O desembargador plantonista decidiu acatar o pedido dos advogados da família, mas o caso poderá mudar ainda esta semana; segundo especialista, se a decisão for revertida, será uma punhalada no âmbito da adoção legal do país
Após viver por dois anos e meio em outro lar, M.E. vai
voltar à casa dos pais sanguíneos; decisão é do Tribunal de Justiça de
MG
PUBLICADO EM 21/10/13 - 15h46
A menina M.E., que tem apenas 4 anos e é a protagonista de uma disputa
judicial entre a família que a adotou e os pais biológicos, recebeu o
direito de ficar provisoriamente com os pais adotivos. A decisão foi
tomada no fim de semana pelo juiz de plantão Caetano Levi.Durante a audiência sobre o caso, a Justiça havia determinado que a menina deveria voltar ao convívio dos dos pais biológicos nos próximos quatro meses. Os advogados da família entraram com um recurso para M.E. continue com os pais biológicos durante o processo. O pedido foi acatado por Levi, de forma provisória.
A decisão foi recebida pelos pais adotivos com muita alegria, segundo Valbio Messias, que é pai da criança há dois anos e meio. "Ficamos muito felizes, mas também apreensivos. Eu falei que acreditava na Justiça e que daríamos mais chances, como a revisão da decisão. É o que está acontecendo agora", disse.
O advogado da família adotante, Rômulo Mendes, espera que a decisão seja mantida. "Nós esperamos que o Belizário mantenha a decisão bem fundamentada do juiz plantonista. Estamos muito esperançosos. No TJMJ não cabe mais recurso, isso teria que acontecer no Superior Tribunal de Justiça, mas não acredito nessa hipótese", explicou.
Análise
Para a advogada e presidente da Comissão de Adoção do Instituto
Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), Silvana do Monte Moreira, a
possibilidade de a criança voltar para os pais biológicos abre um
precedente para outras decisões semelhantes no Brasil. "O que está
acontecendo em Minas Gerais é uma punhalada na adoção do Brasil. Todos
os pais e mães que estão com a guarda provisória dos seus filhos estão
apavorados com essa decisão. A menina ficou menos de dois meses com a
família biológica e 90% de sua vida ela passou com a única família que
tem, que a adotou. Não podemos dizer que é a família substituta, porque é
a única família que ela conheceu", explica.
Ainda de acordo com Moreira, o processo judicial pela disputa da guarda
da menina acaba prejudicando a única interessada, a própria criança.
"Ela tem uma família e qualquer reversão nessa decisão de mantê-la com
os pais adotivos só poderá prejudicá-la. Os danos que isso pode causar à
criança são imensuráveis. Não temos que nos importar com a família
biológica nem com a família adotiva, mas sim, com a criança. E com o
fato dela estar perdendo a única referência familiar que teve durante
toda a sua vida", disse.
Para a especialista, a questão não deveria nem ir aos tribunais. "A
família já passou por todo o processo de adoção legal, atendeu a todos
os trâmites da lei, passou por cursos de preparação, juntou as
certidões, passou por psicólogos e conselheiros, se habilitaram para
serem pais da criança, exerceram essa paternidade por dois anos e meio,
para agora, a mesma Justiça tirar a guarda deles? Isso fragiliza a
adoção no Brasil. Atualmente, temos 40 mil crianças em acolhimento, mas
apenas 5 mil delas já estão disponibilizadas para adoção. Esse processo
vai de encontro a tudo que já fizemos e conquistamos no âmbito da adoção
legal no país", explica.
"Eles estão tratando essa menina como se ela fosse uma coisa, e não um
sujeito de direito. É um absurdo. Filho nenhum é propriedade de ninguém,
principalmente se não existe, nesta relação, afeto e cuidado. Essas
pessoas jamais foram os pais da Duda. Laços de sangue não querem dizer
nada, quando os principais laços para se constituir uma família, que são
a afinidade, o cuidado, o afeto, foram construídos pelos pais adotivos.
Estes são os verdadeiros pais dela", completa a especialista.
http://www.otempo.com.br/cidades/justi%C3%A7a-decide-que-crian%C3%A7a-continuar%C3%A1-com-fam%C3%ADlia-adotiva-provisoriamente-1.734622
Um comentário:
É realmente um absurdo a decisão de retirar a pequena de sua família. Um grave e terrível precedente ao marco legal da adoção no Brasil. Espero que o bom senso e o respeito ao direito de M.E. prevaleça.
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