terça-feira, 21 de janeiro de 2014

ADOÇÃO TARDIA: A HISTÓRIA DA MÃE BRIGIDA


Rafaela Monteiro - Psicóloga Clínica CRP: 05/40334

Meu nome é Brigida e sou casada com o Laércio. Vamos compartilhar um pedacinho da nossa historia.
Estamos casados há 3 anos e logo quando nós casamos demos entrada para adotar, dentro do perfil escolhido. Meu marido queria uma criança de 0 a 5 (com possibilidades de serem irmãos) e eu não queria colocar idade mas aceitei sua escolha. Começaram as visitas e as entrevistas e o tempo foi passando. Passamos por todo o processo até que um dia veio o oficial de justiça nos entregar um documento que nos informava que tínhamos ficado grávidos. Que alegria!
Sentimos que uma fase tinha passado e meu marido costumava falar que a nossa gestação foi de 2 anos. Risos. Tivemos uma gestação com muita ansiedade, curiosidade, mas foi muito bom. Melhor ainda foi quando fomos fazer um curso (que agora é obrigatório), e esse curso mudou nossas vidas.
Meu esposo ouviu um depoimento de uma garota que agradecia muito aos pai por ter lhe dado a oportunidade de ter uma família. Ela falava que sabia que pra ela, na época com 10 anos, era quase impossível ser adotada, pois todos queriam bebes ou crianças de 0 a 5 anos.
Foi um depoimento lindo e meu esposo saiu de la falando em mudar a idade do perfil, e assim fizemos. Passamos de 0 a 5 para 0 a 10 anos. Depois que mudamos a idade, em 16 dias tivemos nossa primeira ligação falando de dois irmãos dentro do nosso perfil.

LOGO DEPOIS…
Falaram que mandariam fotos para o nosso e-mail e quando abrimos o e-mail foi como se tivéssemos fazendo nosso primeiro ultra-som, que emoção! Sentimos que eram eles nossos filhos, não tivemos duvida, nossos filhos já estava ali em trabalho de parto prontos pra cair em nossos braços! Risos…
Depois disso nos ligaram falando que já haviam falado com as crianças e que elas estavam super felizes e que estavam com eles ali, perguntaram se eu queria falar com elas, imagine se não! A menina foi a primeira e para a surpresa de todos, inclusive a minha, ela falou sua primeira palavra: oi mãeeee!!! Fiquei sem palavras, a emoção tomava conta de meu corpo, barriga um frio na barriga e mesmo tempo um calor.. Risos… Depois veio o menino com uma voz tímida quase nem dava pra ouvir, mas que coisa boa!
Uns dois dias depois nos ligaram mais duas vezes de outras cidades, falando de outras crianças que se encaixavam em nosso perfil, mas nossa escolha já tinha sido feita, não queríamos mais conhecer outras crianças, nosso destino já tinha sido cruzado e um forte laço foi formado, marcamos o dia e hora e fomos ao encontro de nossos filhos. A unica coisa que nos deixava triste era saber que eles tinham mais dois irmãos, um de 13 e outro com 17.
Eram quatro irmãos que iriam se separar, e nosso sentimento era um misto de alegria e tristeza pelos outros irmãos. Assim, fomos ao fórum, passamos por mais entrevistas e nos falaram que íamos conhece-los e que se fossem eles quem nós queríamos, era para dar dar entrado no pedido. Falamos antes mesmo de ir ao abrigo que eram eles os nossos filhos. Não tínhamos duvida nenhuma, fomos conhece-los e nosso tempo de convivência foi de umas 2 horas conhecemos o abrigo, os outros dois irmãos (um tem esquizofrenia, o de 17 anos).
O de 13 estava muito triste e saímos dali com as duas crianças e o coração cortado. Foi muito choro. As crianças queriam entrar no carro logo que chegamos, queriam ir embora. Assim, quando fomos embora decidimos não cortar o vinculo com os irmão.

UMA NOVA HISTÓRIA
Pegamos a estrada rumo a uma nova historia. Quando chegamos em casa foi muita festa, eles pareciam que estavam sonhando. Um dia a Kívia perguntou ao Thiago: nós fomos adotados? A ficha dela não tinha caído ainda… Na adaptação tivemos um pouco de trabalho em relação a dividir, comer, regrinhas básicas, mas não foi nenhum bicho de sete cabeças. Kívia me queria só pra ela, tudo era dela, coisas desse gênero, mas com carinho, pulso firme e muita conversa conseguimos vencer isso, e a recompensa tem sido maior que o trabalho.
Depois de 5 meses resolvemos pedir para o juiz deixar o irmão de 13 anos vir passar as ferias conosco, mas antes disso, sempre que eles pediam, nós ligávamos para o abrigo para eles conversarem. A nossa maior felicidade foi quando soubemos que o juiz tinha autorizado e que ele viria passar uns 20 dias com a gente.
Com dois dias dele conosco, meu filho me chamou pra um particular, e me falou: oh mãe, o Isaías queria te chamar de mãe ele pode? Me cortou o coração, disse que podia. Ainda brinquei: “vou adotá-lo nesse tempo que tiver aqui, mas como ele é maior demorou um pouco pra me chamar de mãe, diferente das crianças que já sairão do abrigo nós chamando de mãe e pai.
Com duas semanas meu esposo me disse que queria ficar com ele e imediatamente fui ver o que precisava fazer, mas o fórum estava de ferias e tínhamos que esperar uma semana. Confesso q eu acordava de madrugada pensando se iríamos fazer o certo, tive medo, insegurança, mas da mesma forma que vinha o medo ele ia embora. Só de pensar no amor que eles tinham entre eles, isso me dava certeza de isso era a coisa certa. Quando sentamos para conversar com ele da nossa decisão, ele ficou sem reação, surpreso, quis chorar, paraceia ser um misto de sentimentos, mas disse logo que queria!
Fizemos o requerimento para o juiz pedindo a guarda dele, pedindo pra ele ficar direto sem precisar voltar ao abrigo. Em um dia o juiz deu a guarda e depois da primeira noite de sono quando soube que seria nosso filho, disse pra minha mãe que aquela tinha sido a melhor noite da vida dele. “Dormi como uma pedra”, disse ele.
O medo passou, a insegurança foi embora e tudo isso foi tomado pelo amor e a certeza que fizemos a melhor coisa na nossa vida. Deus sabe o que faz, a nossa vida que era tranquila, filminho final de semana, dormidinhas nas horas vagas se transformou em uma casa barulhenta com muita risada. Dormidinhas, risos, nunca mais! Mas, minha casa é completa e feliz e agradeço a deus todos os dias pela família que me deu.
Penso que se as pessoas soubessem como é maravilhoso ser mãe e pai tardio, quem sabe não existiriam crianças em abrigos. Acredito que se fosse pra começar tudo de novo, começaria e não mudaria nada. Faria tudo de novo, igualzinho. Somos a família mais feliz do mundo! Somos os pais mais orgulhosos dos filhos que tem e assim somos muito felizes. Só de ver meus filhos dormindo lindos e felizes eu penso eu ganhei na loteria triplamente, e meu premio é maior que tudo nesse mundo.
Brigida é cabeleireira e mãe do Isaías (14), Thiago (9), e Kívia (7).
http://doutissima.com.br/2014/01/20/adocao-tardia-historia-da-mae-brigida-42151/

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