5/7/2014
Enviado por Marcela Freitas
Quem vê o sorriso nos lábios da escritora, historiadora e funcionária pública Maura de Oliveira Lobo, de 45 anos, nem imagina a luta que ela travou pela vida desde os seus primeiros anos de vida. Autora de três livros, já se preparando para lançar o quarto em novembro, a carioca e moradora de São Gonçalo tenta fazer das suas lembranças ruins da infância e adolescência, como agressões, pedofilia, abandono e fome, o seu combustível para ajudar ao próximo. E ela tem conseguido. Hoje, Maura se tornou palestrante, uma das mais requisitadas no país, e já viajou por todo o mundo contando a sua história.
Apesar de tantos dados de crimes contra criança, Maura não quis fazer parte apenas de uma estatística e mudou sua história. Ela se formou em história e fundou a Organização Não Governamental (ONG) Life, no Rio de Janeiro, voltada para crianças, jovens e adultos excluídos socialmente. Mas, só isso não bastava, ela então lançou seu primeiro livro: “A Menina de Ontem”, que conta a história de sua vida; “Falando de Amor”, que descreve sobre casamentos; e o “Primeiro Emprego Já”, que ajuda e orienta jovens na busca pelo primeiro emprego.
Em novembro, Maura se prepara para lançar o livro “Anjos da Escuridão”, primeiro livro apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU), onde Maura é chancelada. “Este livro vai trazer relatos de cem casos reais de pedofilia que foram catalogados por mim, através de um trabalho de pesquisa feito na Vara da Infância e Adolescência do Rio. Ele será lançado em português e inglês e vai ser voltado à exploração infantil. O livro servirá como base de apoio aos estudiosos e vem com o intuito de esclarecer. Ele está em fase de conclusão, mas o conteúdo e capa já foram finalizados”, afirmou.
HISTÓRIA
Nascida no Rio de Janeiro, em 1969, Maura era de uma época que criança não tinha direito e não havia proteção do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Aos quatro anos, ela foi retirada de sua família e foi morar nas ruas. Ela foi adotada por uma moradora de rua, que lhe deu o sobrenome Oliveira. Sem referências familiares, Maura passou a perambular pelas ruas e trabalhava nas feiras públicas em troca de frutas e moedas. Algumas famílias chegaram a ensaiar uma adoção, mas por ter saúde fragilizada e não saber fazer tarefas domésticas, ela era sempre posta na rua.
O sonho da menina era só um: estudar. Aos seis anos, o problema parecia ter sido solucionado. Maura foi levada à casa de uma família tradicional, em que o patriarca era militar, a mãe diretora escolar e a filha assistente social. Mas, os problemas só estavam começando. A família a fez responsável pelo trabalho doméstico e Maura viveu pela primeira vez o pesadelo da pedofilia. Se não bastassem esses problemas, ela apanhava quase que diariamente. Apesar disso, para manter as aparências, a família a matriculou em uma escola e foi aí que Maura percebeu que, através dos estudos, poderia mudar sua história.
REVERTENDO A HISTÓRIA
Após sofrer três anos de violência sexual do pai da família, Maura foi levada pela filha do casal ao Rio Grande do Sul, para onde ele se mudou após casar com um militar dentista. “Quando ela me levou, sabia que continuaria nos afazeres domésticos, mas achava que havia me livrar da pedofilia. Mas, na primeira noite, o marido dela me violentou e isso aconteceu por seis anos. Eu tinha estabelecido uma meta. Aos 16 anos, escreveria um novo capítulo da minha história. Por meio da Justiça, consegui a minha liberdade”, contou.
Através da leitura, Maura conheceu seus direitos. Sem que a família soubesse, ela buscou ajuda na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que conseguiu guarda provisória de Maura para uma amiga, visando sua proteção. “Naquela época havia concluído o magistério e, em seguida, entrei na universidade. Consegui o direito de realizar um concurso público e passei em primeiro lugar. Apesar de toda a dor, sei que Deus preparou tudo da maneira que deveria acontecer. Hoje, sou uma pessoa extremamente feliz com meu marido e dois filhos de 20 e 16 anos”, contou.
Maura foi vítima de agressão, pedofilia e abandono, mas tornou sua história de vida em combustível para ajudar ao próximo (Foto: Alex Ramos) ::
http://www.osaogoncalo.com.br/geral/2014/7/6/62467/a+escritora+da+supera%C3%A7%C3%A3o
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