25/05/2013 10h17
Katherine Coutinho
Em Alagoas, 248 crianças e adolescentes estão à espera de uma nova
família. Órfãos, filhos de famílias desestruturadas ou de usuários de
drogas. As histórias variam, mas a necessidade de afeto, cuidado e
dedicação é a mesma e, quanto mais velha, mais distante a pessoa fica de
conseguir alguém para chamar de pai e mãe.
Menina, com menos de dois anos e branca. Esta é a preferência da maioria das pessoas que integram o Cadastro Nacional de Adoção. O motivo é simples: busca-se alguém que pareça com a família e que possa ter as suas principais fases acompanhadas pela nova família. O problema é que esse não costuma ser o perfil das crianças que vão para a adoção e milhares de pequenos continuam nos abrigos, o que faz com que as famílias tenham uma longa espera por alguém que se enquadre nas suas preferências.
O Dia Nacional da Adoção é comemorado neste sábado (25). Segundo informações da Corregedoria Geral da Justiça de Alagoas (CGJ/AL), no estado, há 73 habilitados para adoção, sendo 50 em Maceió. De 2004 a 2012, foram feitas 3.161 adoções no estado, 12 delas foram adoções internacionais. A última ocorreu em 2010, feita por um casal nas Filipinas.
Enquanto esperam por alguém que lhes proporcione uma nova vida, os menores de 18 anos ficam em casas que podem ser públicas (mantidas pela Prefeitura ou pelo Estado) ou privadas. Essas Organizações Não Governamentais (ONGs) geralmente são criadas por voluntários. Esse foi o caso do Lar de Amparo à Criança para Adoção (Laca). Após trabalharem por mais de 10 anos em uma instituição pública para crianças de 0 a 7 anos, 10 voluntárias se uniram e fundaram o Laca.
“Após sermos impedidas pela Prefeitura de continuar o nosso trabalho voluntário em uma casa de amparo de Maceió, nós decidimos que esse é um trabalho importante demais para que nós parássemos por questões políticas. Assim surgiu o Laca. Desde a fundação até agora, nós vivemos de doações, que geralmente vêm de amigos, familiares e, até mesmo, voluntários, que conhecem o nosso trabalho”, contou Margarida Navarro, fundadora da ONG, que atualmente abriga nove crianças, sendo sete delas bebês.
Apaixonante
Mesmo com tanto tempo envolvida com um trabalho desse gênero e três filhos, foi impossível para a voluntária não se apaixonar pela pequena Sara, que, à época, tinha apenas oito meses de idade.
Margarida explica que a mãe biológica da criança é usuária de drogas, o que fez com que o conselho tutelar a conduzisse para um abrigo. “Eu nunca imaginei que fosse adotar uma criança, justamente por já ter os três filhos que planejei. Mas foi inevitável que isso acontecesse quando conheci a Sara. Inscrevi-me na lista de adoção, esperei que a destituição do direito paternal corresse para, então, ter a guarda definitiva da minha caçula”.
Os filhos mais velhos de Margarida foram os principais incentivadores da adoção da criança, que tinha problemas de saúde à época. Como a voluntária não estava previamente no cadastro nacional, ela só foi possível porque nenhum outro casal mostrou interesse pela garota. Segundo a fundadora do Laca, o amor é o mesmo, seja o filho biológico ou “do coração”.
Procura
Saber a nossa origem é muito importante para nós, seres humanos, que sempre fazemos o comparativo: “ele tem os olhos da mãe, mas o queixo é do pai”. Essa identificação se torna mais complicada quando a criança é adotada e não conhece seus progenitores. A curiosidade segue até a vida adulta, por melhores que os pais de criação sejam. O meteorologista Sérgio Buarque dos Santos, de 40 anos, é um exemplo disso. “Doado” pela mãe biológica quando ainda era um bebê, ele procurou muitas vezes pela sua mãe, mas não obteve êxito.
“Eu sei apenas o nome dela e a idade que ela tinha quando eu nasci: 21 anos. Ela provavelmente era solteira, o que tornava a maternidade uma questão complicada, uma vez que estamos falando dos anos setenta, em Alagoas. Mas gostaria de saber o que aconteceu, como ela é e se teríamos uma afinidade natural”, explicou.
