ADOÇÃO HOMOAFETIVA FICA EM FOCO

24/05/2013
Carolina Bataier
carolina.bataier@bomdiabauru.com.br
Circuito de palestras para funcionários públicos de Bauru discute tema; um casal completa no processo

Encerram-se hoje as atividades da Semana da Adoção, circuito de palestras voltado a funcionários públicos de Bauru. Na terça-feira [21] o assunto foi adoção por casais homoafetivos.
O tema é pertinente. E neste aspecto, Bauru pode comemorar: por aqui, os funcionários que atuam no setor de adoção parecem estar bem preparados para atender casais homoafetivos.
“Não senti nada de preconceito”, afirma Júlio, um autônomo de 35 anos que está na reta final do processo junto com seu companheiro Alexandre, 42, que é funcionário público.
Nesta reportagem, o casal usa nomes fictícios. Eles explicam: no ambiente de trabalho de Alexandre. alguns colegas ainda não foram comunicadas sobre a decisão.
“Todo mundo que nos rodeia sabe. Mas estávamos tendo o cuidado de espalhar a notícia somente quando tudo já estivesse certo”, diz Júlio.
Os dois vivem juntos há sete anos. O desejo de ter um filho sempre esteve presente na vida de ambos e o assunto era discutido desde o começo do relacionamento. No entanto, o casal esperou conquistar estabilidade financeira antes de dar o passo definitivo para a adoção.
No dia 9 de janeiro deste ano, Júlio e Alexandre procuraram a Vara da Adoção no Fórum de Bauru. Então, deu-se início ao processo burocrático para que eles possam constar na lista de família em busca de uma criança.
O casal passou pelos exames sociais e psicológicos, já fez o curso preparatório e agora aguarda a assinatura do juiz.
Júlio e Alexandre são minoria na lista de 170 pessoas interessadas em adotar em Bauru: além deles, há somente mais um casal homoafetivo em processo de adoção. Enquanto a confirmação não chega, fica a ansiedade. Na casa deles, já há um quarto destinado à criança.
“Não decoramos porque se for uma criança mais velha vamos deixar ela escolher como quer”, conta Júlio.
Dentro do processo de adoção, há um formulário onde o solicitante (que pode ser um casal ou pessoa solteira) preenche as características que deseja para o filho. Cor e sexo podem ser escolhidos, mas para Júlio e Alexandre, isso pouco importa.
O único desejo é que seja uma criança que tenha entre 3 e 8 anos. Eles também aceitam adotar irmãos, já que grande parte das crianças não pode ser separada dos familiares.
Para a psicóloga Maria Lúcia Biem, a sexualidade dos pais não interfere no desenvolvimento do filho. O que conta é a dedicação e o amor.
“Para adotar uma criança, o que precisa? Comprometimento, planejamento, maturidade e muito amor. Casais hetero ou homossexuais, tendo estas condições, irão receber bem a criança neste lar”, diz.

ANTES DA ADOÇÃO, ELES PRETENDEM CASAR NO CARTÓRIO
Júlio e Alexandre não têm a união formalizada, mas pretendem trocar alianças ainda neste ano.
O fato de serem ou não casados não interfere no processo de adoção, de acordo com a psicóloga Ana Roberta Prado Montanher, do Tribunal de Justiça de São Paulo. Tampouco o fato de serem homossexuais conta pontos contra a adoção.
“A lei não traz nada que impeça a adoção por um casal homoafetivo”, explica Roberta.
Em março deste ano, foi publicada uma resolução do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) que proíbe que cartórios se recusem a celebrar casamentos entre pessoas do mesmo sexo no Estado de São Paulo. No começo do mês, a medida foi expandida para os outros estados. É mais um vitória comemorada por Júlio e Alexandre. A união civil do casal será feita assim que o juiz autorizar a adoção. Os dois, claro, esperam que a autorização venha em breve.
“Todo dia arrumo a casa pensando nisso”, conta Júlio.

MAIS
AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES DE BAURU

São 21 meninos e 13 meninas à espera de serem adotados. Destes, 15 podem ser adotados sem irmãos. Oito deles têm até 5 anos, todos com irmãos; sete de até 10 anos e 12 que têm entre 11 e 15 anos. Há sete adolescentes entre 16 e 18 anos.
34 crianças e adolescentes estão disponíveis para adoção
http://www.redebomdia.com.br/noticia/detalhe/50892/Adocao+homoafetiva+fica+em+foco