UM REFERENCIAL PARA A VIDA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
23/05/2013
“Foi inesperado, recebi um e-mail na caixa de spam sobre o
apadrinhamento. Vi a notícia, resolvi olhar e fui atrás. Procurei
informações”, conta Rodrigo Thorman, de 28 anos, funcionário de uma
cooperativa médica que se tornou padrinho afetivo há uns oito meses
atrás. Thorman comentou que hoje é padrinho de João Victor, de 10 anos
do orfanato Raio de Luz. Ele disse que após conhecer o programa de
Apadrinhamento tomou a decisão de se inscrever, mas afirmou que no
início foi um grande desafio. “Comecei apadrinhando um menino de 12
anos, mas não deu certo. Ele estava no orfanato porque queria, ele não
aceitava a família. Eu fazia tudo para agradar, mas ele passou a não
respeitar, ficou difícil e não deu mais”, salientou.
Rodrigo
ressalta que procurou o programa porque queria dar uma animação na casa.
“Eu tenho avós que moram nos fundos da minha casa, decidi apadrinhar
para dar uma movimentada na casa, tenho uma irmã, mas ela já tem 21 anos
e queria uma criança em casa. O dia que fui ao orfanato dizer que não
ia dar mais, encontrei o João Victor chorando por causa de uma briga
que aconteceu com outra criança. Eu estava quase desistindo do programa,
mas aí encontrei ele e pedi para levá-lo na minha casa. Lá em casa está
fazendo o maior efeito, é muito bom”, explicou.
Ele destacou que
quando leva o afilhado para casa, para passar o final de semana, que a
pior parte é a hora de devolvê-lo para o orfanato. “No domingo, é a pior
parte porque tenho que devolvê-lo. Ele é mimoso e querido. Nós jogamos
videogame, futebol, fazemos muitas coisas. Ele já passou o Natal comigo,
meu aniversário e o ano novo. Já levei ele ao parque e ao cinema.
Procuro sempre apoiar e dizer para ele o quanto é importante estudar e
ajudo nas tarefas. Durante a semana procuro ligar para saber se ele
estudou e quando tem prova”, comentou. Rodrigo salientou que existia um
processo de adoção para João Victor, mas que não deu certo, e o casal
interessado acabou desistindo.
Relação
Rodrigo Thorman destaca
que hoje existe uma relação muito forte entre ele e o afilhado, mas que
tudo foi construído com o tempo. “Ele me contou a história da vida dele,
fomos construindo essa relação de afinidade e confiança. Um dos meus
principais objetivos de vida é ajudar ele, fazer com que ele se torne um
homem preparado para o mundo. Quando ele sair do orfanato, vou dar todo
o suporte necessário”, enfatizou. Ele disse que durante estes oito
meses, muitas coisas aconteceram e que muitos momentos foram especiais.
“Levei ele em uma formatura , ele nunca tinha ido. Eram 4h da manhã e
ele não queria ir embora. Eu vesti ele para o momento. Outro momento foi
no natal, ele acredita em Papai Noel. Comprei dois presentes e deixei
na árvore. Falei para ele que o Papai Noel tinha deixado presentes,
então o João saiu correndo pela casa e pelo pátio querendo saber do
Papai Noel. Ele ainda tem a inocência”, destacou.
Thorman contou que
queria fazer algo diferente quando decidiu apadrinhar e que todos
familiares apoiaram. “Queria fazer a diferença para alguém, poder
multiplicar e ajudar. Acho que cada um pode fazer um pouquinho. Eu
aprendo muito com ele e ele comigo. O meu pai queria adotá-lo, mas não
me sinto preparado. O que posso fazer hoje é isso. Suprir o amor e o
carinho. A minha família é humilde e o financeiro não é o principal para
nós e ele não me pede nada, mas tento procurar fazer bastante as
vontades dele, me preparei para isso. Quero passar os valores que
aprendi e já está valendo muito a pena pelo retorno que dá. É um sentido
diferente. É uma sensação que não dá para definir. Te faz resgatar
coisas boas”, apontou.
Questionado sobre o que deixaria de mensagem
para aquelas pessoas que tem dúvida sobre ser ou não ser padrinho,
Rodrigo Thorman contou muito feliz que faz muito bem e que foi a melhor
coisa que aconteceu na vida dele. “O João já transformou a minha vida e
vai transformar ainda mais. Não tem preço os momentos que passamos
juntos. Todos poderiam fazer um pouco. Ele é uma das melhores coisas que
já aconteceu na minha vida”, finalizou.
PROGRAMA
O
Apadrinhamento Afetivo envolve parceria entre vários órgãos, entre eles o
Poder Judiciário, Ministério Público Estadual, Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente (Comdica), Secretaria de Município
de Cidadania e Assistência Social, Projeto Rede Família e as
instituições. Este ano está sendo realizada a 9° edição do programa.
Segundo a secretária de Município de Cidadania e Assistência Social,
Maria Cristina Juliano, aquele que decide apadrinhar tem que ser idôneo.
“Tem que ter disponibilidade de tempo para dar afeto. Essas crianças
têm uma vida suprida, elas têm tudo, mas é uma vida coletiva. É
importante ter alguém que seja louco por elas, ame e faça com que elas
pensem no futuro. É muito difícil ser adolescente e crescer dentro da
instituição”, comentou.
A secretária explicou que as crianças que
são apadrinhadas podem passar férias e dormir na casa do padrinho. “O
programa visa a possibilitar a convivência em um leito familiar, mas o
programa não é para quem quer adotar, pois não é um lugar para testar
crianças”, destacou.
Já Tatiana Medina, que na época então era
psicóloga do Rede Família, contou que o programa foi uma determinação do
judiciário e do Ministério Público e virou lei. “Com a demanda das
instituições começou a se prevê a necessidade das crianças terem outra
família. Queremos que elas tenham uma referência de lar, são vivências
que queremos proporcionar, mas a criança não precisa sair de dentro da
instituição se o padrinho não quiser”, argumentou.
A psicóloga
salientou que todos que apadrinham são preparados para fazê-lo e que
somente crianças e adolescentes de sete a 17 anos participam do
programa, pois segundo ela, os menores se enquadram no perfil de adoção.
“Todos passam por uma capacitação e avaliação psicossocial. O ambiente
onde a pessoa reside também é avaliado, tem que ter estrutura para
acolhê-la. No momento que se assume a responsabilidade, tem que se estar
presente”, apontou.
Tatiana contou que quando as pessoas procuram o
Rede Família as regras são informadas. “Se a pessoa decide apadrinhar,
na capacitação ela recebe todas as orientações e tem um suporte
contínuo. Grupos são formados para realizar uma troca de experiência e a
equipe técnica do Rede Família fica a frente”, destacou. Ela contou que
existem casos que evoluem para a adoção, mas que este não é o objetivo
do programa e que caso aconteça o padrinho passa pela formação da
adoção.
Por fim, a psicóloga disse que os interessados em participar
do programa podem procurar o Rede Família ou as instituições para mais
informações. O telefone do Rede Família é 3231.1859.
Por Aline Rodrigues
aline@jornalagora.com.br
Foto: Arquivo pessoal - João Vitor com o seu padrinho Rodrigo Thorman
http://www.jornalagora.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?e=3&n=43787
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