Seus pais contaram a Sérgio que ele era adotado quando o rapaz completou 12 anos. A adoção foi intermediada pela pessoa que se tornou sua irmã, pois, naquele tempo, pessoas solteiras não podiam adotar. “Eu sempre suspeitei. Minha família é branca de olhos claros e eu sou moreno, mas quando se é criança, isso não tem importância. Meus pais eram muito mais velhos do que eu e quem acabou fazendo as vezes de mãe foi a minha irmã”, relatou.
Criança não é mercadoria
Ao contrário do tempo em que Sérgio nasceu, hoje, pessoas solteiras e casais homoafetivos conseguem adotar, mas é preciso passar por um longo processo, a fim de provar que está realmente apto a atender às necessidades de uma criança ou de um adolescente, porque, além de ser caro criar um filho, ele precisa ter uma estrutura familiar e psicológica que o ajude a se tornar um adulto emocionalmente saudável.
Ingrid Correia do Amaral, coordenadora da Casa de Adoção Rubens Colaço - instituição mantida pela Prefeitura de Maceió - explica que, para adotar, o primeiro passo é procurar a 28º Vara da Infância e da Juventude e informar que deseja adotar alguém. Antes de ingressar no Cadastro Estadual de Adoção, o candidato precisa passar por uma avaliação psicossocial e cursos de capacitação para aprender a lidar com uma adoção.
“Esse processo desanima muitos pretensos adotantes, que acham mais fácil 'pegar' uma criança para criar. Mas se trata de pessoas e não de mercadorias. Esses processos são importantes para que a adoção seja bem sucedida e garanta que ninguém poderá tirar a criança da família quando o processo for finalizado”, esclareceu Ingrid.
As crianças são encaminhadas aos abrigos pelos conselhos tutelares, por estarem em situações de abandono ou maus tratos. Muitas chegam das ruas, em casos de mendicância, porque as mães biológicas não têm como sustentá-las. Por isso, primeiro são procurados outros membros da família que possam se responsabilizar pelo menor de 18 anos. Caso nenhum seja encontrado, ocorre o processo de destituição do direito paternal. Segundo Ingrid, o processo completo pode durar até dois anos; no entanto, após a adoção ser concretizada, a criança ou adolescente passa a ter todos os direitos de um filho biológico.
Menina, com menos de dois anos e branca. Esta é a preferência da maioria das pessoas que integram o Cadastro Nacional de Adoção. O motivo é simples: busca-se alguém que pareça com a família e que possa ter as suas principais fases acompanhadas pela nova família. O problema é que esse não costuma ser o perfil das crianças que vão para a adoção e milhares de pequenos continuam nos abrigos, o que faz com que as famílias tenham uma longa espera por alguém que se enquadre nas suas preferências.
O Dia Nacional da Adoção é comemorado neste sábado (25). Segundo informações da Corregedoria Geral da Justiça de Alagoas (CGJ/AL), no estado, há 73 habilitados para adoção, sendo 50 em Maceió. De 2004 a 2012, foram feitas 3.161 adoções no estado, 12 delas foram adoções internacionais. A última ocorreu em 2010, feita por um casal nas Filipinas.
Enquanto esperam por alguém que lhes proporcione uma nova vida, os menores de 18 anos ficam em casas que podem ser públicas (mantidas pela Prefeitura ou pelo Estado) ou privadas. Essas Organizações Não Governamentais (ONGs) geralmente são criadas por voluntários. Esse foi o caso do Lar de Amparo à Criança para Adoção (Laca). Após trabalharem por mais de 10 anos em uma instituição pública para crianças de 0 a 7 anos, 10 voluntárias se uniram e fundaram o Laca.
“Após sermos impedidas pela Prefeitura de continuar o nosso trabalho voluntário em uma casa de amparo de Maceió, nós decidimos que esse é um trabalho importante demais para que nós parássemos por questões políticas. Assim surgiu o Laca. Desde a fundação até agora, nós vivemos de doações, que geralmente vêm de amigos, familiares e, até mesmo, voluntários, que conhecem o nosso trabalho”, contou Margarida Navarro, fundadora da ONG, que atualmente abriga nove crianças, sendo sete delas bebês.
Apaixonante
Mesmo com tanto tempo envolvida com um trabalho desse gênero e três filhos, foi impossível para a voluntária não se apaixonar pela pequena Sara, que, à época, tinha apenas oito meses de idade.
Margarida explica que a mãe biológica da criança é usuária de drogas, o que fez com que o conselho tutelar a conduzisse para um abrigo. “Eu nunca imaginei que fosse adotar uma criança, justamente por já ter os três filhos que planejei. Mas foi inevitável que isso acontecesse quando conheci a Sara. Inscrevi-me na lista de adoção, esperei que a destituição do direito paternal corresse para, então, ter a guarda definitiva da minha caçula”.
Os filhos mais velhos de Margarida foram os principais incentivadores da adoção da criança, que tinha problemas de saúde à época. Como a voluntária não estava previamente no cadastro nacional, ela só foi possível porque nenhum outro casal mostrou interesse pela garota. Segundo a fundadora do Laca, o amor é o mesmo, seja o filho biológico ou “do coração”.
Procura
Saber a nossa origem é muito importante para nós, seres humanos, que sempre fazemos o comparativo: “ele tem os olhos da mãe, mas o queixo é do pai”. Essa identificação se torna mais complicada quando a criança é adotada e não conhece seus progenitores. A curiosidade segue até a vida adulta, por melhores que os pais de criação sejam. O meteorologista Sérgio Buarque dos Santos, de 40 anos, é um exemplo disso. “Doado” pela mãe biológica quando ainda era um bebê, ele procurou muitas vezes pela sua mãe, mas não obteve êxito.
“Eu sei apenas o nome dela e a idade que ela tinha quando eu nasci: 21 anos. Ela provavelmente era solteira, o que tornava a maternidade uma questão complicada, uma vez que estamos falando dos anos setenta, em Alagoas. Mas gostaria de saber o que aconteceu, como ela é e se teríamos uma afinidade natural”, explicou.
Seus pais contaram a Sérgio que ele era adotado quando o rapaz completou 12 anos. A adoção foi intermediada pela pessoa que se tornou sua irmã, pois, naquele tempo, pessoas solteiras não podiam adotar. “Eu sempre suspeitei. Minha família é branca de olhos claros e eu sou moreno, mas quando se é criança, isso não tem importância. Meus pais eram muito mais velhos do que eu e quem acabou fazendo as vezes de mãe foi a minha irmã”, relatou.
Criança não é mercadoria
Ao contrário do tempo em que Sérgio nasceu, hoje, pessoas solteiras e casais homoafetivos conseguem adotar, mas é preciso passar por um longo processo, a fim de provar que está realmente apto a atender às necessidades de uma criança ou de um adolescente, porque, além de ser caro criar um filho, ele precisa ter uma estrutura familiar e psicológica que o ajude a se tornar um adulto emocionalmente saudável.
Ingrid Correia do Amaral, coordenadora da Casa de Adoção Rubens Colaço - instituição mantida pela Prefeitura de Maceió - explica que, para adotar, o primeiro passo é procurar a 28º Vara da Infância e da Juventude e informar que deseja adotar alguém. Antes de ingressar no Cadastro Estadual de Adoção, o candidato precisa passar por uma avaliação psicossocial e cursos de capacitação para aprender a lidar com uma adoção.
“Esse processo desanima muitos pretensos adotantes, que acham mais fácil 'pegar' uma criança para criar. Mas se trata de pessoas e não de mercadorias. Esses processos são importantes para que a adoção seja bem sucedida e garanta que ninguém poderá tirar a criança da família quando o processo for finalizado”, esclareceu Ingrid.
As crianças são encaminhadas aos abrigos pelos conselhos tutelares, por estarem em situações de abandono ou maus tratos. Muitas chegam das ruas, em casos de mendicância, porque as mães biológicas não têm como sustentá-las. Por isso, primeiro são procurados outros membros da família que possam se responsabilizar pelo menor de 18 anos. Caso nenhum seja encontrado, ocorre o processo de destituição do direito paternal. Segundo Ingrid, o processo completo pode durar até dois anos; no entanto, após a adoção ser concretizada, a criança ou adolescente passa a ter todos os direitos de um filho biológico.
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