sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Como educar um filho adotivo?


em 02/11/2012 Há controvérsias sobre esse tema. Isso porque muitos pais acreditam que o filho que foi adotado “sofreu mais” que os outros biológicos, por isso, não merece ser repreendido. Sejamos francos, hoje em dia a situação de educar/criar filhos passa por um boom de informações, mas nunca esteve tão caótica. A Lei da palmada criou divergências e não resolveu nada (quem espanca filho continua fazendo isso e quem dava um tímido beliscão parou por medo de ser preso), os mil livros de psicologia infantil deixam os pais hipnotizados e robotizados com a conduta dos politicamente corretos (e sem espontaneidade alguma), as regras ou dicas sociais fazem com que pais e mães simplesmente esqueçam seus instintos procurando sempre agir no “modo correto social”. Ou seja, educar um filho e criá-lo, se tornou uma aventura ainda mais selvagem do que já era.
No caso do filho que foi adotado (aqui Glória Maria que me perdoe, mas não faz sentido fingir que o filho não foi adotado e abolir esse termo, pois ele virá à tona muitas vezes ao longo da vida) os dilemas são os mesmos que os dos filhos biológicos. Não é porque eu adotei um filho que terei mais trabalho com ele do que se o tivesse gerado. Dessa forma as dúvidas e medos batem à porta. Tanto faz se é pai adotivo ou biológico. Na hora de explicar porque um amigo do papai fala palavrão excessivamente, na hora de falar sobre a mocinha que beija demais o mocinho na novela e tira a roupa, ou na hora de esclarecer o motivo pelo qual o vovô não é casado com a vovó (ou porque a mamãe não é mais casada com o papai) a saia justa é igual. Não adianta dizer que não é saia justa, porque é sim. Normalmente o filho pergunta uma coisa dessas na frente da caixa da loja de brinquedos e a caixa começa a rir, olhando pra cima, a pessoa que está atrás da gente na fila franze o cenho… e fica todo mundo com vontade de enfiar a cabeça debaixo da terra. E a criança lá, esperando uma resposta, que nosso cérebro terá que providenciar rapidamente -e  de forma objetiva – para que o filho não deixe de prestar atenção e pergunte de novo outro dia (numa situação semelhante a essa).
Educar, ensinar, conversar é delicado em muitos momentos. Porém, repreender é pior ainda. Ver a carinha do filho olhando pra gente, depois da bronca, é de cortar o coração. Mas é importante que ele conheça essa situação e a respeite, para conseguir desenvolver limites ao longo da vida. Não vale rir, segurar o riso ou amenizar a bronca no meio porque ficou com pena. É simples: fez algo errado e precisa ser repreendido, faça isso, do começo ao fim (sem parar, sem rir ou sem amenizar). Muitos dizem que não suportam ver o filho com medo dos próprios pais, mas é preciso lembrar que respeito e medo, na criança podem parecer iguais. Por isso, se você não a está espancando, se não está dando barraco em público e se está apenas repreendendo por algo errado, a feição de medo é, na verdade, respeito. A criança que tem medo mente, esconde, tenta enganar porque tem medo da reação dos pais (é um pouco diferente da carinha de bichinho abandonado que eles fazem). Isso vale para locais públicos, quando muita gente olha pra nós (pais) como se fôssemos monstros ao repreendermos o filho, já que ele está jogado no chão do Shopping enquanto chora (roxo) porque não quer tomar suco. Repreenda, de forma firme, olho-no-olho independente da senhorinha ao lado fazer uma expressão de reprovação por você não ter trocado o suco pelo sorvete.
Vale reforçar: o filho biológico não é diferente do adotado. Portanto, crie-os e eduque-os da mesma maneira. Não tem o menor sentido ver pais reféns dos filhos porque parecem estar “devendo” algo para eles. A relação estabelecida na base da culpa é nociva. É isso que vemos em escolas e família mais abastadas. Alunos que mandam na escola porque a mensalidade é tão cara que dá direito de fazerem o que bem entendem, ou filhos que abusam dos pais (sim, os filhos podem abusar dos pais!) ameaçando, gritando, surtando ou fazendo chantagem porque esses pais não sabem impor limites.
O filho precisa de limite, o filho demanda regra, porque somos nós que nos comprometemos a inserir essas pessoinhas no mundo. Se a gente não educa, não explica e não repreende (quando necessário), estamos criando crianças que se tornarão adultos parecidos com aqueles que a gente mesmo abomina e detesta tolerar no cotidiano. Vejo com frequência algum filho dominando seus pais e a expressão de desespero deles por não saberem como resolver o problema. Quase sempre essa conduta é definida pela culpa: “Ah, tadinho, fico tão pouco tempo com ele, não tenho coragem de dar uma bronca”; “Ah, ele foi adotado, sofreu muito, não posso fazer isso com ele”. É aí que o filho vai testar seus limites, não por ser uma criaturazinha má, mas por precisar desses limites e precisar (muito) se sentir seguro ao lado de seus pais. É fundamental um filho saber que está protegido por um pai ou mãe que vão fazer o que é justo, na hora que for, em nome de uma relação digna. Caso contrário, eles testarão, desafiarão e sofrerão mais quando crescerem, tendo que se adaptar a um mundo cheio de crianças-grandes sem limites.
O filho adotivo precisa e deve ser tratado igualmente. Não pode se sentir diferente, não quer se ver em situação especial, não requer mais presentes ou mais paciência. É um filho, como qualquer outro, que vai gostar (mesmo que anos depois) de saber que levou bronca quando fez coisa errada, que ficou de castigo quando não obedeceu, que perdeu o direito de ir ao cinema porque chilicou na fila. Aí sim, ele vai se sentir filho, aí sim vai se sentir parte do todo. E nós, como pais, poderemos garantir que alguém que estamos educando e adotamos com a alma poderá crescer com valores, com noção de limites, com respeito a quem se ama e, principalmente, com a capacidade de amar incondicionalmente as pessoas que a Vida colocou em nosso caminho.
Abraços a Todos :)
Kelma Mazziero
* Imagem: indyeahforever.wordpress.com

http://adocaodoladodeca.wordpress.com/2012/11/02/como-educar-um-filho-adotivo/ 

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