Luiz Schettini Filho – Psicólogo
O filho adotado não vem de fora; vem de dentro, do mesmo modo que o filho, biologicamente gerado, vem de dentro e não de fora. Se a adoção se efetiva, em muitos casos, como consequência de transtornos biológicos, fisiológicos ou psicológicos, a geração biológica de um filho nem sempre ocorre dentro dos padrões ideais de expectativa. Isso nos leva a pensar que, certamente, não seria estranho usar a mesma expressão para as duas situações: tanto os que têm filhos biológicos quanto os que os têm por adoção, geram verdadeiramente seus filhos. A inexistência dos laços genéticos não invalida as ligações parentais.
Decidir ter um filho é muito mais do que decidir-se pela procriação; é dispor-se à criação de uma pessoa com tudo o que representa a sua individualidade, mesmo que nos desagrade e destrua parte dos nossos sonhos. É preciso compreender que os sonhos, no que se refere aos projetos de vida, são meros andaimes; são esboços que serão modificados, aperfeiçoados, substituídos segundo a necessidade da pessoa que cresce e toma a sua forma própria. Os processos de criação e educação são elementos coadjuvantes de ajuda e apoio, mas não de amordaçamento. A consciência desse fato nos leva a um momento de maturidade de profunda importância quando percebemos que as nossas expectativas em relação aos filhos podem ser desautorizadas e anuladas por eles mesmos.
Sem o conhecimento dos antecedentes familiares, haverá a tendência de se interrogar sobre a sanidade física e mental da ascendência do filho adotado. É como se, dessa maneira, estivéssemos sempre correndo riscos de sermos surpreendidos com a descoberta de deficiências no filho que adotamos. Em contrapartida, fica subjacente a idéia de que a criança que é gerada e criada por seus próprios pais terá uma história genealógica composta de personagens saudáveis, sem distúrbios físicos ou distorções de comportamento. Esquecemo-nos de que conhecemos quase nada (ou nada) dos nossos antepassados.
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