Silvana do Monte Moreira, advogada, sócia da MLG ADVOGADOS ASSOCIADOS, presidente da Comissão Nacional de Adoção do IBDFAM - Instituto Brasileiro de Direito de Família, Diretora de Assuntos Jurídicos da ANGAAD - Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção, Presidente da Comissão de Direitos das Crianças e dos Adolescentes da OAB-RJ, coordenadora de Grupos de Apoio à Adoção. Aqui você encontrará páginas com informações necessárias aos procedimentos de habilitação e de adoção.
sábado, 25 de maio de 2013
Adoção cria uma grande família
- Atualizada às
Cresce o número de pretendentes que adotam grupos de irmãos e que aceitam crianças sem restrições de aparência ou idade
Maria Luisa Barros
Rio - A primeira vez que a arquiteta Cláudia, 48
anos, viu a filha adotiva Carolina, hoje com 16, ela estava em um abrigo
em Macaé, interior do Rio.
Esperta, a pequena se aproximou, deu um abraço
apertado e, sem perder tempo, chamou os três irmãos menores. Tinham
entre 2 e 8 anos e haviam sido encontrados em casa, sozinhos, pelo
Conselho Tutelar.
Cláudia ficou encantada. Mas havia um
problema. Ela e o marido,o representante comercial Sérgio Sobral, 50
anos, moradores de Niterói, queriam, como a maioria, apenas uma criança,
e de até 4 anos.
O casal Sérgio e Cláudia se diverte com os quatro irmãos adotadospor eles há oito anos: uma nova tendência
Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Passaram a fazer visitas semanais e,
quando se deram conta, não conseguiam mais ficar longe das crianças. Com
a ajuda do Quintal da Casa de Ana, grupo de apoio à doação, o casal foi
amadurecendo a ideia da adoção tardia (voltada para crianças maiores de
dois anos).
“Eles preencheram nossa vida”, reconhece Cláudia,
que obteve a guarda definitiva dos quatro filhos. É cada vez maior o
número de famílias que venceram as inseguranças que envolvem a adoção de
crianças maiores, adolescentes, de qualquer raça e com deficiências ou
com doenças como a Aids.
Dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA)
apontam mudança no perfil dos filhos adotivos no Brasil e revelam que,
nos últimos dois anos, caiu de 19,6% para 16% o percentual de famílias
interessadas em adotar apenas crianças menores de um ano. Em 2010, 31%
dos pretendentes não se importavam com a raça da criança ou do
adolescente disponível para a adoção.
A barreira racial continua forte para a maioria,
mas no ano passado subiu para 37,7% o índice dos que não selecionam a
criança pela cor da pele. Também caiu de 4.020 para 2.559 o universo de
crianças pardas à espera da nova família. Adaptação
De acordo com o Conselho Nacional de
Justiça, dos 28 mil pretendentes à adoção, 82,8% não aceitam grupos de
irmãos, e só 2,78% levariam para casa crianças de 6 anos. A partir desta
idade, cai para menos de um dígito o percentual de famílias dispostas à
adoção.
Apesar do avanço, muitas famílias temem
que crianças maiores não sejam capazes de superar os traumas do
abandono ou carreguem para a vida o “gene” da criminalidade dos pais
biológicos.
Pela alta carga de preconceito, a preferência é
por recém-nascidos brancos e do sexo feminino. Quem mudou o jogo sabe
que a adaptação não é fácil.
“Tínhamos uma casa silenciosa, só para nós. De
repente passamos a cuidar de quatro crianças sem muito dinheiro e sem
empregada”, diz Cláudia.
Mas ela não se arrepende da adoção tardia.
“Quando chegávamos em casa, vinham correndo nos abraçar e beijar, como
filhotinhos cheios de carência. O amor compensa tudo.” Três filhos de casal ganham duas irmãs
A primeira, Ana Laura, chegou com apenas três
dias de vida. A segunda, Maria Fernanda, foi adotada com 1 ano. As duas
ganharam mais três irmãos, filhos da advogada Bárbara Toledo e do
promotor de Justiça Sávio Bittencourt.
As dificuldades no processo de adoção levaram o
casal a criar, há dez anos, o Quintal da Casa de Ana, para ajudar outros
pais nesse árduo caminho. Com o lema “Para cada criança, uma família”, o
espaço conta com um núcleo de incentivo à adoção tardia.
Psicólogos procuram conscientizar as famílias de
que é possível receber grupos de irmãos, crianças mais velhas, negras,
adolescentes e com deficiências ou doenças. A missão é tentar evitar que
crianças sejam esquecidas nos abrigos.
“Muitas vezes, a criança fica anos no abrigo, na
esperança de que um dia a família biológica se recupere do alcoolismo ou
da dependência química. Só que a infância passa, vai só até os 12
anos”, lembra Bárbara, que procura derrubar toda forma de preconceito.
“Criança não é um poço de vício e de defeitos
como fica no imaginário das pessoas. Como qualquer filho, ela testa o
seu amor. Só que, de filho, não se desiste. Com tolerância e amor, é
possível contornar uma situação difícil”, ensina Bárbara, que é
presidente da Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário