sábado, 25 de maio de 2013

AMOR QUE VAI ALÉM DOS LAÇOS SANGUÍNEOS



Sábado 25/05/2013
Textos: Redação / reportagem@atribunanet.com

Um amor incondicional. É assim que a costureira Solange Fernandes Zeferino define o sentimento que possui pelos três filhos. Porém, apenas um deles é fruto do seu ventre. Por dez anos ela e o marido tentaram ter um filho, mas a impossibilidade de engravidar, fez com que eles tomassem a decisão de adotar uma criança. Foi quando encontraram o jovem Luiz Felipe Zeferino Pacheco, hoje com 12 anos de idade. Quando Solange já estava com Luiz, na época com cinco anos, o destino lhe presenteou. Ela engravidou e, apenas nove meses após ter adotado o menino, o pequeno Mateus veio ao mundo.
Solange se dedicou aos seus dois filhos, mas a vontade de ter uma menina sempre o acompanhou e, para não correr o risco tentando engravidar, decidiu aumentar a família fazendo mais uma adoção. Porém, desta vez a atitude dela foi pouco comum. Ela escolheu realizar uma adoção tardia e acolheu uma menina de 15 anos que estava grávida.
“Ficamos sabendo da história dela e não conseguimos dormir. Queríamos uma menina e decidimos adotá-la, mesmo sabendo que ela estava grávida de seis meses e estava esperando uma menina. No início sofremos preconceito da sociedade porque diziam que nós queríamos apenas o bebê, mas não foi assim. Eu acompanhei o parto da criança dela e é como se ela já fosse minha filha há tempos. Eu sempre digo que eu adotei uma filha e ganhei uma neta. O processo foi difícil, mas quando a gente quer a gente corre atrás e consegue”, conta Solange.

ADOÇÃO RECENTE
A adoção de Yasmin* foi recente. Ela está com a família ainda no período de adaptação e convivência. A neta de Solange já está com dois meses e é rodeada pelos irmãos. Mas a história de Yasmin começou a ser reescrita quando foi adotada. Desde que nasceu sempre conviveu no meio de traficantes e usuários de drogas. Quando completou seis anos, foi entregue pela própria mãe para ser estuprada. E assim foi crescendo até a justiça recolher da família e levar para uma casa de apoio.
Revoltada com algumas questões internas, ela fugiu da casa e foi morar na rua até conhecer um homem pelo qual se apaixonou e foi morar com ele. A relação durou apenas seis meses e, sem ter para onde ir, acabou voltando para a rua. Quando descobriu que estava grávida, procurou ajuda e, antes mesmo do bebe nascer, Solange entrou com o processo para adotá-la. “Eu nunca tive um amor de pai e mãe e sempre quis isso. Agora eu tenho e sou muito grata por isso. Eu voltei a sonhar. Hoje tenho amigos e as pessoas me olham de um jeito diferente de como era antes”, relata Yasmin.

DIVISÃO DO TEMPO
Dividindo o tempo entre o trabalho, os filhos e a neta, Solange aprendeu uma lição que deseja passar para outras pessoas que também desejam adotar uma criança. “Os pais tem que se doar antes de receber. Deve dar o máximo para cuidar do novo filho e aí recebe em troca o carinho e o respeito, e isso não tem preço”, ressalta ela.
A história de Solange, que adotou uma filha e ganhou uma neta é pouco comum no Brasil. Mas existem várias famílias que vivem situações parecidas. Com intuito de celebrar este ato que muitas vezes salva a vida de crianças e adolescentes, é que foi instituído o Dia Nacional da Adoção, comemorado no dia 25 de maio. Várias mudanças aconteceram, mas ainda há muito para evoluir, já que se trata de uma questão delicada para a sociedade.

MAIORIA PREFERE MENINA
Para adotar uma criança é necessário realizar um curso preparatório. As pessoas procuram a assistente social do fórum da comarca e recebem todas as orientações. Os documentos são providenciados e o processo dura cerca de seis meses, onde há uma preparação, até que o nome seja incluído no cadastro de adoção e entre na fila de espera. O tempo de espera varia de acordo com o perfil da criança que a pessoa deseja. “Quando a criança já está disponível o processo é mais rápido. Porém o pretendente deve ter as condições mínimas para dar educação e bem-estar para a criança. Por isso é feito um estudo social e diversas entrevistas antes com os pretendentes”, salienta a assistente social do fórum de Criciúma, Pâmela Guimarães Lino.
Passado todas as etapas é iniciado o processo de convivência para ver se a família e a criança se adaptam. De acordo com Pâmela, somente em 2013 já foram realizados sete processos de adoção que estão no período de convivência no município. “Atualmente não há nenhuma criança ou adolescente pronta para adoção em Criciúma”, revela a assistente social.
Cerca de 80% dos inscritos no cadastro e adoção preferem crianças até três anos, do sexo feminino e sem irmãos. Por esse motivo o tempo na fila de espera é maior. “Estamos realizando uma conscientização durante os cursos para que as pessoas mudem o perfil e aceitem também crianças com idade acima dos três anos. O tempo na fila de espera diminui e as crianças maiores também precisam de um lar, de uma família”, frisa Pâmela.

APOIO ÀS FAMÍLIAS
Para apoiar as famílias que estão em processo de adoção, ou já adotaram uma criança, foi fundada em 2006 a Ong Amor Incondicional. Após um tempo desativado, o grupo de apoio à adoção voltou a realizar atividades e debater o assunto no último ano. Segundo o presidente da entidade, Ronaldo De Moura Viana, o objetivo é instruir as pessoas que necessitam. “O trabalho da Ong é orientar, ajudar e informar as pessoas sobre a adoção e sua importância, através de eventos e palestras”, ressalta ele.
Viana também é pai adotivo. Ele possui dois filhos biológicos e, após sete anos na fila, adotou um casal de irmãos, uma menina de três anos e um menino de cinco.
Para entrar em contado com a Ong e conhecer o trabalho desenvolvido pela entidade basta acessar o site www.ongamorincondicional.wix.com ou enviar email para ongamorincondicional@gmail.com. O contato também pode ser feito pelos telefones 9947-9655 e 9604-4519.

QUEM PODE ADOTAR
Não é necessário ser casado para adotar uma criança. Homens e mulheres solteiros também podem realizar a adoção, assim como os casais homoafetivos. “O processo é o mesmo. Basta ter as condições necessárias para a adoção”, salienta Pâmela.

DADOS DE 2013
- Em todo o estado de Santa Catarina existem 2.794 pretendentes à adoção. Na comarca de Criciúma existem 87 pessoas na fila de espera.
- 1.521 crianças e adolescentes já foram acolhidos, sendo 735 meninas e 786 meninos
- 286 crianças foram destituídas do poder familiar e estão aptas para adoção. Destas, 179 com idade acima dos 7 anos.
- Em Criciúma já foram adotadas 7 crianças e adolescentes neste ano e não há mais nenhuma pronta para ser adotada.
(Fotos: Leonardo Zanin)
http://www.atribunanet.com/noticia/amor-que-vai-alem-dos-lacos-sanguineos-92221

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