domingo, 16 de março de 2014

ADOÇÃO POR AMOR


06/03/2014
Tão importante quanto o desejo é a preparação dos pretendentes; casos de arrependimento servem de alerta
Londrina
Adotar é um ato de amor, mas mesmo com boas intenções, nem todos os pais se preparam para fazer parte de uma nova família. Cada criança escolhida tem sonhos e expectativas, assim como os adultos que consideram uma série de fatores para decidir formalizar o cadastro na fila da adoção.
Dois casos registrados em Guarapuava (Centro-sul) despertaram a atenção do promotor de Justiça Guilherme Carneiro de Rezende, daquela cidade. No final de janeiro, ele foi procurado por um casal que pretendia "desistir" de uma criança. Após uma longa conversa, os pais decidiram continuar com o filho adotivo.
No entanto, outro casal entrou em contato com o Ministério Público e, argumentando que a menina adotiva de oito anos apresentava atitudes inadequadas, a devolveram à Justiça. O MP ingressou com uma ação contra o casal e solicitou o pagamento de uma indenização por danos morais à criança. "Em Santa Catarina encontrei um desembargador que defende que é preciso acabar com essa prática, em que pais escolhem a criança como se fosse um objeto e, quando não se quer mais, vai e devolve", ressalta o promotor.
Para ele, a indenização é necessária, já que a menina provavelmente terá que receber acompanhamento psicológico para ajudá-la a entender o que ocorreu. Ela também terá que ser preparada para uma nova adoção. "A criança que está para ser adotada não consegue fazer uma reserva mental do tipo ‘não vou me envolver com essa família porque pode ser que dê errado’, mas o casal sim. Eles passam por um período de habilitação, já refletiram e têm maturidade suficiente para saber que vão entrar em um processo difícil", salienta. A ação proposta no dia 14 de janeiro ainda não foi julgada.
Em Londrina, dois casos de rejeição foram constatados nos últimos seis anos. Em uma das situações, um casal se inscreveu no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) por não conseguir ter filhos biológicos. Depois de finalizado o processo, veio a notícia da gravidez. "Eles passaram a dar mais atenção ao filho biológico e procuraram a Vara da Infância para comunicar a decisão de devolver a criança", relata o juiz da 1ª Vara da Infância e Juventude de Londrina, Ademir Richter.
No outro caso, os pais já tinham três filhos biológicos. "Os três não se entenderam com o filho adotivo e os adultos optaram pela devolução", conta. Nas duas situações, as crianças possuíam, aproximadamente, 4 anos, e foram obrigadas a retornar para os abrigos.
CULTURA
A advogada Silvana do Monte Moreira, presidente da Comissão de Adoção do Instituto Brasileiro de Direito de Família (Ibdfam) e diretora jurídica da Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção, ressalta que "o princípio que deve prevalecer é do melhor interesse para a criança". Segundo ela, muitas pessoas ainda buscam a adoção por motivos "descabidos". "Algumas pessoas não estão adotando pela criança, mas pelas suas frustrações pessoais. Criança não cobre buraco de ninguém", acrescenta. Segundo ela, a divulgação de casos na mídia e a reformulação da lei 12.010/2009, chamada "Lei de Convivência Familiar", têm motivado a parceria entre grupos de apoio à adoção e o Judiciário.
Em todo o país são cerca de 100 grupos de apoio à adoção. Em Londrina, um grupo de pais adotivos tem a intenção de criar um. A Vara da Infância e Juventude também oferece um curso preparatório para os habilitandos, que será realizado de 17 a 20 de março, na Faculdade Inesul.
"Hoje, estamos todos adaptados e em família, o que é o mais importante", diz Brígida Schneirder, com o marido Laércio e os três filhos
Micaela Orikasa e Viviani Costa
Reportagem Local
http://www.folhaweb.com.br/?id_folha=2-1--555-20140306&tit=adocao+por+amor

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