segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Atitude adotiva - Dizer não é dizer sim

16:19:15

Publicado em 21.10.2013, às 09h57


Crianças que recebem limites hoje terão muito mais chances de serem jovens tranquilos amanhã
Crianças que recebem limites hoje terão muito mais chances de serem jovens tranquilos amanhã
Foto: internet

Por Cintia Andrade Moura
Filho com febre coloca-nos em estado de alerta. Rapidamente recorremos a remédios apropriados, dos quais, via de regra, já dispomos ao alcance da mão. Afinal, controlar a situação rapidamente é importante para que ela não derive para quadros de saúde mais graves. O próximo passo é levarmos o pequeno enfermo ao médico porque, como qualquer pai e mãe sabe, febre não é doença. É sintoma. É uma reação do corpo à presença da verdadeira doença que precisa ser investigada e tratada. Só então, com a saúde do filho normalizada, voltamos à tranquilidade.

Comparamos a ausência do limite a essa febre indesejável que precisa ser controlada imediatamente, sem prorrogação. Deixar os filhos à deriva sem dizer-lhes “não” no momento certo é deixá-los constantemente em estado febril. Certamente as consequências mais adiante serão difíceis se não conseguirmos agora o controle desejável.

Aceitar, cuidar e dar limites aos filhos reflete o conceito de adoção na sua mais simples expressão. Todo filho que apresenta dificuldades de qualquer ordem, sobretudo as dificuldades morais, está a solicitar dos pais a atitude adotiva.

Todavia, em cuidadoso exercício de auto-diagnóstico, é bem possível que enxerguemos em nós mesmos as raízes das dificuldades encontradas nos nossos filhos.
Educar e estabelecer limites é prática que exigirá dos pais revisão dos próprios atos
Então, educar e estabelecer limites é prática que exigirá dos pais revisão dos próprios atos. Perceber e reparar em nós determinados problemas indesejáveis é requisito fundamental do tornar-se pai e mãe, porque nossos filhos registram o que fazemos e não apenas o que dizemos. Adotar-se é indispensável.

A busca diária por educarmo-nos e, eventualmente, o uso de ajuda profissional especializada para tratarmos de possíveis frustrações, será importante no processo de revisão das nossas próprias atitudes, cuja renovação refletirá na educação que desejamos oferecer para os nossos filhos.

Afinal, quantas vezes ensinamos a agressividade ou a insegurança, sendo nós mesmos agressivos ou relapsos com eles?

Crianças que recebem limites hoje terão muito mais chances de serem jovens tranquilos amanhã, porque crescerão com parâmetros de conduta. É dever dos pais criar estas condições organizadoras do seu psiquismo para que os filhos construam suas vidas com possibilidade de serem pessoas bem resolvidas, capazes e responsáveis.

Nossos filhos desejam que digamos “sim” a tudo que eles querem e sabemos que muitos “nãos” serão necessários para pôr-lhes limites, por isso eles precisam também entender o porquê do que lhes está sendo negado. Dizer “não” da forma correta é dizer “sim” para o entendimento entre pais e filhos. Nesse processo o filho terá muito mais tranquilidade em aceitar os limites que necessariamente lhes serão colocados pela vida, na escola, na rua, nos diversos ambientes sociais.

Cuidar da saúde do corpo é fundamental. Mas só a educação atenta, que surge de práticas coerentes, pode educar a alma no cumprimento dos deveres que fundamentam a convivência no respeito ao espaço do outro como definição do meu próprio espaço. É assim que vamos transformando o que parece ser tão complicado em atitude adotiva para com nossos filhos e, em última instância, para nós mesmos.

*As colunas assinadas não refletem, necessariamente, a opinião do NE10

http://ne10.uol.com.br/coluna/atitude-adotiva/index.php 

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