram que existem entre 20% e 30% de chances de que a criança tenha o comportamento compatível com o pai. Mas não necessariamente o filho de um psicopata vai ser um psicopata.
Ele ainda explica que o diagnóstico de psicopatia não pode ser feito em crianças, apenas depois dos 18 anos.
— Antes dos 18 anos, apenas podemos dar diagnóstico de transtorno de conduta. Os pais que perceberem isso devem buscar ajuda de profissionais da área de psicologia, da psiquiatria e ficar atentos. E isso não significa que ela será uma psicopata! É importante que fique muito claro.
EDUCAÇÃO DEVE SER RIGOROSA
A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva defende que o melhor, caso uma criança receba o diagnóstico de transtorno de conduta, é que haja um entendimento de pais, educadores e familiares para que todos se comprometam a estabelecer uma educação com limites bem marcados.
— Não violenta! De jeito nenhum violenta fisicamente. Mas não deixar que ele possa manipular os familiares mentindo para um e outro para obter tudo o que quer.
A escritora ressalta que a educação é importante porque pode diferenciar a gradação de uma possível psicopatia, determinando se ela será mais severa ou não.
Assim como o ambiente social de uma criança propensa à psicopatia pode levá-la a se tornar um perigoso delinquente na vida adulta, um ambiente favorável e uma educação rigorosa podem levar a um grau mais leve do transtorno.
— Quando os pais se deparam com isso, é um momento muito difícil. A maioria nega esse tipo de comportamento dos filhos, tenta atribuir a alguma influência de amiguinhos ou alguma coisa que viram na televisão, esse tipo de coisa.
Segundo a autora, a estrutura familiar e o ambiente social também não são capazes de transformar ninguém em um psicopata.
RAIVA SEM LIMITES
Um caso emblemático para lembrar que nem toda criança que demonstra falta de empatia e violência se torna uma psicopata é o de Beth Thomas.
Apesar de parecer uma criança de seis anos normal à primeira vista e encantar com seus lindos olhos azuis, o passado de Beth escondia diversos traumas que fizeram dela uma criança sem empatia e extremamente perigosa.
Beth tinha quase dois anos e seu irmão Johnatan tinha sete meses quando foram adotados por um casal dos Estados Unidos em 1984. Aos poucos, a menina começou a desenvolver comportamentos tão estranhos que fizeram com que o casal Tim e Julie começasse a se preocupar com o passado das crianças.
Beth e John sofreram sérios maus-tratos do pai depois que a mãe deles morreu no parto. Os dois não eram bem alimentados, o menino foi encontrado cercado de urina em uma banheira e Beth foi abusada durante meses.
O caso foi contado no documentário A Ira de um Anjo (Child of Rage), de 1992, com o objetivo de alertar para os impactos do abuso infantil na vida das crianças. No filme, foram usadas gravações do psicólogo Ken Magid, especializado no tratamento de crianças severamente abusadas.
A menina machucava seu irmão de propósito com alfinetes, socos e pontapés. Ela chegou a tentar matar o irmão e os pais adotivos durante a noite. A garota também tinha sérios acessos de raiva e queria esfaquear os pais e o pequeno John. Com medo do que a menina pudesse fazer enquanto dormiam, os pais começaram a trancá-la no quarto durante a noite.
Diante da gravidade do caso, o psicólogo determinou que Beth deveria ficar longe de sua família por um bom tempo e ser internada em uma instituição especializada em atender a crianças vítimas de abusos. Beth havia adquirido transtorno do apego reativo, que atinge principalmente bebês e crianças.
Com a intensa terapia, a menina se recuperou e teve a oportunidade de viver uma vida normal. Hoje ela é enfermeira de UTI neonatal e abriu uma clínica com a mãe para tratar de crianças com traumas sérios.
CASO TRÁGICO
Aos dez anos, a britânica Mary Bell foi condenada por matar dois meninos, um de quatro e outro de três anos, em 1968. Em seu diagnóstico, ela foi descrita como tendo alguns sintomas de psicopatia.
No entanto, em 1980, ela foi liberada sob custódia. Ela obteve o anonimato para recomeçar a vida e teve uma filha em 1984.
Em 2007, aparentemente vivendo uma vida normal, ela aceitou dar entrevista à jornalista Gitta Sereny, que escreveu o livro Gritos no Silêncio sobre sua infância. No relato ela conta que sua mãe tinha sérios problemas mentais e tentou assassiná-la pelo menos uma vez.
Amanda Martins, estagiária do R7
http://noticias.r7.com/…/anjos-perversos-existe-crianca-do-…

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