Amor Cuidado
Publicado em 02.05.2013, às 11h27
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para tentar proteger o filho do sol causticante de quase meio-dia (...)
curvou-se para frente e postou as duas mãos rentes sobre a cabeça do
menino''
Foto: Divulgação
Por Guilherme Lima Moura
Há algumas semanas eu passava de carro por uma movimentada avenida,
quando pude notar quase num piscar de olhos uma cena marcante. Talvez
para muitos ela passasse despercebida, mas nunca escaparia de olhos
paternos. Era um garoto de seis ou sete anos que aguardava na calçada a
oportunidade para atravessar a rua. Ele estava numa cadeira de rodas
dessas próprias para crianças. Eu o vi bem na hora em que chegava à
calçada conduzido pelo pai.
Foi quando percebi o detalhe especial. Ao parar de empurrar a cadeira, e para tentar proteger o filho do sol causticante de quase meio-dia, aquele homem de meia idade imediatamente curvou-se para frente e postou as duas mãos rentes sobre a cabeça do menino. E assim ficou como uma estátua aguardando poder retomar seu percurso. Mãos de pai e mãe: como não podiam mais conduzir, passaram a abrigar.
A cena emocionou-me na hora. Eu que já cheguei à famosa faixa etária dos “enta”, sei bem o preço que a coluna lombar nos cobra por esta postura. Mas naquele semblante de pai só havia serenidade. O gesto que pode parecer banal para alguns é certamente uma pequena, porém representativa amostra do amor de pai e mãe, que no caso daquele homem converteu-o numa espécie de acessório do filho cadeirante.
Atitude de pai e mãe. Atitude adotiva.
Por amar-se, sabe amar e desta forma é protagonista de si mesmo. Dispensa as expectativas que lhe são projetadas
Ora, o acessório é complemento, é coadjuvante do principal. Assim é o verdadeiro amor porque quem cuida de alguém coloca-se, por assim dizer, em uma espécie de segundo plano. E faz isso naturalmente em favor de quem é amado. Nada de submissão doentia. É puro prazer. Quem ama não se anula porque ama primeiramente a si mesmo. Mas, justamente por amar-se, não sofre das carências que exigem os holofotes do mundo. Por amar-se, sabe amar e desta forma é protagonista de si mesmo. Dispensa as expectativas que lhe são projetadas.
Para além de tantos “eu te amo” só há amor quando há cuidado. E não vale se for de vez em quando, para inglês ver. Revela-se nos pequenos momentos de todo dia. Não é ação, é atitude. Luiz Schettini explica muito bem a diferença com uma interessante metáfora geométrica: ação é ponto, atitude é linha. A ação é pontual, a atitude é contínua. Amor de pai e mãe é atitude adotiva porque amor cuidado é forma de vida.
Amor de pai e mãe é amor cuidado.
Não cheguei a conhecer aquele menino e seu pai cuidadoso. Mas conheço muitos pais e mães de verdade que aqui estão representados por aquela cena de poucos segundos. Uma imagem marcante como marcante é o verdadeiro amor.
Pais e filhos de verdade conectam-se pelo único laço que prescinde de todas as convenções exteriores. Realizam-se no único motivo que faz as pessoas quererem realmente estar umas com as outras. Distinguem-se pela única característica que separa uma família de um mero aglomerado de pessoas.
Pais e filhos de verdade são pais e filhos que se cuidam.
*As colunas assinadas não refletem, necessariamente, a opinião do NE10
Foi quando percebi o detalhe especial. Ao parar de empurrar a cadeira, e para tentar proteger o filho do sol causticante de quase meio-dia, aquele homem de meia idade imediatamente curvou-se para frente e postou as duas mãos rentes sobre a cabeça do menino. E assim ficou como uma estátua aguardando poder retomar seu percurso. Mãos de pai e mãe: como não podiam mais conduzir, passaram a abrigar.
A cena emocionou-me na hora. Eu que já cheguei à famosa faixa etária dos “enta”, sei bem o preço que a coluna lombar nos cobra por esta postura. Mas naquele semblante de pai só havia serenidade. O gesto que pode parecer banal para alguns é certamente uma pequena, porém representativa amostra do amor de pai e mãe, que no caso daquele homem converteu-o numa espécie de acessório do filho cadeirante.
Atitude de pai e mãe. Atitude adotiva.
Ora, o acessório é complemento, é coadjuvante do principal. Assim é o verdadeiro amor porque quem cuida de alguém coloca-se, por assim dizer, em uma espécie de segundo plano. E faz isso naturalmente em favor de quem é amado. Nada de submissão doentia. É puro prazer. Quem ama não se anula porque ama primeiramente a si mesmo. Mas, justamente por amar-se, não sofre das carências que exigem os holofotes do mundo. Por amar-se, sabe amar e desta forma é protagonista de si mesmo. Dispensa as expectativas que lhe são projetadas.
Para além de tantos “eu te amo” só há amor quando há cuidado. E não vale se for de vez em quando, para inglês ver. Revela-se nos pequenos momentos de todo dia. Não é ação, é atitude. Luiz Schettini explica muito bem a diferença com uma interessante metáfora geométrica: ação é ponto, atitude é linha. A ação é pontual, a atitude é contínua. Amor de pai e mãe é atitude adotiva porque amor cuidado é forma de vida.
Amor de pai e mãe é amor cuidado.
Não cheguei a conhecer aquele menino e seu pai cuidadoso. Mas conheço muitos pais e mães de verdade que aqui estão representados por aquela cena de poucos segundos. Uma imagem marcante como marcante é o verdadeiro amor.
Pais e filhos de verdade conectam-se pelo único laço que prescinde de todas as convenções exteriores. Realizam-se no único motivo que faz as pessoas quererem realmente estar umas com as outras. Distinguem-se pela única característica que separa uma família de um mero aglomerado de pessoas.
Pais e filhos de verdade são pais e filhos que se cuidam.
*As colunas assinadas não refletem, necessariamente, a opinião do NE10
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