terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O QUEBRA-CABEÇA DA VIDA DE NANDA


14/12/2014
Raphael Guerra
Diario de Pernambuco
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A artista plástica recifense Fernanda Thompson, 47, recebeu há seis anos uma notícia que provocou reviravolta na vida dela. Pouco antes de morrer, a mãe, Cléa Ramos, revelou que a filha era adotada.
Moradora dos Estados Unidos, Fernanda tentou descobrir sua origem a partir de relatos de parentes, ex-vizinhos e amigos.
Um mapeamento genético apontou que ela pode ter parentesco com uma tradicional família pernambucana. “A ideia de passar o resto da minha vida com esse buraco no meu passado é assustadora.
Quero celebrar meu aniversário no dia correto.” Nesta edição, o Diario conta a saga da recifense para montar o próprio quebra-cabeça.
O PASSADO
Fernanda Costa D’Azevedo Ramos, supostamente nascida na Maternidade do Derby em 16 de dezembro de 1966, filha de Cléa e Fernando Ramos. São essas as informações que constam na certidão de nascimento da recifense, que viveu até os 26 anos na terra natal. Em todo esse tempo, o assunto adoção nunca entrou em pauta nas conversas de família. A relação entre ela e os pais era a melhor e mais natural possível. Durante intercâmbio nos Estados Unidos, Nanda, como também é chamada, conheceu o homem por quem se apaixonou e decidiu morar com ele. Casou, teve filhos. Passou a se chamar Fernanda Thompson. A vida parecia completa, até que, em 2008, veio a surpresa. “Alguns meses antes da minha mãe morrer, precisei fazer exame de sangue. O resultado não bateu com o dela. Foi quando ela revelou que eu era adotada, mas disse não lembrar como cheguei até a casa dela”, disse. Parentes também alegaram desconhecer o assunto.
OS DESENCONTROS
Com a revelação, Fernanda procurou parentes para fazer exames de DNA. Todos deram negativo. “Falei com mais de 60 pessoas da minha família e de vizinhos da época para me ajudar.” Várias versões, incompletas, surgiram. Uma tia relatou que o marido, já falecido, teria ido buscar o bebê em local desconhecido e que depois o colocou numa cestinha para, na hora marcada, deixá-lo no terraço da casa dos pais adotivos. “Minha babá que trabalhava em casa na época contou que minha mãe sabia que eu iria chegar pois mandou arrumar um quarto.” Uma vizinha disse que o aniversário dela se trata da data que ela chegou à residência, e não de fato o dia que ela nasceu. Também soube que outra vizinha sabia explicar a real história, mas a mesma se negou a contar. “Descobri que minha mãe e amigas faziam adoção ‘à brasileira’, com ajuda de um obstreta. Elas indicavam famílias para crianças que os pais biológicos não podiam criar.”
AS PISTAS
A alternativa foi contratar uma empresa de mapeamento genético nos EUA. O comparativo do DNA revela pessoas com graus de parentesco e a cidade de descendência. “Nem imaginava que ia ter sucesso. Fiquei surpresa ao saber que em minha lista constava duas primas de quarto grau do Recife. Uma delas, Patrícia, respondeu minha mensagem. Mas contou que também havia sido adotada.” A outra, de sobrenome Didier, não falou. “Comecei a pesquisar na internet pessoas com esse sobrenome.” A recifense encontrou o telefone de uma pousada em Olinda, cuja dona é da família Didier. “Ela pediu que eu mandasse e-mail. Uma semana depois, a filha dela e um sobrinho prometeram me ajudar. Por meio de uma amiga, conheci outra possível parente.” O resultado do exame de DNA com mais uma Didier confirmou o parentesco. Com esperanças renovadas, Fernanda agora tenta novos testes para desvendar o mistério.
DEPOIMENTOS
“A história de Nanda chegou por amigos em comum. Desde o início decidimos ajudar. Isso também ajudou a unir a família Didier. Como temos árvore genealógica, tentamos procurar uma pessoa ligada a cada um dos dez irmãos do meu avô para fazer o exame de DNA. Um dos resultados já comprovou o parentesco de 4º grau com uma Didier. Mais exames estão sendo feitos. Sempre que conto a história dela, as pessoas se sensibilizam.” Gisela Didier, jornalista
“Quando descobriu o possível parentesco, Nanda encontrou o nome da minha mãe na internet. Ela telefonou e explicou o que aconteceu. Pediu que se alguém da família tivesse uma história sobre adoção que pudesse ajudá-la que contasse. Numa reunião de família, na Semana Santa, com 50 pessoas, contei o relato. Todo mundo começou a se questionar. A gente começou a se mobilizar para, através das histórias da família, poder chegar a um denominador comum.” Marília Didier, arquiteta
http://www.diariodepernambuco.com.br/…/o-quebra-cabeca-da-v…

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