Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Para debater as novas perspectivas da psicologia clínica neste contexto, o Instituto de Psicologia (IP) da USP recebeu na sexta-feira, 12 de julho, o professor francês Fabian Dario Fajnwaks, da Universidade Paris 8. Além do docente, estava presente também a professora Ivonise Motta, responsável pelo encontro e coordenadora do Laboratório de Criatividade e Desenvolvimento Psíquico do IP.
A questão do abandono
Segundo os especialistas, a questão do abandono pode ser percebida tanto na criança quanto nos candidatos a adoção. Cada um reflete esse sentimento de um jeito. A criança que já passou por várias situações de abandono poderá se tornar ríspida, agressiva, rancorosa e amarga. “Ela desenvolve esses sentimentos como forma de se proteger”, esclarece a professora Ivonise.
Para os pais, o efeito pode ser o oposto. Um
indivíduo que já tenha passado por situações de abandono ou ruptura no
vínculo de formação de família – por exemplo, a impossibilidade de gerar
um filho – pode querer tentar suprir essa deficiência ao adotar uma
outra criança.
Ivonise Motta | Foto: Marcos Santos/USP Imagens
“Eles
devem trabalhar com esse sentimento de frustração e entender que em
algum momento ele ou ela poderão falhar, mas que isso não o faz um
péssimo pai. Os pais também devem saber trabalhar com o anseio, medo e
desamparo emocional”, reforça Ivonise.
Adoção por casais homoafetivos
Embora
a adoção por casais homoafetivos seja um direito constitucional, ainda
há muito preconceito por parte de alguns indivíduos que atuam nos órgãos
públicos responsáveis por esse processo jurídico, assim como na
sociedade de forma geral.
Para Fajnwaks, o importante é
mostrar quais os benefícios que a adoção pode gerar para a criança e
como isso pode contribuir no seu desenvolvimento. “Tendo isso
esclarecido, a questão da homoafetividade ou da heteroafetividade não
interfere”, pontua o especialista ao refutar o argumento de que a adoção
por casais homossexuais possa interferir no formação sexual da criança,
pois, ainda que a criança não possua a figura feminina em casa, ela com
certeza irá conviver com essa figura na escola, na rua e até mesmo no
âmbito familiar expandido.
“A questão da homoafetividade ou da heteroafetividade não interfere”, afirma o professor Fabian Fajnwaks
Na
opinião do professor, psicanalistas que se opõem a adoção por casais
homoparentais fazem isso em nome de uma idealização edípica, ou seja,
com base no conceito do “Complexo de Édipo” criado por Sigmund Freud. No
entanto, os lacanianos – corrente teórica que segue a linha do
psicanalista francês Jacques-Marie Émile Lacan - acreditam que não
podemos nos opor as demandas de um casal em nome de uma ideologia ou
normalidade edípica, pois a experiência clínica já nos mostrou que o
conceito de Édipo não funciona como norma para todos os sujeitos.
Processo de adoção
Atualmente,
os candidatos que almejam adotar uma criança passam por um
acompanhamento psicológico, assim como a criança, antes e depois da
adoção. Tal acompanhamento se faz necessário porque é importante
analisar como está se dando o período de adaptação familiar.
Segundo
a professora Ivonise, as famílias passam por uma avaliação psicológica e
psicossocial para receber as crianças. Após esse processo as famílias
realizam visitas esporádicas às crianças, o que consequentemente pode
levar a formalização de uma adoção bem sucedida.
Mais informações: email ivonise@usp.br, com a professora Ivonise Fernandes da Motta
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