ADOÇÃO TARDIA: QUANDO O AMOR E AFINIDADE ULTRAPASSAM O LIMITE DA IDADE
08 de outubro de 2013
“Nunca perdi a esperança de ter uma família”. Esta frase foi dita por
um jovem de 17 anos com quem o Site Ururau conversou para uma matéria
especial sobre adoção tardia. Há poucos dias ele foi adotado e tem um
novo lar. Assim como este adolescente, outros 67 menores estão nos
abrigos de Campos à espera de serem adotados. Meninos e meninas que
nunca desistem de ter uma mãe, um pai, uma família.
Bons exemplos
de pessoas que adotaram crianças maiores não faltam, é o caso da
missionária Adriana Crespo. A casa onde mora é bem movimenta, afinal de
contas não é todo mundo que tem 18 filhos. Isso mesmo 18. Nove são
biológicos e outros nove adotivos.
Em 2007 ela e o marido decidiram
que queriam aumentar a família, eles já tinham seis filhos, foi aí que
os primeiros filhos adotivos foram acolhidos.
“Antes de casarmos já
tínhamos esse desejo de adotar, de termos muitos filhos. Passado um
tempo decidimos e fomos ao juizado, demos entrada ao processo, depois
recebemos a habilitação. Nesta habilitação contém o perfil do filho que
você quer adotar, dados como a quantidade, sexo e idade. Nós preenchemos
com perfil de adoção tardia, crianças a partir de três anos e com
irmãos, por isso foi mais rápido. Em seis meses começamos a visitar as
crianças”, disse.
Adriana conta que as primeiras seis crianças
vieram juntas, eram quatro e dois irmãos biológicos. A mais nova tinha
sete anos e a mais velha 14.
“Antes deles virem morar com a gente
nós já rezávamos por elas, os nossos filhos já estavam na expectativa de
ganhar irmãos. Como antes de vir morar em definitivo com a gente eles
passaram um tempo nos visitando aos finais de semana, as crianças já
estavam se dando bem. No dia mesmo que vieram foi uma festa, eles
corriam para todos os lados e brincaram muito”, lembrou.
De acordo
com a missionária, depois dessas visitas semanais, a família ganhou à
guarda provisória, e até sair à adoção definitiva demorou de três a
quatro anos.
A segunda adoção também foi de três irmãos biológicos.
Adriana explicou que o contato também foi feito pela Vara da Infância e
Juventude já que a habilitação do casal teve duração de 18 meses. Hoje o
filho mais velho da família tem 26 anos e o mais novo, quatro. O casal
também acabou de ganhar uma netinha há cerca de dois meses.
O dia a
dia nessa casa é cheio de animação, respeito e carinho. “Cada dia é um
aprendizado, todos ajudam nas tarefas e a cuidar uns dos outros. E
quando vamos viajar temos que ir de van (risos). Todo réveillon vamos
para Macaé na casa da minha sogra, e geralmente usamos o carro da
família e mais um veículo grande para caber todo mundo e sempre vai um
namorado, ou amigo dos nossos filhos”, falou.
PROCESSO
Atualmente 140 crianças e adolescentes vivem nos oito abrigos de Campos,
destes 67 estão aptos para serem adotados através do Cadastro Nacional
de Adoção.
Nossa equipe foi até a Vara da Infância e Juventude da
cidade e conversou com o grupo de seis assistentes sociais e quatro
psicólogas. Segundo as especialistas, adolescentes de até 17 anos podem
ser adotados e o processo demora em média seis meses para ser concluído.
“Na verdade o processo não é demorado, é que muitas crianças não
se enquadram no perfil que os casais estabelecem para tirar a
habilitação. O perfil mais pedido é o de meninas, de zero a dois anos,
de cor branca e saudável. Dificilmente adotam aqueles que tenham alguma
deficiência ou até mesmo Aids. Mas esse quadro vem mudando ao longo dos
anos, ficando mais extensivo para o sexo e idade, por exemplo. Temos
casos também de menores portadores do HIV que estão sendo adotados”,
disse a assistente social, Conceição Nogueira.
Casais, mulheres,
homens e casais homossexuais, todos podem adotar, desde que se enquadrem
nas condições psicológicas, sociais e financeiras. “No caso da adoção
tardia geralmente são pessoas que foram a alguma instituição, fizeram a
visita e se apaixonaram ou tiveram afinidade com o menor. Os
interessados na adoção devem vir pessoalmente aqui na Vara da Infância,
onde são pedidos vários tipos de documentos, eles recebem toda a
orientação e são cadastrados para receberem a habilitação. Durante esse
processo recebem várias visitas das assistentes sociais e psicólogas,
que avaliam as condições de moradia, saúde e financeira. Essa avaliação
serve para constar que essa família está preparada para adotar. Mas
existem casos em que a habilitação não é concedida, já que a pessoa não
se enquadra no perfil”, explicou.
Depois que o casal ou a pessoa
que deseja adotar individualmente recebe a habilitação é realizada uma
reunião de três dias para que todas as dúvidas sejam tiradas. Essa parte
também conta com apoio do grupo social e tem o comissariado que explica
a parte de legislação. “Nessa fase algumas pessoas até ampliam o perfil
da criança ou adolescente que pretende adotar. Depois de tiradas as
dúvidas e quando a pessoa tem a certeza de que é isso que ela quer o
juiz da à sentença – no caso de Campos o juiz é o Heitor Campinho. Com a
sentença favorável o nome do casal é lançado no cadastro. Os
interessados escolhem o estado que desejam adotar, ou até mesmo em todo
território nacional. Onde surgir a criança o casal deve ir buscar. A
Vara da Infância da cidade entra em contato com os interessados”,
ressaltou.
No município já existiu um caso de um casal que adotou
de uma só vez sete irmãos, todos de adoção tardia. No último mês outros
três casos foram registrados, o do jovem de 17 anos citado no início da
matéria, e o de duas irmãs de 16 e 13 anos que foram adotadas por
famílias diferentes, mas que possuem contato.
O grupo explica que
nos abrigos, os adolescentes de 15 e 16 anos começam a ser preparados
para viver fora da instituição. “Eles participam de cursos
profissionalizantes e tiram os documentos. Aqui em Campos ainda não
existe uma estrutura de moradia para os jovens que completam 18 anos e
saem dos abrigos. Existe o interesse da Casa Lar Passos Verdejantes, mas
está buscando parcerias para montar essa espécie de república”, falou.
A cada seis meses, mas precisamente nos meses de abril e outubro, todos
os casos dos abrigos são revistos. Segundo a nova lei da adoção, as
crianças só devem ficar nas instituições por dois anos. Nessas
audiências concentradas é visto o que aconteceu com esse menor, a medida
preventiva, se a família gostaria de ficar com a criança ou se será
encaminhada para uma substitutiva.
Participam também da revisão
representantes de várias secretarias como a de Educação e Saúde e, se o
juiz determinar que falta algo para que a criança vá morar com a
família, elas têm o prazo de dez dias para tomarem as providências, como
por exemplo, vaga em uma escola próximo a casa.
“Os casais
interessados devem visitar os abrigos para que os menores recebam essas
visitas e tenham contato com a comunidade. A adoção tardia é rápida,
desde que a criança ou adolescente esteja apta à adoção. O estágio de
convivência é de seis meses. E eles nunca perdem a esperança de ter
principalmente uma mãe, um lar”, finalizou.
Fotos de Mauro de Souza
http://www.ururau.com.br/cidades36881_Adoção-tardia:-quando-o-amor-e-afinidade-ultrapassam-o-limite-da-idade
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