Sempre penso em não voltar a
escrever e bater, literalmente, na mesma tecla, mas, sempre volto atrás e trato
do velho e cansado tema: falta de envolvimento.
Passam-se os anos e as
reclamações só aumentam.
- Tem dois anos que entrei com
meu pedido de habilitação e até agora nada.
- Já estou habilitado há cerca de
quatro anos e ainda não fui chamado.
- Dra. Porque meu processo de
adoção não termina?
- Quando vai sair a guarda
definitiva?
- Esse menino não se adaptou a família,
queremos devolvê-lo.
- Essa menina é terrível, não
para um minuto.
- Recebi essa criança, como faço
para ficar com ela?
- Uma amiga da filha da minha
empregada que mora no Piauí vai “doar” o filho. Posso ir buscá-lo?
Será que as pessoas que fazem
essas perguntas participaram dos grupos de apoio à adoção? Será que sabem que
lei é a 8.069/90? Sabem o que é destituição do poder familiar? Família extensa?
Guarda? Adoção? Será que participam do pós-adoção?
Não canso de me perguntar o
porquê de tamanho desinteresse, e descomprometimento, perante algo de tal
grandiosidade como a formação da própria família.
Realizamos alguns abaixo
assinados durante o ano, nenhum deles atingiu o número pretendido de
assinaturas. Realizamos audiências públicas, seminários, eventos, caminhadas
onde a presença foi sempre mínima.
Onde estão as 30 mil pessoas
habilitadas à adoção? Onde estão os que reclamam da morosidade da lei, da falta
de comprometimento de juízes e promotores de justiça?
Parece que somos loucos gritando
para pedras em pleno deserto onde nem ecos recebemos de volta. Nada do que
dizemos ecoa ou se instala, tudo volta ao começo num eterno círculo sem fim e
sem lógica, andamos, retrocedemos, todos acompanham o retrocesso e nada fazem.
Do que essa maluca está falando?
De várias coisas, de várias pessoas, de vários casos. Das Dudas, Marcelos,
Nicolas e tantos outros. Da Comissão da Infância que não será instalada porque
não demonstramos o que queremos e nem nos empenhamos em fazer valer a nossa
força, afinal... que força? O PLS 379/2012 que será mais um retrocesso no universo
adotivo e que teve mobilização quase zero dos que serão atingidos por ele.
Por quem lutamos se os maiores
interessados não se movem?
Lutamos pelo direito de milhares
de crianças de serem reconhecidas como sujeitos de direitos, de serem
respeitadas em seu melhor e maior interesse e de não serem coisificadas. Luta
inglória? Não, jamais será inglória a medida que um único sorriso dissipa anos
de frustração.
Nós, formigas dos grupos de apoio
à adoção, continuaremos nossa luta por cada criança que se torna filho ou
filha, membro de uma VERDADEIRA família. Por ela dispensamos nossa energia e
nossos talentos, cada um dentro da sua própria área e capacidade de se doar.
Somos muitos, mas não tantos assim e precisamos que todos se envolvam como
sociedade e pelo exercício da própria cidadania.
Parem de reclamar e passem a agir!
Estudem o ECA, leiam, questionem-se, pesquisem. Conheçam a realidade das
crianças em acolhimento institucional e, mais que isso, envolvam-se!
Nós somos responsáveis pelos
crimes cometidos por nossa omissão e o não envolvimento é uma omissão.
2015 está chegando e é o momento
de firmamos os nossos compromissos, vamos firmar o compromisso pela não omissão
e pela participação?
Você que já adotou, e que,
portanto, não vive mais o problema, esqueceu como foi formada a sua família?
Não se isente nem se afaste, você faz parte desse movimento.
Então, podemos contar com você?
Podemos contar com todos vocês?
Silvana do Monte Moreira
Diretora Jurídica da ANGAAD
Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção
2 comentários:
Silvana - Assino embaixo! Parece que tiraste as palavras da minha garganta. Palavras que precisavam ser gritadas aos quatro ventos!
Parabéns e obrigada por expressar tão os nossos sentimentos!
Suzana Sofia Moeller Schettini
Silvana - Assino embaixo! Parece que tiraste as palavras da minha garganta. Palavras que precisam ser gritadas aos quatro ventos!
Parabéns e obrigada por expressar tão os nossos sentimentos!
Suzana Sofia Moeller Schettini
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