segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

AQUELE QUE VEM


24.02.2014
Atitude adotiva
Por Guilherme Lima Moura

A adoção é a mais legítima das atitudes amorosas, a mais pura das disponibilidades afetivas. É condição inevitável à verdade da filiação, surgida ou não de laços biológicos. Como tal, ela é exímia em nos apresentar histórias incríveis à nossa condição de seres ainda tão pouco afeitos ao amor.

Um exemplo adorável consta no belíssimo Se essa casa fosse minha, documentário produzido pela Associação dos Magistrados Brasileiros. Em um dos mais bonitos depoimentos ali registrados tomamos notícia de um encontro especial.

Certo dia o telefonema da vara de infância, tão aguardado por um casal de pretendentes, anunciou-lhe a possibilidade para adoção de dois irmãos gêmeos. A emoção da notícia, no entanto, trouxe consigo o impacto de uma informação indesejada: um dos meninos possuía grave e intratável doença. Era o tipo da notícia que poderia paralisar qualquer pessoa. Foi então que a hesitação momentânea, vivida por aquele casal, deu lugar a ponderações profundas sobre o verdadeiro sentido do fazer-se pai e mãe.

“Quando tivemos nossa primeira filha nós perguntamos se ela viria doente? Se ela viria ‘boa’? E se ela viesse doente a gente iria se desfazer dela por algum motivo ou a gente iria cuidar? Então, você tem dúvida de que essas crianças são seus filhos? Filho não é um objeto que você escolhe na prateleira de um supermercado. Filho é aquele que Deus te manda. É aquele que vem. E eles vieram.”

Poucas vezes vi definição tão curta, direta e, ao mesmo tempo, tão profunda: “Filho é aquele que vem”. Sim, é isso mesmo. Filho é aquele que vem.

Que vem correndo aos teus braços quando te acha na multidão de pais e mães na porta da escola. Que vem ao teu colo seguro após o machucado, a contrariedade. Que vem te puxar pela mão porque te exige a companhia na brincadeira infantil. Que vem te implorar o limite organizador. Que vem te questionar sobre as coisas do mundo. Que vem dar um sentido especial a tua vida.

Tudo o que vem é tudo o que importa. O importado é também o importante. É o que vem de fora pra dentro. Mais que o necessário, é o imprescindível. Aquele que vem é o importante.

Sim. Filho é aquele que vem, que é importado, que é importante. Sem que importe de onde venha e sem que saibamos para onde um dia irá.

E as ponderações profundas, daquele casal, sobre o verdadeiro sentido do fazer-se pai e mãe, deram lugar à adoção. A família cresceu em tamanho e em afeto. E, de fato, um dos garotos apresentou o agravamento da doença. A sua única chance de cura seria um transplante de fígado. E adivinhem. Adivinhem quem foi identificada como doadora compatível.

“Eu descobri que eu posso ser doadora. Então, ele não precisa mais procurar um doador. Ele já tem a mãe dele para lhe doar o fígado.”

A adoção permitiu àquela mulher doar ao filho ainda mais que amor de mãe. Porque às vezes o amor vence até a morte. Porque filho é aquele que vem. E eles vieram!
Foto: internet
http://ne10.uol.com.br/coluna/atitude-adotiva/noticia/2014/02/24/aquele-que-vem-472780.php

DOCUMENTÁRIO: SE ESSA CASA FOSSE MINHA
http://www.youtube.com/watch?v=7S8PcWjAMQo

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