domingo, 21 de julho de 2013

Famílias acima dos 40 buscam recomeço por meio da adoção


Filhos

Somente em Minas, 39% dos pedidos de adoção, em 2012, foram de pessoas entre 46 e 55 anos

Quando a filha Maria Carolina já estava com 19 anos, a família Marcelino ganhou Henrique, hoje com 7, como novo integrante
PUBLICADO EM 21/07/13 - 03h00
Raquel Sodré

No ano passado, 826 crianças foram adotadas no Brasil – 30% a mais que em 2011 –, sendo 108 delas em Minas Gerais. E grande parte dessas adoções é feita por pessoas que já passaram dos 40 anos. Somente no Estado, 39% dos que entraram com pedido para adotar uma criança, em 2012, tinham entre 46 e 55 anos – um número crescente, considerando que representavam 20% em 2011 e 17,6% em 2010, segundo o Conselho Nacional de Justiça.

Esse foi o caso da família Marcelino, quando ganhou Henrique, 7, como novo integrante. Eles buscavam uma criança de até 3 anos, sem especificar sexo nem cor – diferentemente do perfil preferido na procura por crianças para adotar: meninas de até 1 ano e de pele branca ou parda.

“A opção pela adoção já era uma realidade para nós desde que meu marido e eu namorávamos. Quando minha filha já estava com 17 anos, resolvemos entrar na fila para a adoção”, conta Luzimar da Silva Marcelino, 53.

Após mais de dois anos de espera, eles receberam a ligação com a novidade tão aguardada: eram os próximos da fila e havia uma criança pronta para ser adotada.

Henrique virou um Marcelino aos 15 dias de vida, e Luzimar garante que ele “remoçou a família toda”. “Depois que adotamos o Henrique, as pessoas me encontram e falam: ‘Nossa, como você está mais jovem!’. E é isso mesmo que sinto”, revela.

Opção. São diversos os motivos para quem já passou dos 40 anos optar por recomeçar a vida com uma criança em casa. Entre eles, estão a tranquilidade da estabilidade financeira já conquistada, a possibilidade de dar mais atenção ao pequeno, uma vez que a carreira já não é mais a prioridade, além da chamada “síndrome do ninho vazio” – quando os filhos mais velhos deixam a casa dos pais.

“Chega uma idade em que a atenção aos filhos não é tão necessária, pois eles estão crescendo e decidindo a própria vida. Daí a vontade de ter mais uma criança em casa”, explica Rosilene Cruz, coordenadora técnica da Vara Cível da Infância e da Juventude de Belo Horizonte.

Segundo ela, a adoção por pessoas que já passaram dos 40 anos pode ter uma influência positiva na relação do adotante com a criança. “A pessoa se sente mais segura, tem mais tranquilidade e poderá dar mais atenção ao filho”, analisa.

Ela ressalta, porém, que toda adoção é um processo que requer muita reflexão, principalmente sobre uma prospecção de futuro. “A família deve imaginar daqui a dez anos, por exemplo, e refletir como será a vida dessa criança dentro da família”, recomenda.


Padrinhos afetivos são um começo para a união definitiva

A família de Mirtes*, 44, e Carlos*, 51, apadrinhou os irmãos Robert*, 11, e Diego*, 7, em 2010. Após cerca de um ano e meio, Mirtes, o marido e as duas filhas, então com 21 e 18 anos, decidiram aumentar ainda mais a convivência com eles e pediram a adoção dos meninos.

“Nossa vida mudou completamente. Antes, eu estava acostumada com vestidos e bonecas. Agora, são bermudas e carrinhos pela casa. E os meninos são muito mais agitados”, conta Mirtes.

Mas todo o trabalho compensa. “Descobri que nossa família tem um amor muito grande, que supera tudo”, revela.

*Os sobrenomes foram omitidos para preservar a identidade das pessoas.

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